InícioCIÊNCIA e FÉOs Milagres de Lourdes desafiam a ciência

Os Milagres de Lourdes desafiam a ciência

Os milagres incessantes de Lourdes confirmam: em meio à crise universal contemporânea são numerosas e palpáveis as intervenções de Maria Santíssima.

Apesar do combate movido à devoção a Nossa Senhora, fora e até dentro da Igreja, a Imaculada Conceição continua atraindo a si milhares de almas e desenvolvendo um plano de regeneração que conduz a espetacular desfecho.


A história das aparições de Nossa Senhora em Lourdes, cuja festa comemora-se no dia 11 do presente mês, bem como de milagres ocorridos sob essa invocação mariana, assim como a vida de Santa Bernadette, são bem conhecidos pelos leitores mais antigos de Catolicismo. Entretanto, foi lançado na França um livro que trouxe à luz aspectos pouco divulgados dessa grande devoção. Daí o interesse da presente matéria que, sob vários pontos de vista, constitui uma novidade.

Manifestando-se a Santa Bernadette em 1858, Nossa Senhora inaugurou uma série de aparições da maior importância, entre as quais se destacam as de La Salette e Fátima. Tais aparições formam como que um arco-íris que atinge o zênite na Cova da Iria. E onde Nossa Senhora pousou seus pés imaculados abriram-se fontes inesgotáveis de graças e de milagres, que hoje atraem milhões de peregrinos todos os anos.

Em Lourdes, Nossa Senhora fez um primeiro apelo maternal que depois renovou em Fátima, porém acenando com horizontes trágicos e misericordiosos caso suas palavras não fossem levadas a sério.

Continuidade entre Lourdes e Fátima

Santa Bernadette, pouco depois das aparições (fotógrafo anônimo)

Na oitava aparição a Santa Bernadette, em 25 de fevereiro de 1858, Nossa Senhora deu a conhecer a sua primeira mensagem: Penitência! Penitência! Penitência! Rogai a Deus pelos pecadores. Isto é, o mesmo apelo que viria fazer de modo mais premente aos três pastorinhos, em 1917.

Mas Nossa Senhora não ficou em palavras, e indicou a Santa Bernadette um modo de fazer essa penitência: ordenou-lhe beber da água da fonte e se lavar com ela. Mas a fonte não existia! Mais ainda, a Virgem Imaculada mandou-lhe comer ervas que cresciam espontaneamente no local! Dois absurdos, se considerados numa ótica puramente humana…

Santa Bernadette obedeceu. Percebendo ela um canto úmido, cavou com suas próprias mãos até sair uma água barrenta. Vencendo as naturais repugnâncias, bebeu dela e se “lavou”. Ainda mais, comeu da erva, para espanto dos presentes…

Foi assim que nasceu a fonte milagrosa de Lourdes!

Que lições tirar de fato tão paradoxal?

Contra o espírito de revolta igualitário, Nossa Senhora pede espírito de humildade

Santa Bernadette em oração diante da primeira imagem da gruta das aparições (1862)

Em 1858, a França estava sendo cada vez mais penetrada pelo espírito de orgulho e revolta da Revolução Francesa. Aceitar a superioridade de um outro pela virtude, pelas qualidades naturais, pelo berço, pela tradição, começava a ser visto como algo insuportável. Na metafísica igualitária anticristã, o cidadão livre não aceita ordens de ninguém e só faz o que quer. No máximo ele as aceita, de igual para igual, mas exigindo explicações para tudo, e nunca o faz em razão da virtude da obediência nem pelo reconhecimento das legítimas desigualdades postas por Deus nos homens.

Para esse espírito orgulhoso, o auge do revoltante é submeter-se ao que parece arbitrário, ainda que venha de um superior hierárquico instituído pela ordem natural, ou até do próprio Deus. Foi deste tipo a mortificação pedida por Nossa Senhora a Santa Bernadette: um ato de obediência arbitrário, sem explicações. Mas a pobre pastorinha compreendeu que de uma Senhora tão excelsa só poderia advir o bem. Obedeceu sem entender e cumpriu com simplicidade a penitência pedida.

