InícioHISTÓRIA DA IGREJAConstantino I, o Grande

Constantino I, o Grande

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Cabeça de Constantino, o Grande — Escultura em mármore

Flávio Valério Constantino nasceu em Naissus (hoje Nisch, na Sérvia) cerca de 273 d.C., filho de Constâncio Cloro, oficial do exército romano declarado César (1) e depois Imperador, e de Flávia Helena (Santa Helena), mulher de origem humilde, mas de notável caráter e grande habilidade.

Constantino foi para a corte do Imperador Diocleciano, onde recebeu formação política e militar. Era também dado às letras e ao trato com os sábios. Depois da abdicação de Diocleciano e Maximiano, Galério e Constâncio tornaram-se os novos Augustos. O primeiro, vendo no fogoso Constantino um possível rival, passou a encarregá-lo das mais perigosas missões militares, para levá-lo assim à morte. Este, entretanto, hábil general, de tudo saiu ileso. Conseguiu iludir Galério e juntar-se ao pai, que, percebendo que a morte lhe estava próxima, reclamava-o junto a si.

Com o pai, Constantino fez algumas campanhas vitoriosas. À morte deste, em 306, foi aclamado Augusto pelas tropas.

Isso vinha quebrar o sistema de tetrarquia (quatro imperadores: dois Augustos e dois Césares) instaurado por Diocleciano, pois Galério já havia nomeado Césares a Severo e Maximino. E, para piorar a situação, Maxêncio, filho do ex-imperador Maximiano, proclamara-se também Augusto com o apoio do exército de Roma.

Enquanto os outros imperadores brigavam entre si, Constantino permaneceu tranqüilo em suas províncias. Em 307 casou-se com Fausta, filha de Maximiano. Ele demonstrou sempre um grande amor e respeito para com sua mãe, Santa Helena. Elevado ao trono imperial, chamou-a para a corte, conferindo-lhe o título de Augusta e ordenando que lhe fosse prestado o respeito devido à mãe do imperador. Fez até cunhar moedas com sua efígie e abriu a largueza de seus tesouros para suas obras de caridade.

Entretanto, na luta pelo poder a situação ficou caótica, com cinco Augustos e um César ao mesmo tempo. Iniciou-se assim uma guerra civil que duraria 18 anos, cada imperador querendo derrubar os demais.

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Estátua de Santa Helena

“Com este sinal vencerás”

Sucedeu então que Maxêncio, terrível tirano, querendo tornar-se o único imperador do Ocidente, invadiu os Estados de Constantino. Embora suas tropas fossem quase a metade das do seu rival, mesmo unindo-se às de Licínio, o filho de Santa Helena foi-lhe ao encontro. Segundo seus biógrafos e contemporâneos Eusébio e Lactâncio, na véspera da batalha ele teve uma visão ou um sonho em que viu no céu uma cruz com as palavras “com este sinal vencerás”. Fez colocar nos escudos de seus guerreiros o monograma de Cristo e confeccionar um lábaro com a cruz, para dele servir-se nos combates. Deu-se então a célebre batalha da Ponte Mílvia, perto de Roma, em 312, na qual Constantino derrotou seu rival, que morreu afogado na fuga.

Reconhecido como Imperador de todo o Ocidente, Constantino dividia o Império com outros dois no Oriente, Licínio e Maximino Daya. Constantino aliou-se a Licínio, dando-lhe sua irmã por esposa, e este derrotou Maximino, ficando assim único imperador do Oriente.

O Edito de Milão

Para mostrar pública e solenemente a mudança de política com relação aos até então perseguidos cristãos, em 313 Constantino convenceu Licínio, que continuava pagão, a promulgar em Milão um edito concedendo liberdade religiosa em todo o Império, tanto no Ocidente quanto no Oriente. Com isto o cristianismo, até então selvagemente perseguido, foi posto em absoluta igualdade com a religião pagã do Estado.

A par do Edito de Milão, esse Imperador tomou uma série de disposições práticas para concretização do princípio de igualdade e tolerância religiosa. Os cristãos tiveram de volta igrejas, cemitérios e outros bens que lhes haviam sido confiscados. E o próprio Constantino mandou construir diversas igrejas, sob o pretexto de que muitas haviam sido demolidas. Concedeu ainda importantes privilégios aos membros do Clero.

