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A Paixão segundo o Santo Sudário

Voltar ao tema? Por quê?

Raciocinamos com Santo Afonso: “Se alguém tivesse padecido por um amigo injúrias e maus tratos, e logo soubesse que o amigo, ao ouvir falar do sucedido, não quisesse recordar-se; e, quando o recordassem, dissesse: `Falemos de outra coisa!’, que dor sentiria aquele ao ver o olvido do ingrato! Pelo contrário, que consolo experimentaria ao certificar-se de que o amigo afirma testemunhar-lhe eterna gratidão, e que sempre o recordava falando dele com ternura e soluços! Por isso é que todos os Santos, conhecedores do prazer que proporciona a Jesus Cristo o evocar amiúde sua Paixão, se têm preocupado em meditar quase de contínuo as dores e desprezos que padeceu o amabilíssimo Redentor durante sua vida e especialmente na morte”1.

Meditar na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo foi sempre e continua sendo uma das fontes mais ricas para o progresso espiritual e santificação.

Entretanto, para nós, homens do século XXI, isso se torna cada vez mais difícil, principalmente por nossa tibieza, mas também porque fomos deformados pela “civilização da imagem” a expressão é de Paulo VI. Deformação essa que nos torna difícil a abstração.

cientistas examinam a parte posterior do Sudário, não conseguindo perceber nenhum vestígio da figura no avesso do tecido

Terá sido para nos amparar nessa fragilidade que a Providência Divina reservou exatamente para nossa época a descoberta do tesouro que se encontra no Santo Sudário de Turim? Pois foi só com o desenvolvimento da ciência e dos mais sofisticados equipamentos modernos que se descobriram as maravilhas nele encerradas, como as marcas da coroa de espinhos, da flagelação, da lançada, e até de sinais que se pode supor terem sido impressos pela ressurreição de Nosso Senhor.

Cientistas que pesquisaram longamente essa sagrada relíquia afirmam que o Santo Sudário é mais completo e minucioso, no narrar a Paixão de Cristo, do que os próprios Evangelhos. E que “nada, em todas as descobertas da `turma do Sudário’, em três anos [de pesquisas e análises], continha uma única informação que contestasse as narrativas dos Evangelhos”.2 Por isso alguns chegaram a qualificar o Santo Sudário como o “5º Evangelho” ou o “Evangelho para o século XX”.

O eminente católico e competente cirurgião e escritor francês, Dr. Pierre Barbet, ponderou em um de seus livros sobre o Sudário: “Um cirurgião [no nosso caso, qualquer leitor] que já tenha meditado sobre os sofrimentos da Paixão, …. que já se tenha aplicado a reconstituir metodicamente todas as etapas desse martírio de uma noite e de um dia, poderá, melhor que o pregador mais eloqüente, melhor que o mais santo dos ascetas (deixando de lado os que disso tiveram diretas visões, e esses se aniquilavam com elas), compadecer, isto é, padecer com os sofrimentos de Cristo”.3

É o que vamos fazer, com base em depoimentos de cirurgiões, cientistas e especialistas que analisaram o Sudário, seguindo passo a passo a Paixão de Cristo como nos narram os Evangelhos e a Tradição, e como aparece no Santo Sudário.

Oração no Horto

“Ele [Jesus] entrou em agonia, e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra” (Lc 22, 44).

“Notemos que o único evangelista que relata o fato é um médico [São Lucas], e o faz com a precisão e a concisão de um clínico. A hematidrose [excreção de suor sanguinolento] é fenômeno raro, mas bem descrito. Aparece, segundo o Dr. Le Bec, `em condições completamente especiais: uma grande debilidade física, acompanhada de um abalo moral, seguido de profunda emoção e de grande medo’. …. O medo, o terror e o abalo moral estão aqui no auge. É o que Lucas exprime por `agonia’, que em grego significa luta, ansiedade, angústia. …. Uma vasodilatação intensa de capilares subcutâneos, que se rompem em contato com a base de milhões de glândulas sudoríparas. O sangue se mistura ao suor e se coagula na pele após a exsudação. É esta mistura de suor e de coágulos que se reúne e escorre por todo o corpo em quantidade suficiente para cair por terra”.4

O Prof. Giovanni Tamburelli, analisando a foto tridimensional da face da figura do Santo Sudário por meio de um computador, verificou, além de inumeráveis escorrimentos e pequenos coágulos de sangue que o marcam, que parece estar todo borrado de sangue, como deveria ter ficado o rosto de Nosso Senhor no momento da agonia no Horto das Oliveiras.5

A bofetada em casa de Anás

“Um dos guardas presentes deu uma bofetada em Jesus, dizendo: ‘É assim que respondes ao sumo sacerdote?’” (Jo 18, 18,22).