Agora o mundo todo entende, e se beneficia daquele gesto de submissão humilde e fiel. Através dele, Nossa Senhora abriu uma torrente contínua de graças. E o convite a repetir o gesto penitencial de Santa Bernadette — incompreensível para a soberba igualitária — está estendido ao mundo todo: beber e se lavar com a água da fonte da gruta de Lourdes. Como sinal de contentamento, o Céu dispensa curas e graças especiais, em quantidades inesgotáveis, àqueles que praticam esse gesto penitencial que é inexplicável.

A Imaculada Conceição de Nossa Senhora

Imagem atual na gruta das aparições

Em Lourdes Nossa Senhora deu celestial confirmação ao dogma da Imaculada Conceição, que fora proclamado em 1854 pelo Bem-aventurado Papa Pio IX. O dogma estabelece uma superioridade absoluta da Santíssima Mãe de Deus, que jamais foi atingida nem sequer por sombra do pecado original desde o primeiro instante da sua concepção. Diferentemente dos demais mortais, que carregam a pesada herança de Eva.

Tal dogma colide frontalmente com o espírito igualitário da Revolução Francesa. Pois ele se baseia na falsa idéia de que os homens não são concebidos no pecado, mas, pelo contrário, seriam imaculados por natureza; e se têm falhas, é por causa do ambiente material em que nascem e vivem; ou seja: o homem é naturalmente bom, e a sociedade é que o corrompe. Então uma boa educação e muita informação através da mídia bastariam para corrigi-lo. Liberto de todo freio imposto pela sociedade, o homem espontaneamente diria e faria tudo certo, e ninguém poderia proibi-lo de agir de acordo com os próprios impulsos. Esse erro tão profundo está na essência do liberalismo.

O auge dessa suposta condição imaculada dos homens ocorreria quando eles exprimissem sua vontade coletivamente. Então o desejo das massas seria ainda mais isento de todo defeito. Nesta variante avançada do mesmo erro está a essência do socialismo e do comunismo. E o fruto extremo dele é o caos e a anarquia em que o mundo está afundando.

Contra tais erros — liberalismo, socialismo, comunismo, anarquia — lutou heroicamente e profeticamente o grande Papa Bem-aventurado Pio IX.

O ódio de Satanás e de seus sequazes igualitários contra Lourdes

Foto do corpo incorrupto de Santa Bernadette

Nessa perspectiva, a aparição de Nossa Senhora na gruta dos Pireneus tem um sentido profundamente contra-revolucionário. E é claro que a ira do demônio e seus sequazes haveria de se lançar com fúria contra Lourdes. Como de costume, agindo bem no seu estilo, isto é, ocultando as verdadeiras razões e procurando menosprezar, denegrir e, se possível, impedir o fluxo dos peregrinos.

Ainda não haviam terminado as aparições de Nossa Senhora, e já ocorriam milagres patentes. Mas igualmente a máquina difamatória estava em ação. O procurador de Lourdes, em relatórios, perguntava ao governo da capital como impedir os “extravios da imaginação” que mencionavam milagres na Gruta, ridicularizando as curas acontecidas (pp. 20-21). Num outro relatório ele denunciava a água de Lourdes por conter carbonato de cálcio (aliás, simples antiácido hoje utilizado pela medicina) e vituperava o descontrole dos “boatos” sobre curas (p. 49).

Clément Pailhasson, farmacêutico da cidade, espalhava que a água era “muito ruim”. O diretor da escola superior, Antoine Clarens, a apontava como causa de “graves perigos”; enquanto Jacomet, delegado de polícia, prevenia que era “malsã” (pp. 50-51).

Essas acusações não pegaram. Então o ataque mudou inteiramente. Pierre-Auguste Latour, farmacêutico de Trie, franco-maçom e conhecido inimigo dos milagres, emitiu um parecer cientificamente fraudulento. Segundo ele os milagres eram falsos. A explicação de todas as curas seria que a água continha excepcionais virtudes curativas! (p. 52). Mas muitas outras análises imparciais classificaram a água de Lourdes como simples “água potável, análoga à maioria das que se encontram nas montanhas onde o solo é rico em calcário”. Portanto, uma água comum que nem chega a ser mineral (pp. 54-55).

Vendo desmontada essa interpretação capciosa, o ódio das trevas excogitou outros ardis. O fim do século XIX estava impressionado com algumas descobertas pioneiras sobre radioatividade. O fato foi logo explorado: nada de fenômenos sobrenaturais, a “radioatividade” da água de Lourdes explica tudo!!!