Constantino, único Imperador

Em 314 Licínio, que continuava pagão, traiu Constantino, que embora não tivesse recebido o batismo, passara a ser cristão de coração. Constantino derrotou Licínio, ficando com a maior parte de suas possessões na Europa.

Três anos mais tarde o Imperador do Ocidente outorgou aos seus dois filhos maiores, Crispo e Constantino, e a seu sobrinho Licínio, o título de Césares.

O Augusto Licínio, entretanto, não suportava ver a pujança que a Igreja estava tendo no Oriente, e desencadeou sobre ela nova e cruenta perseguição que estendeu-se por 10 anos. O que obrigou Constantino, já catecúmeno e querendo preservar a paz religiosa no Império, a mover-lhe guerra, derrotando-o em 323; um ano mais tarde fê-lo executar, acusando-o de alta traição. Assim restabeleceu-se a unidade do Império.

Constantino instaurou então a sucessão dinástica. Empreendeu várias reformas administrativas, promovendo o bem-estar moral, político e econômico de seus súditos. Combateu o adultério, o concubinato, o rapto e a prostituição; proibiu os judeus de lapidar seus adeptos que queriam fazer-se cristãos; proibiu que a cruz fosse instrumento de suplício, por ter sido exaltada por Nosso Senhor; melhorou a sorte dos escravos e tomou medidas efetivas contra o paganismo, começando por proibir todos os cultos que tinham práticas imorais. Ele teve que enfrentar um doloroso caso doméstico, e fez mesmo matar seu filho, acusado de conspiração e imoralidade. E quando sua mãe, Santa Helena, mostrou-lhe que a verdadeira culpada era sua segunda esposa, Fausta, que muitos acusavam de imoral, ordenou também sua execução.

Isto tudo provocou-lhe a antipatia de largos setores pagãos da capital do Império, Roma, que o recebeu friamente após 10 anos de ausência em batalhas. Por isso ele resolveu mudar a capital para outra cidade. Como havia sido muito aclamado no Oriente, escolheu Bizâncio, no Bósforo, trocando-lhe o nome para Constantinopla. Fez de tudo para engrandecê-la e embelezá-la.

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Batalha entre Constantino e Maxêncio

Favorecimento dos cristãos

A conversão de Constantino não foi instantânea. Embora continuasse com algumas práticas pagãs ao lado do seu cristianismo, depois que se tornou o único Imperador ele favoreceu ainda mais a Religião cristã. Foi colocando nos postos de maior confiança os cristãos, fez educar cristãmente seus filhos, e desde 313 tomou para conselheiro o eminente Bispo Ósio de Córdoba, a quem confiou a execução de suas disposições religiosas.

Coube a Constantino mandar reformar o palácio de Latrão, antiga moradia da Imperatriz Fausta, e doá-la como residência aos Papas. Mandou construir também a Basílica de São Pedro e as de São Paulo e São Lourenço extra muros.

Combate às heresias

Apesar de seus defeitos, os historiadores reconhecem que Constantino foi um homem providencial para a Igreja. E o foi inclusive no combate às heresias.

Sua primeira intervenção nesse campo foi contra o donatismo, heresia rigorista que surgira no norte da África. Constantino reuniu um sínodo em Roma sob a presidência do Papa Milcíades, que condenou os donatistas. O Concílio de Arles, nas Gálias, em 314, renovou essa condenação.

Outra funesta heresia na época foi o arianismo, surgido também no norte da África. Seu promotor, Ario, fora excomungado por um sínodo de 100 Bispos em 321. Constantino tudo fez para acabar com esse cisma, convocando o primeiro concílio ecumênico em Nicéia, no ano 325, que condenou o arianismo. Mas acabou depois deixando-se seduzir por essa seita, sob a influência de seu grande amigo Eusébio de Cesaréia.