Os cientistas, analisando o Sudário, constataram que, no lado direito da face que ali aparece, há uma grande contusão, e a cartilagem do nariz está rompida e desviada para a direita.

Explica o Dr. Judica Cordiglia que a ruptura da cartilagem do nariz e o subseqüente desvio nasal que se observam no Sudário se devem a uma pancada infligida por um pedaço de pau curto, cilíndrico, de 4 a 5cm de diâmetro.6 Isso provocaria uma abundante saída de sangue, o que se constata no Sudário pelo fato de o bigode estar impregnado de sangue, que desce do nariz perdendo-se na barba.7

Ora, especialistas em lingüística opinam que a palavra utilizada por São João para “bofetada” pode ser traduzida por “bastonada”. O que estaria conforme com as conclusões a que chegaram os cientistas que examinaram o Sudário.8

Injúrias e maus tratos 

“E começaram a saudá-Lo: ‘Salve, rei dos judeus!’ Davam-Lhe na cabeça com uma vara, cuspiam nele e punham-se de joelhos como para homenageá-Lo” (Mc 15, 18-19).

Com os avançados aparelhos modernos, podem-se perceber na figura do Santo Sudário “inchaços em diferentes partes do rosto e um enorme escarro que desce da ponta interna do olho direito até a parte inferior do nariz”.9 Este “está deformado por uma ruptura da cartilagem dorsal, bem perto de sua inserção no osso nasal, que ficou intato”.10 Também “nas regiões que circundam os olhos e as sobrancelhas, há chagas e contusões iguais às que produziriam socos ou bastonadas. A sobrancelha direita está claramente inflamada”.11

“Sobre o rosto se encontram escoriações um pouco por toda parte, mas sobretudo do lado direito, que está também deformado como se, sob as esfoladuras sangrentas, houvesse também hematomas. As duas arcadas superciliares apresentam aquelas chagas contusas, que tão bem conhecemos, e que se fazem de dentro para fora, sob a influência de um soco ou paulada; os ossos da arcada cortam a pele pelo lado interno”.12

“A face direita está notavelmente inchada…. É um inchaço que se estende e aumenta no sulco entre o nariz, a face e os lábios”.13

“Portanto, temos diante de nós um rosto que foi profundamente maltratado com golpes de bastão, socos, tapas, bofetadas, cusparadas, puxões na barba”.14

Em suma, conclui o professor Giovanni Tamburelli analisando a fotografia tridimensional do Sudário: “O rosto acaba se mostrando coberto de uma angustiante máscara de sangue, à vista da qual parece incrivelmente cruel o sofrimento do Homem do Sudário. É algo perturbador”.15

A Flagelação

“Pilatos mandou então flagelar a Jesus” (Jo 19, 1).

“O Sudário nos dá um quadro muito mais completo, preciso e horrendo da flagelação: mais de 120 golpes ternários, infligidos por dois homens fortes, um mais alto que o outro, peritos em seu ofício; um de cada lado do réu, lhe cobrem metodicamente com seus golpes toda a superfície do corpo …. com exceção da parte do peito sobre o coração, sem poupar nenhum espaço”.16

Ao longo de todo o corpo, especialmente nas costas, podem ver-se marcas idênticas às que deixaria o instrumento que os romanos utilizavam para flagelar um réu (o flagellum taxillatum, composto de três ramais terminados em pequenas bolas de metal com relevos e unidas entre si por um arame). Esse objeto não era utilizado na Idade Média, e só se conhece em nossos dias depois de ter sido encontrado em escavações arqueológicas. Cada golpe arrancava a pele provocando pequenos escorrimentos de sangue.17

Estudando a direção desses escorrimentos e a direção dos golpes, foi possível deduzir a posição encurvada em que Jesus se encontrava sobre uma coluna baixa para a flagelação. O Prof. Pier Luigi Bollone pôde contar mais de 600 contusões e feridas em todo o corpo do Homem do Sudário, e 120 marcas de açoite.18

“Os milhões de microscópicas hemorragias intradérmicas, próprias da hematidrose ou suor de sangue, surgem em toda a pele do corpo, que fica assim `toda machucada, dolorida e bastante sensível aos golpes’. Portanto, não se deve estranhar que aqueles brutais açoites tenham aberto e arrancado a pele com efusão de sangue a cada golpe.

“As chagas da flagelação têm um realismo, uma abundância, uma tal conformidade aos dados arqueológicos, que ficam em notável contraste com as pobres imaginações dos pintores de todos os tempos”.19

A coroação de espinhos

“Os soldados teceram de espinhos uma coroa e puseram-lha sobre a cabeça, e cobriram-no com um manto de púrpura” (Jo 19, 2).