“Explicações” do gênero foram repetidas, como num realejo, até no século XX. Sucessivas análises refutaram todas essas suposições mal fundadas ou maliciosas (pp. 55-56).

O realejo anticatólico passa a repetir difamações contra Santa Bernadette

Nascente da água na gruta das aparições

No século XIX generalizaram-se as doenças nervosas, como repercussão da industrialização e das megalópolis nascentes. E os primeiros vagidos da moderna psiquiatria revelaram toda uma coletânea de novas patologias, perturbações e desequilíbrios mentais.

No início das aparições, três médicos de Lourdes analisaram Santa Bernadette buscando pretexto para interná-la num asilo psiquiátrico. Nada conseguiram (pp. 64-65). Em 1872, o Dr. Voisin, médico do famoso hospital da Salpêtrière (Paris), em conferência sobre doenças psíquicas, apresentou Santa Bernadette como exemplo de alienada mental, de “criança alucinada”, “encerrada num convento das Ursulinas de Nevers”. O Bispo dessa cidade respondeu em carta pública, esclarecendo que Bernadette não estava nas Ursulinas, mas no convento das freiras da Caridade, e convidou o pouco informado psicólogo a constatar diretamente como ela era “uma pessoa de uma sabedoria pouco comum e de uma calma que ninguém consegue nem de perto imitar” (pp. 146-147). O Dr. Voisin sumiu…

A seguir, o Dr. Jean Martin Charcot, também da Salpêtrière, conhecido pelas suas teorias sobre as idéias fixas no inconsciente — tese desenvolvida depois por Freud — atribuiu os milagres de Lourdes a uma “fase de exaltação” físico-afetiva que produziria uma aliás enigmática “operação cerebral”. Tumores e feridas curadas miraculosamente seriam produtos da histeria. Concomitantemente o Dr. Bernheim, chefe da Escola de Nancy, desqualificava os mesmos milagres como artifícios da sugestão (p. 147). Estes opositores e suas teorias afundaram sob uma maré de críticas até de seus discípulos.

Em 1955, os Drs. Thérèse e Guy Valot publicaram uma rumorosa contestação intitulada “Lourdes e a ilusão terapêutica”. Segundo eles, tudo não passa de uma tríplice ilusão: 1) dos fiéis mergulhados na credulidade e na ignorância; 2) dos médicos viciados na parcialidade, nos erros de diagnóstico e na leitura incorreta dos resultados dos exames; 3) dos comerciantes, hoteleiros e autoridades locais que lucrariam com o “negócio”. O ataque foi amplamente refutado por teólogos e doutores (pp. 156-158).

Em 1957, nova investida, desta vez articulada nos caliginosos arraiais da parapsicologia. O Dr. West, dos EUA, estudou onze curas miraculosas. Com base numa só delas, julgou tratar-se de fenômeno histérico misturado com auto-sugestão inconsciente e tapeação médica (p. 160).

Contra Lourdes: literatos e filósofos céticos, socialistas e hereges modernistas

Peregrinos chegam à esplanada diante da Basílica

Os ataques procuraram assumir aparências científicas. Mas o espírito de orgulho apelou também para a literatura. Num escrito profundamente marcado pela impiedade e pela blasfêmia, intitulado Vida de Jesus, Ernest Renan, que abandonara a carreira eclesiástica, lançou exaltado desafio a quem ousasse apresentar um milagre qualquer. Logo — dizia — será convocada uma comissão de cientistas que analisará a ocorrência, repeti-la-á quantas vezes forem necessárias, e por fim demonstrará, com certeza, ser fato inteiramente explicável pela ciência, ficando esmagada para sempre a crença em intervenções sobrenaturais. Renan escreveu isto cinco anos após as aparições de Lourdes. Entretanto, as numerosas curas dariam cabal e insofismável desmentido ao exacerbado autor revolucionário (pp. 143-144).

Anatole France, Prêmio Nobel de Literatura, cobria de ironias toda espécie de religiosidade. Durante sua visita a Lourdes, mostraram-lhe a enorme quantidade de muletas penduradas na parede da Gruta. Torcendo o nariz, só soube dizer: “Mas não tem sequer uma perna de pau!” (pp. 144-145). Na realidade, o racionalismo igualitário e libertino, inspirador da Revolução Francesa, estava sofrendo duríssimos golpes em conseqüência dos prodígios ocorridos em Lourdes.