Com a ajuda de Constância, sua irmã, Constantino obtivera que se levantasse o desterro de Ario e de Eusébio de Nicomédia. Este pôde assim reorganizar seu partido e entrar em luta mais aguerrida contra Santo Atanásio, principal baluarte da ortodoxia. Os hereges conseguiram iludir o Imperador, que condenou o Santo. Atribuindo-se ilegitimamente o papel de árbitro em matéria exclusivamente religiosa, Constantino acabou favorecendo esses hereges até o fim de sua vida.

A par disso, aproximadamente nessa época, por iniciativa e impulso de Santa Helena, descobriram-se em Jerusalém a verdadeira cruz de Nosso Senhor e o sepulcro de Cristo; e em Belém o lugar do nascimento do Salvador. Constantino mandou construir magnífica basílica no lugar do Santo Sepulcro, outra no Horto das Oliveiras e uma terceira em Belém, o que fomentou muito as peregrinações aos Lugares Santos.

No ano 337, Constantino fez celebrar com toda solenidade a Páscoa em Constantinopla. Retirou-se depois para sua vila imperial de Anciron, perto de Nicomédia. Sentindo faltar-lhe as forças, mandou chamar rapidamente o bispo mais próximo, que não foi outro senão Eusébio de Nicomédia, um dos maiores protetores do arianismo. De suas mãos recebeu o válido batismo, apresentando-se pouco depois diante do tribunal do Supremo Juiz.

O julgamento da posteridade

“O juízo que se deve formar sobre Constantino é, no conjunto, favorável. Politicamente foi um grande homem de Estado … Para a Igreja católica, Constantino foi verdadeiramente magnânimo e, mais ainda, foi o homem providencial que pôs termo de uma vez às lutas seculares com o Império Romano e a favoreceu da maneira mais eficaz. Certamente Constantino teve defeitos capitais. … Por sua intromissão em assuntos religiosos, o Imperador acabou causando danos irreparáveis à Igreja, inclinando-se em seus últimos anos em favor da heresia ariana.

“Não obstante isto, os serviços incomparáveis que prestou ao cristianismo contrapesam superabundantemente estas deficiências, pelo que merecidamente recebeu o qualificativo de Grande; pois, com efeito, foi grande como Imperador e como protetor do cristianismo” 2.

Notas:

1.Tanto César quanto Augusto foram títulos que os imperadores romanos usaram a partir de determinada época. Augusto, que significa venerável, foi um título conferido pelo Senado Romano a Otaviano no ano 27, e que foi preservado pelos imperadores posteriores. Já César, que era cognome de Caio Júlio Cesar, foi adotado também por Otaviano e pelos imperadores que se lhe seguiram. Os Augustos eram os imperadores principais, e os Césares imperadores secundários.

2.Bernardino Llorca S.J., op. cit., p. 398.

Bibliografia:

— The Catholic Encyclopedia, vol. IV, verbete Constantine the Great, Charles G. Herbermann & Georg Grupp, transcribed by Rick McCarty, Online Edition by Kevin Knight, 1999.

— Idem, verbete St. Helena, J.P. Kirch.

— Universidad de Zaragoza, Historia Antigua, I Ciclo, Prof. Dr. G. Fatás, Sobre los primeros cristianos: evolución del primer cristianismo, página web.

— Cardeal Hergenroether, Historia de la Iglesia, na Biblioteca Teológica del Siglo XIX, Biblioteca de la Ciência Cristiana, Madrid, 1883, tomo I, pp. 240 e ss.

— Pe. Berault-Bercastel, Baron Henrion, Historia General de la Iglesia, Imprenta de Pons y Ca., Barcelona, tomo I, 1852, pp. 310 e ss.

— Bernardino Llorca, SJ, História de la Iglesia Católica, B.A.C., Madrid, 1986, pp. 370 e ss.

— La Grande Encyclopédie, Société Anonyme de la Grande Encyclopédie, Paris, tomo XII, verbeteConstantin, pp. 578 e ss.

— Gran Enciclopedia Rialp, Ediciones Rialp S. A., Madrid, 1972, tomo VI, verbete Constantino I, El Grande, pp. 309 e ss.

— Dicionário Enciclopédico Hispano-Americano, Montaner Y Simón, Editores, Barcelona, 1890, tomo V, verbete Constantino.

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