No Sudário “a cabeça mostra mais de 50 feridas pequenas e profundas que evidenciam a aplicação de uma coroa de espinhos. As manchas maiores coincidem exatamente com locais onde estariam as veias e artérias reais, quando na Idade Média se desconhecia a circulação do sangue”20.

E disso “o Santo Sudário não dá margem a dúvidas. Deixa supor claramente uma coroa em forma de capacete que cobria toda a cabeça do homem, da fronte até a nuca”21.

“Nesta região da cabeça, cheia de terminações nervosas e grande quantidade de vasos sangüíneos, a dor produzida pela coroa, carregada na cruz, e portanto cravando-se a cada movimento, certamente era insuportável”22.

Nota-se no Sudário, no lado direito da fronte do supliciado, um grosso fluxo de sangue bastante espesso na forma do número “3”. “Sabe-se que nesta região, em muitas pessoas, existe uma veia bastante calibrosa e que, aos grandes esforços, se torna bastante dilatada. Um dos espinhos terá perfurado esta veia e estudos geométricos e anatômicos confirmam esta assertiva causando um sangramento constante, mesmo após a retirada do objeto que produziu o ferimento”23.

“As hemorragias da coroa de espinhos e os coágulos por elas formados são de uma veracidade inimaginável”24, impossível de serem concebidas por qualquer artista que não o divino.

A Via Crucis

“Levaram então consigo Jesus. Ele próprio carregava a sua cruz para fora da cidade, em direção do lugar chamado Calvário, em hebraico Gólgota” (Jo 19, 17).

O réu “levava apenas o patíbulo [a trave horizontal] nas costas, com ambos os braços a ele amarrados. É o que nos conta a arqueologia. O stipes, ou poste vertical da cruz, era fincado antecipadamente no lugar do suplício”25.

“Verificando a imagem do Sudário, vamos encontrar duas marcas mais profundas na região dorsal, com forma oval e transversal. Os estudos feitos demonstraram que aquelas marcas correspondem a uma lesão da pele, provocada por alguma coisa bastante pesada que fora transportada apoiando naquela região. E que esta peça deslizava para um lado e para o outro, produzindo algumas escoriações”26.

É “principalmente na imagem dorsal que encontramos os vestígios do transporte da cruz. Há ali, sobre a espádua direita, na parte externa da região subescapulária, uma larga zona de escoriação, oblíqua para baixo e para dentro, com a forma de um retângulo de 10 cm por 9 cm (Vê-se, de resto, que esta zona se prolonga pela frente, sobre a região clavicular externa, por largas placas de escoriação). A região posterior parece formada por um acúmulo de escoriações, sobrepostas a numerosas chagas da flagelação que estão esmagadas e alargadas em relação às do lado. Parece que um corpo pesado, rugoso, mal fixado, comprimiu esta espádua, e que esmagou, reabriu e alargou, através da túnica, as chagas precedentes da flagelação”27.

As três quedas

“Jesus cai pela primeira vez …. Jesus cai pela segunda vez …. Jesus cai pela terceira vez” (Via Sacra, III, VII e IX Estações)

Os Evangelhos não falam a respeito das três quedas que Nosso Senhor sofreu no caminho do Calvário, mas conta-o a Tradição. Por isso estão integradas à Via Sacra.

Essas quedas, “o Sudário as constata claramente. O Homem do Sudário apresenta os joelhos feridos por violentas quedas sobre terreno pedregoso, estando o joelho esquerdo sujo de terra misturada com sangue. As escoriações do nariz também estão sujas de terra, sinal de que o rosto de Jesus bateu violentamente contra o solo. …. Impossibilitado de amortecer o tombo com as mãos, amarradas ao patíbulo que levava às costas, a cabeça de Jesus iria fatalmente bater com força contra o solo pedregoso; o patíbulo escorregaria em direção à cabeça, batendo fortemente contra a nuca, coberta com os espinhos. É fácil compreender por que a nuca aparece tão horrivelmente machucada na imagem do Sudário”28.

A Crucifixão

“Ali O crucificaram, e com Ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio” (Jo 19, 18).

Primeiro O despiram de suas vestes. Isso deve ter provocado uma dor terrível, pois o tecido da túnica secara sobre as feridas do corpo divino, colando-se a ele. Às vezes, num caso semelhante, para retirar-se um tecido colado a um corpo muito chagado, é necessário aplicar-se anestesia geral. “Mas como aquela dor pungente e atroz não acarreta a síncope? É porque, do princípio ao fim, Ele [Jesus] domina toda a sua paixão e a dirige”29.