Chegou então a hora da zombaria lançada contra Lourdes pelo modernismo católico — heresia condenada pelo Papa São Pio X — antecessor direto do progressismo atual. O Pe. Alfred Loisy, professor do Instituto Católico de Paris, comparava as curas de Lourdes com as que — segundo ele — “aconteciam outrora nos templos de Esculápio”, deus pagão da medicina (p. 145). Loisy morreu excomungado em 1940. Seu infame intento de desprestigiar Lourdes não teve maior sucesso que a dos céticos Ernesto Renam e Anatole France.

Houve, porém, ofensivas mais subtis. Em 1894, o habilidoso romancista e político socialista Émile Zola deu a lume a sua novela Lourdes, fortemente sentimental, inverídica e anticatólica. Ela bem poderia servir de roteiro para as mais desavergonhadas novelas da TV de hoje. Pelo fato de achar que viu a Virgem, Bernadette é apresentada como uma “retardada de espírito e de corpo”, frustrada por não se realizar como mulher, esposa e mãe. Outros personagens entram em cena: um jovem sacerdote que perdeu a fé e duvida de tudo em Lourdes; algumas miraculadas ludibriadas, mistificadoras ou maníacas, médicos trapalhões e inescrupulosos explorando a ignorância popular etc. A novela passou de todas as medidas, e foi sepultada por um dilúvio de protestos (pp. 148-152).

Bureau Médico: constatação metódica do cientificamente inexplicável

Doentes em Lourdes (década de 50)

A ofensiva de críticas e calúnias forçou a criação de um setor médico para apurar a autenticidade das curas sobre bases estritamente científicas.

Para cortar o passo às más interpretações iniciais, em 28 de julho de 1858 — ou seja, doze dias após o fim das aparições — o bispo diocesano, D. Laurence, nomeara uma “comissão encarregada de constatar a autenticidade e a natureza dos fatos que têm acontecido… numa gruta no oeste da cidade de Lourdes” (p. 21). Foi o ponto de partida do atual Bureau Médico de Lourdes. Com ele, o espírito naturalista e de orgulho revolucionário haveria de sofrer outro revés. Pois o Bureau passou a constatar, com base em critérios muito rígidos, que o inexplicável naturalmente — o milagre — acontece para aqueles que apelam à graça da Virgem Santíssima, que esmaga sob seus pés o pai de todas as revoltas, Satanás.

O atual Bureau Médico de Lourdes apura, apenas do ponto de vista médico, se as curas alegadas pelos fiéis são explicáveis ou não pela ciência. Se não o são, o Bureau encaminha a conclusão do inquérito ao Bispo da diocese do miraculado. O Prelado então decide se reconhece oficialmente ou não o milagre.

As atribuições estão muito claramente definidas. O Bureau se pronuncia apenas do ponto de vista médico, jamais do ponto de vista religioso-sobrenatural. Por isso, não fala em milagre, mas em cura inexplicável pela ciência. Por sua vez, os Bispos não se pronunciam do ponto vista médico. Eles apenas proclamam que houve milagre, quando julgam isso oportuno.

Portanto, a constatação pelo Bureau, de cura que vai além de quanto a medicina conhece, é o primeiro e indispensável passo para o reconhecimento oficial do milagre.

Como funciona o Bureau

Peregrinos provenientes de vários países rezam diante da gruta das aparições

O Bureau Médico tem sede na própria cidade de Lourdes, e está sempre à disposição de quem se apresente. É composto por médicos de todas as especialidades, católicos ou não católicos. Qualquer médico presente pode assistir à verificação de cura que esteja sendo feita. O fiel que se julga beneficiado pode se apresentar lá. Nessa ocasião é elaborada uma ficha clínica do caso e feito um reconhecimento clínico.

Na momento de se apresentar ao Bureau, é fundamental que o interessado vá acompanhado da documentação que comprove o estado da doença antes da cura (resultados de exames, atestado médico sobre a natureza e gravidade da doença etc.). Milhares de casos não foram aceitos para estudo por carência desse tipo de documentação, apesar de parecerem verdadeiros milagres.

