Em 1113, o sultão seljúcida da Pérsia e o califa de Bagdá empreenderam mais uma contra-cruzada. Dois exércitos turcos convergiram no sul do lago Tiberíades.
Balduíno I lançou um premente apelo aos príncipes francos. Mas, as devastações das bandas turcas tinham-no exasperado.
Ele não aguardou os outros príncipes. Apenas com 700 cavaleiros e 4.000 infantes caiu como um raio sobre os turcos em Sinn en-Nabra, a 20 de junho de 1113. Os turcos, porém, tinham montado uma emboscada que Balduíno I não percebeu.
Ele viu-se subitamente envolto pela cavalaria de elite turca esmagadora em número. Pegando a bandeira do reino nas próprias mãos ele lutou até o ultimo momento congregando os seus. No fim, deixou o campo de batalha com a maioria dos cavaleiros e se refugiou na cidade de Tiberíades.
Ali recebeu os reforços de Tancredo, príncipe de Antioquia, e Pons conde de Trípoli que chegaram com bela cavalaria.
Lealmente, o rei acusou-se diante deles pela sua falta, e depois reuniu o conselho. O exército franco foi reconstituído, mas a superioridade numérica turca ficava sempre imensa.
As bandas turcas e árabes começaram a saquear as aldeias vizinhas de Tiberíades.
Mas, Balduíno I, agora mais prudente teve a energia de não cair nas provocações. Após um mês o chefe turco compreendeu que tinha fracassado e empreendeu a retirada para Damasco.
Em 1115, o sultão da Pérsia enviou mais um exército numa nova contra-cruzada, desta vez sob o comando do emir de Boursouq, com ordens de reconquistar a Síria.
Mas os chefes francos voltaram a reafirmar sua unidade.
Vendo a formidável coesão cristã, os emires locais preferiram se unir a eles antes de que aos turcos. Boursouq percebeu que seria impossível romper esse frente.
Então, ele fingiu que tinha renunciado à empresa e se encaminhou para Djéziré.
A coalizão não desconfiou e cada um voltou para seu feudo.
Assim que os francos se dispersaram, Boursouq deu meia volta e invadiu a Síria.
Roger de Antioquia, sucessor de Tancredo correu às armas. Não havia mais tempo para aguardar pelo retorno do rei Balduíno I.
Apelou para os príncipes vizinhos e correu ao encontro dos turcos, dissimulando sua marcha pelo maciço florestado de Feiloun.
Roger enviou em missão de reconhecimento um dos seus melhores cavaleiros: Teodoro de Barneville.
Teodoro voltou quase se alastrando. Os turcos estavam muito perto, do outro lado do bosque montando suas tendas.
Gautier nos relata a alegria épica do exército católico normando quando soube da surpresa que se preparava.
Roger deu o sinal de montar:
“Em nome de nosso Deus, às armas, cavaleiros!”
A relíquia do Santo Lenho foi exposta aos esquadrões que partiam em tromba rumo a Tell-Danith naquela madrugada de 14 de setembro do ano do Senhor de 1115.
Roger galopava à testa do centro, Balduíno du Bourg, conde de Edessa, comandava a ala esquerda. Na direita ia a cavalaria indígena dos turcopoles, recrutados na Síria franca.
Toda essa cavalaria caiu em cima dos turcos como um furacão. De início, o acampamento turco desguarnecido foi conquistado num instante.
Logo a seguir, os francos lançaram-se sobre as divisões turcas que chegavam dispersas e foram pegas de surpresa.
Boursouq com 800 cavaleiros tentou reagrupar os seus no morro de Tell Danith, mas a elevação foi tomada de assalto por Balduíno du Bourg e ao chefe turco só restou fugir.
Boursouq morreu de desgosto voltando para Hamadã.
O reino turco-árabe de Alepo caiu logo sob o protetorado de Roger.
Esta brilhante vitória valeu ao príncipe de Antioquia um prestígio inaudito no mundo muçulmano.
Sob o nome de Sirodjal (Senhor Roger) ele iria se imortalizar na legenda muçulmana do mesmo modo que Ricardo Coração de Leão.
(Autor: René Grousset, “L’epopée des croisades”, Perrin, Paris, 2002, cap. IV)