Do livro Contraponto, de Aldous Huxley, que li há muitos anos por necessidade de estudos, uma cena ficou-me gravada na memória, por demonstrar a fina percepção psicológica do autor. Não recomendo o livro nem o autor, relato apenas a cena como ela se me apresenta ao espírito.
É um romance, em que um dos personagens é um libertino. Após experimentar todo tipo de prazeres sensuais, ficou deles saciado a tal ponto, que passou a procurar o grotesco. Já não mais buscava, como de início, as mulheres belas; deixara de sentir atração por elas e buscava no mundo tenebroso da prostituição aquelas que mais se haviam degradado moral e fisicamente, as mais feias, as mais repugnantes, as que causavam maior repulsa, pois só no sórdido encontrava algum prazer.
O personagem afundou-se depois, sucessivamente, nos vícios mais abjetos, até que um dia foi visto chicoteando umas belas flores. A deformação moral, que começara com uma sensualidade sem freios, termina com um ódio contra toda beleza, mesmo a beleza cândida e singela das flores de um jardim.
De modo semelhante, o barão de Charlus, personagem de Marcel Proust, fazia-se chicotear em espantosas cenas de masoquismo, para tentar arrancar à sua natureza torturada o prazer que não mais encontrava na sensualidade corrente, e muito menos na retidão de uma vida normal.
Mera ficção de romancistas, dirá alguém. Engano. Esse é o caminho que os vícios fazem percorrer. Nem todos chegam ao fim da rampa, mas ela desce até lá. Viciados na sensualidade ou em outras paixões, sempre insatisfeitos com o que conseguem, desejando sempre mais e mais, não há aberração que os detenha. Ao contrário da virtude, que ordena o espírito, é temperante, traz equilíbrio e paz de alma.
Lembro essas duas narrativas para pôr em realce um degrau ainda mais abaixo, ao qual os dois romancistas citados não quiseram descer em suas descrições. Mas hoje em dia, em que os horrores do mundo moderno superam qualquer ficção, convém tratar deles.
Quando uma pessoa se degrada ao último ponto, ela se torna semelhante ao demônio, na sua hediondez; como, a contrário sensu, a pessoa que chega ao mais alto da virtude, o santo, assemelha-se a Deus.
Assim, o viciado que desce até o fundo do poço do vício está pronto para o encontro com Satanás, e só se sente bem no convívio com ele. Simile simili gaudet (o semelhante se sente bem com o semelhante). Mas isto que vale para uma pessoa, vale para uma sociedade. É o que explica o satanismo que vai explicitamente invadindo o mundo moderno e encontra as portas abertas.
Diversas notícias nos chegam dos Estados Unidos relatando missas satânicas que se realizam, reivindicações satanistas para fazerem abertamente proselitismo nas escolas e outras coisas do gênero.(*) Ainda recentemente tivemos a realização de uma missa negra satânica em recinto oficial cedido pela prefeitura de Oklahoma City, nos Estados Unidos, o prédio do Oklahoma City Civic Center.
No Brasil, manifestações satânicas vão surgindo daqui e dali, e os adoradores do diabo já vão se preparando para reivindicar o status de liberdade religiosa. É para onde conduz a rampa dos vícios não combatidos e até oficializados.
Tal situação seria inconcebível numa sociedade autenticamente católica e virtuosa. Mas quando a sociedade se degrada, ela vê nas práticas satânicas um símile daquilo que ela mesma faz. E abre as portas.
A Virgem Imaculada, que esmaga a cabeça da serpente infernal, intervenha o quanto antes, como anunciado em Fátima, para pôr cobro a tal situação.
(*) Exemplos de atividades satânicas nos Estados Unidos: 1) http://ipco.org.br/ipco/guerra-espiritual-nos-eua-norte-americanos-se-manifestam-contra-missa-negra-satanica/ 2) http://ipco.org.br/ipco/catolicos-americanos-reagem-contra-tentativa-de-realizar-uma-missa-negra-satanica-na-universidade-de-harvard/#.V8dHf4-cEq0 3) http://ipco.org.br/ipco/56094-2/#.V8dH0Y-cEq0 4) http://ipco.org.br/ipco/56050-2/#.V8dH_Y-cEq0