Quando o Bureau julga — à luz dos documentos e da análise in loco — que o caso tem características extraordinárias, o interessado é convidado a voltar dentro de um ano, para verificar se a cura é durável. Houve casos de fiéis agradecidos a Nossa Senhora que voltaram até vários anos consecutivos para atestar a cura definitiva. E quando os médicos do Bureau, após atento exame, se pronunciam pela inexplicabilidade da cura, todo o dossier é encaminhado a uma segunda instância: o Comitê Médico Internacional de Lourdes — CMIL.

O CMIL é inteiramente independente e nem sequer tem sede em Lourdes. Ele revisa todos os dados, pode proceder a novas investigações e análises, e até ao exame da pessoa curada, ou consultar especialistas alheios ao Comitê. Satisfeitas todas as exigências, os membros do Comitê devem responder a uma série de 16 perguntas, que não deixam margem a objeção alguma sobre a natureza da cura. Por fim, devem responder “sim” ou “não” à pergunta: “A cura constatada em ……. constitui, nas condições em que aconteceu ou se mantém, um fenômeno contrário às observações e às previsões da experiência médica, sendo cientificamente inexplicável?” (p. 32).

Caso pelo menos dois terços votem pelo sim, o dossier com o parecer final é encaminhado para o Bispo da diocese do miraculado, para eventual proclamação canônica. O processo todo costuma durar anos.

Os critérios do Bureau para elaborar suas conclusões

Peregrinos junto às bicas, colhendo água oriunda da fonte da gruta

Os critérios que orientam o Bureau Médico e o Comitê Internacional refletem em termos especializados os princípios estabelecidos pelo Cardeal Prospero Lambertini — posteriormente eleito Papa Bento XIV — num célebre tratado que regula até hoje os processos de beatificação e canonização:

1. que a doença seja grave, e impossível ou difícil de curar;

2. que a doença não esteja numa fase em que logo começa a declinar;

3. que não tenham sido tomados medicamentos, ou que estes não tenham

causado efeito;

4. que a cura seja súbita ou instantânea;

5. que a cura seja perfeita;

6. que a cura não seja precedida de uma “vazão” notável ou de uma crise;

7. que a doença não volte mais (p. 32).

Vendo todas estas apertadas exigências, compreende-se a certeza material — além da sobrenatural — que inspira cada proclamação canônica de um milagre. E compreende-se também a humilhação que ali sofrem os incrédulos corroídos pela metafísica naturalista e igualitária da Revolução. É a Imaculada Conceição esmagando perpetuamente a cabeça da Serpente infernal.

Peculiaridades dos milagres e conversão espiritual

Procissão noturna com velas na esplanada em frente da Basílica

De um modo geral, na hora do milagre os beneficiados percebem sensações físicas características. A mais citada é a “de um calor desacostumado que toma conta do corpo”. Freqüentemente os miraculados mencionam dores muito agudas, como Jeanne Gestas, que teve uma “sensação de que algo lhe era arrancado”.

Os milagres acontecem de modo imprevisível a pessoas de todas as idades e condições. Mas comumente é por ocasião do uso da água de Lourdes — bebendo-a ou banhando-se nela — ou em cerimônias litúrgicas tradicionais, como a bênção do Santíssimo Sacramento aos enfermos. A grande maioria dos milagres reconhecidos ocorreu em Lourdes, mas houve curas — também reconhecidas — em outros continentes, de pessoas que recorreram à água da Gruta.

Caso típico em Lourdes foi o de Thea Angele, jovem alemã atingida por arteriosclerose em placa, que chegou quase moribunda a Lourdes em 1950. O corpo repelia tudo que lhe davam. Ela subsistia com soro endovenoso, pesava 34 quilos, estava inconsciente e quadriplégica. Seu único movimento eram espasmos dos olhos e da mandíbula. Acreditou-se que morreria em plena viagem. Um sacerdote administrou-lhe a Extrema Unção, achando que ela já era cadáver.

Em Lourdes, após o quarto banho consecutivo, sorriu e falou pela primeira vez, dizendo: “Agora posso falar tudo, e estou com uma fome terrível”. E comeu com apetite. No dia seguinte foi levada ao Bureau Médico, onde a paralisia acabou de se dissipar diante dos médicos. No outro dia, após mais dois banhos, venceu a fraqueza e caminhou até a Capela do Asilo (pp. 126-127).

O milagre é acompanhado de uma conversão espiritual. Thea fez-se religiosa, como várias miraculadas. Mas outras, e numerosas, foram mães de famílias. Geralmente os miraculados atingiram grande longevidade, embora um tenha morrido com 44 anos num acidente (p. 129).

Muitos milagres e poucas proclamações: a crise da Igreja

Até 1998, 6.772 pessoas apresentaram-se no Bureau Médico. Por volta de 2000 casos foram julgados “inexplicáveis”. Mas só 66 foram reconhecidos pela Igreja, o último deles em 9 de fevereiro de 1999.

Tais cifras são como “a árvore que oculta a floresta que há por trás”, segundo um ditado francês. Com efeito, muitas pessoas não sabem que existe o Bureau e não se apresentam. Muitas outras não têm a documentação médica indispensável ou não podem voltar no ano seguinte. Um número ainda maior é objeto de curas, que os beneficiados têm certeza de serem sobrenaturais, mas as doenças não têm características ou proporções para serem apresentadas ao Bureau, como mau funcionamento de órgãos ou distúrbios neuro-vegetativos. Maior ainda é o número de males de tipo espiritual ou moral, casos que não são suscetíveis de análise médica. Ainda mais vasto é o leque dos favorecidos com graças que resolvem problemas de índole familiar, afetiva, profissional, econômica etc., que não entram no âmbito da medicina.

Pode-se perguntar: havendo dois mil casos certificados como inexplicáveis, por que apenas 66 foram reconhecidos pela Igreja?

Em 1862 — isto é, quatro anos após as aparições — foram proclamados sete milagres, mas depois houve silêncio até 1907. Esse período foi marcado por governos ateus ou anticlericais na Franca, e o Prof. Chiron julga que os Bispos deixaram-se levar pela “pusilanimidade” (p. 96). Tinham medo de “ofender” governos que impulsionavam a Revolução anticristã, se declarassem publicamente a veracidade dos milagres.

Tal situação cessou com São Pio X. Este Papa, consciente do dever contra-revolucionário de todo Vigário de Cristo, deu mais uma prova de sua prudência e determinação. Incitou corajosamente os Bispos franceses a reconhecerem os milagres, de preferência em cerimônia de grande aparato e edificação para os fiéis. Foi assim que entre 1907 e 1913 ocorreram 33 proclamações, a metade de todas as havidas em quase 150 anos de milagres.

Porém, com a morte do Pontífice santo, o “desinteresse dos Bispos” provocou um novo “silêncio da Igreja” (pp. 100-101). A omissão abrandou-se um pouco no fim do espantoso cortejo de catástrofes, com dezenas de milhões de mortes, da Segunda Guerra Mundial. A partir de 1946 houve reconhecimentos eclesiásticos, embora a conta-gotas. Mas cessaram em 1965, ano de encerramento do Concílio Vaticano II.

“Bom número de Bispos tem podido julgar as proclamações de milagres como `inaptas pastoralmente’, considerando o espírito dos tempos pós-conciliares”, conclui o Prof. Chiron (p. 107). Entretanto, merecem menção duas felizes exceções: uma em 1976 e outra em 1978. Depois, o deserto de proclamações continuou até 1999, quando o Bispo de Angoulême (França) reconheceu canonicamente o caráter autêntico de uma cura.

O autor manifesta o anelo de que este último reconhecimento feche esse silêncio incompreensível e abra nova era de proclamações. Porém ele observa uma tendência, entre altos eclesiásticos, de tratar a palavra milagre como se fosse proibida. Em seu lugar, utilizam-se fórmulas pouco claras para o comum dos fiéis (pp. 111-112).

Em Lourdes, novo e mal explicado tipo de curas: as “carismáticas”

Multidão de peregrinos diante da gruta das aparições

Nas últimas décadas, Lourdes vem lidando com uma nova situação. Não se trata mais de contradição. Um novo tipo de público, que se apresenta amigo de Lourdes, freqüenta o local e aprecia curas e fenômenos extraordinários de todos os tipos.

Simultaneamente, segue caminhos que seriam mais abundantemente miraculosos que os da Mãe de Deus em Lourdes, à qual, entretanto externam veneração. São curas ditas “carismáticas”. Apela esse público ao “batismo do Espírito” — termo aplicado de modo heterodoxo substituído por vezes pela expressão obscura “efusão do Espírito”. Nessas “curas” entra um “mediador”, que pela “imposição das mãos” ou gestos análogos operaria prodígios em massa.

O Prof. Chiron não entra na análise doutrinária do fenômeno, mas observa nele singularidades. A principal delas é a recusa dos “miraculados” carismáticos de se submeterem a exames que confirmem o prodígio, embora nas suas sessões seja usual que pessoas se declarem “miraculadas” na hora. Não há estatísticas confiáveis de tais “curas”, apenas afirmações dos responsáveis. Segundo eles, teriam acontecido dezenas de milhares, nem sempre casos identificados nem instantâneos, mas longos processos de cura com freqüentes recaídas.

“Vê-se — escreve o Prof. Chiron — a diferença fundamental entre estas curas e as curas reconhecidas como miraculosas pela Igreja. Pelo menos dois dos critérios tradicionais, definidos por Bento XIV e adotados pelas instâncias médicas de Lourdes, não se encontram na maioria das curas acontecidas no ambiente carismático: o caráter súbito e o caráter permanente” (p. 196).

Entre os anos 1972-1990, três curas carismáticas foram apresentadas ao Bureau Médico de Lourdes. Mas nenhuma delas foi aceita, porque refletiam “muito mais uma reação subjetiva do que uma realidade clínica ou biológica”, segundo o Dr. Théodore Mangiapan, presidente do Bureau. Até agora nenhuma cura “carismática” foi reconhecida de acordo com os critérios acima expostos.

Nos meios carismáticos evita-se a palavra milagre. Os argumentos são variados: “para não magoar os teólogos”, diz o Pe. Tardif, expoente da Renovação Carismática. Aline Linotte, filósofa e teóloga carismática, atribui as curas não tanto a Deus quanto às qualidades humanas de certos homens ou mulheres, capazes de inspirar uma sensação de confiança naquele que vai ser curado. Em outros termos, um fenômeno mais subjetivo e natural do que objetivo e sobrenatural.

O Prof. Chiron também observa que o movimento carismático não se interessa e até é hostil à instalação de uma instância médica que verifique as curas aduzidas, contrariamente àquilo que se faz em Lourdes. O Pe. Tardif argumenta, de modo pouco convincente, que há tantas curas que os médicos examinadores ficariam sem tempo para tratar dos seus pacientes…

Analisando os métodos empregados nas sessões de cura carismática, o Prof. Chiron julga tratar-se mais de uma psicoterapia em meio a orações, cânticos e imposições de mãos. “Nós não temos nenhuma prova evidente de que a única explicação da cura seja a ação direta de Deus” (p. 200), reconheceu Michael Scanlam, um dos praticantes dessas curas. Portanto, bem o oposto do verificado nos comprovados milagres de Lourdes proclamados pela Hierarquia Eclesiástica. Scanlam não explica o que há a mais nessas curas que não seja a ação de Deus.

O Centro do Cenáculo de Cacouna, dirigido pelo Pe. Emile Lebel e a irmã Yolanda Bouchard, gloria-se de um sucesso de curas na ordem de 98%, cifra que deixa a medicina sem ter quase o que fazer. Mas, na realidade, trata-se de impactos psicológicos que colateralmente podem trazer alguma repercussão física (p. 200).

Lourdes, pólo de esperança e de vitória sobre a Revolução

Malgrado todas as oposições, a devoção a Nossa Senhora de Lourdes só fez progredir nos últimos séculos. Hoje é, de longe, o santuário mariano mais freqüentado da França e um dos mais visitados do mundo. Milhões de fiéis vindos de todos os continentes ali afluem todos os anos. E com freqüência, no universo católico, encontram-se capelas ou grutas consagradas a Nossa Senhora de Lourdes.

O Prof. Chiron observa que, mesmo nestes anos de crise que vêm abalando a Igreja, em Lourdes “foram conservadas, de maneira ininterrupta, práticas religiosas desaparecidas em numerosas paróquias, ou até em dioceses: a recitação do terço, as procissões, a adoração e procissão do Santíssimo Sacramento” (p. 204).

Em Lourdes, a Virgem Imaculada que esmaga perpetuamente a cabeça da serpente infernal está continuamente nos acenando para a vitória sobre o orgulho revolucionário. Promessa de vitória que Ela mesma veio renovar em Fátima, anunciando o triunfo do seu Imaculado Coração. E isto após tremendas peripécias que poderão deixar o mundo num estado que lembrará uma cidade devastada, mas no qual o manto da misericórdia divina se estende sobre as almas penitentes e felizmente convertidas.

Nessas circunstâncias, quaisquer que sejam, Lourdes será sempre pólo de luz, de esperança, de conforto e de prêmio para os que a ela se voltarem, nas condições que Nossa Senhora pediu a Santa Bernadette na admirável e miraculosa Gruta.

Nos primórdios de Lourdes

Um misterioso desígnio paira sobre os locais que Deus reserva para grandes acontecimentos futuros. Lourdes é um deles. Poucos se lembram de que no século VIII ela era uma cidadela maometana e tinha por emir um certo Mirat, feroz seguidor de Maomé.

Em 778, Carlos Magno sitiou a fortaleza. O sarraceno resistiu-lhe, e em pleno assédio enviou ao grande Carlos um enorme peixe, prova da sua capacidade para suportar o sítio. Segundo a saga, uma águia largara o peixe na praça do castelo.

À vista do peixe, e premido por outras frentes de batalha, Carlos decidira levantar o sítio. Mas Turpin, Arcebispo de Puy-en-Velay, apresentou-se de mitra e báculo, armado de couraça e espada, ante o orgulhoso Mirat. Increpou-o por sua simulação e intimou-o à rendição. O sarraceno respondeu que jurara por Alá jamais entregar suas armas a outro combatente.

O Arcebispo propôs-lhe, então, capitular aos pés de uma bela dama cheia de bondade, rainha do Céu, à qual até o grande Carlos obedecia: Nossa Senhora. E o milagre moral operou-se: o muçulmano tornou-se cristão. Foi batizado como Lours, de onde provém o nome Lourdes. Entregou suas armas no santuário de Nossa Senhora de Puy-en-Velay e guardou o restante da sua vida o comando da fortaleza — um dos primeiros feudos pessoais da Santíssima Virgem.

Em lembrança do fato, hoje o brasão de Lourdes ostenta uma águia dourada com um peixe prateado no bico.

Lição maravilhosa para nossa época ameaçada pelo Islã.

O livro Enquête sobre os milagres de Lourdes tem por autor Yves Chiron, professor de História e membro da Associação Médica Internacional de Lourdes —AMIL. Chiron publicou numerosas obras sobre as idéias religiosas, políticas e sociais na história francesa e contemporânea, editadas também em inglês, italiano e espanhol.

Neste livro o autor focaliza a problemática do reconhecimento médico e canônico dos milagres de Lourdes, numa perspectiva histórica.

*Yves Chiron, Enquête sur les miracles de Lourdes, Librairie Académique Perrin, Paris, 2000, 215 pp.

 

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7 COMENTÁRIOS

  1. Sobre a questão dos milagres como os de Lourdes é muito simples: se são falsos é estelionato e vocês todos deviam estar na cadeia.

    Se são verdadeiros, o que ainda estão esperando que eu deveria ver todos os dias desde que nasci (pois este milagre de Lourdes, por exemplo, foi no século XIX!) multidões de católicos – a começar pelos dirigentes – 24 horas por dia nas igrejas e não nos hospitais?

    Não para obter curas mas para estancar a chuva de almas que caem no inferno todos os dias por morrerem em pecado mortal, e também as lágrimas sangrentas da Mãe de Deus por este motivo e pelas ofensas que Ela recebe todos os dias inclusive de vocês mesmos e de mim.

    Fim da questão.

  2. por favor resar pelo nome de Greice minha irma amada e querida por todos que a conece que ela melhore e saia do hospital bem com muita saúde amem

  3. Que linda Maria,A mais linda de todas as mulheres,Rainha do céu e da terra eu creio sempre nas vindas de Maria aqui na terra,pois guando tinha sete anos eu a vi linda que a hoje eu a lembro eu uma outa menina também,mais hoje depois 40 anos eu sempre peso perdão a Deus pelos meus pecados e de minha família pois estamos sempre pecando contra Deus perdoai me Senhor de todos os meus pecados ,O Virgem Maria levai o meu perdão ate Jesus obrigada Mãezinha amem…

  4. Gostei muito desse site, mas gostaria de perguntar: Existe algum caso de ressurreição no meio catolico? ou seja, de alguem que estava morto e viveu de novo?

    Se puderem me informar, eu agradeço. A paz de Cristo

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