Depois estenderam-no no chão, puxando seus braços para os pregar no patíbulo da cruz.

Onde foram fincados os cravos? Não na palma da mão, segundo a iconografia comum. Estudos de especialistas demonstram que essa região não tem estrutura suficiente para suportar o peso de um corpo adulto. Mas entre o punho e a mão, na região chamada em anatomia de “espaço de Destot”. “Neste espaço, um cravo penetra com a maior facilidade, sem romper nenhum osso, e fica firmemente seguro. …. Examinando-se o Sudário, vamos ver que o grande coágulo de sangue correspondente à chaga do braço está situado exatamente nessa região”30.

Ao penetrar aí, entre a palma da mão e o punho, o cravo provocou “uma dor inenarrável, fulgurante, que se espalhou por seus dedos, subiu como uma língua de fogo até a espádua e prorrompeu no cérebro. Bem sabemos que a dor mais insuportável que um homem possa experimentar é a do ferimento de um dos grandes troncos nervosos. Jesus experimentará isto ainda durante três horas”31.

Depois o sentenciado tinha de levantar-se, pregado ao patíbulo da cruz. O carrasco e um ajudante erguiam o patíbulo, para o encaixarem na stipes, ou poste vertical da cruz. Isso era feito com indescritíveis dores para o crucificado.

Estando Jesus suspenso no ar somente pelos cravos das mãos, os carrascos passaram a prender seus pés ao madeiro da cruz. Trespassaram o pé esquerdo, fazendo com que a ponta do cravo surgisse na planta do pé; colocaram-no depois sobre o peito do pé direito, fazendo com que o cravo também o trespassasse, fixando-os assim, um sobre o outro, no madeiro da cruz.

“A suspensão pelas mãos provoca nos crucificados um conjunto de cãibras, de contrações, que se vão generalizando até o que chamamos de `tetania’. Atinge ela, por fim, os músculos inspiradores, impedindo a expiração; os supliciados, não mais podendo esvaziar os pulmões, morrem por asfixia”32. Para apressar a morte dos condenados, quebravam-lhes os joelhos, impedindo assim o soerguimento que lhes permitiria respirar.

A morte

“Jesus deu então um grande brado e disse: `Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito’.

E dizendo isto, expirou” (Lc 23, 46). “Observando as marcas do Sudário vamos ver que, na imagem frontal, o tórax aparece com a sua musculatura contraída num espasmo, o diafragma elevado, visível pelo afundamento do abdômen. São imagens típicas de uma tetania causada pela asfixia e ânsia respiratória”33.

“Jamais poderia acreditar nem sequer imaginar que a crucifixão fosse tão atroz e cruel como nos permite entender o Santo Sudário com sua muda, porém eloqüentíssima linguagem …. A crucificação excede em crueldade tudo o que podemos imaginar”34.

A lançada de Longinus

“Um dos soldados abriu-Lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu

sangue e água” (Jo 19, 34).

No Santo Sudário “a ferida da qual escorre este sangue é claramente visível e foi produzida por um instrumento de ponta e corte, com duas aletas ou rebordes em suas extremidades; daí sua forma elíptica”.

“A chaga do lado direito do supliciado tem uma forma elíptica do mesmo diâmetro de 4,4 cm por 1,4 cm, diâmetro de uma lança romana. Segundo especialistas da história romana, o fato de estar no lado direito explicar-se-ia pelo fato de os romanos darem esse golpe contra um inimigo que protege seu coração com o escudo”35.

“Na parte superior da imagem sangüínea se distingue nitidamente, tanto no original [do Sudário] quanto nas fotografias, uma mancha oval com o eixo maior um tanto oblíquo de dentro para fora e de baixo para cima, que dá, nitidamente, a impressão da chaga do lado de onde saiu este sangue. …. Notemos de passagem que a relíquia do ferro da lança que se encontra no Vaticano tem 45 mm em sua parte mais larga. As chagas são sempre mais estreitas do que os agentes perfurantes, por causa da elasticidade da pele”36.

O Sepultamento

“Tomaram o corpo de Jesus e o envolveram em panos com os aromas, como os judeus costumam sepultar” (Jo 19, 40).

São João narra em seu Evangelho que, depois que Nosso Senhor expirou entre os dois ladrões, “José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, mas ocultamente por medo dos judeus, rogou a Pilatos autorização para tirar o corpo de Jesus. Pilatos permitiu” (Id. ib., 38).

Quando os discípulos desceram da cruz o corpo de Jesus, ficaram maravilhados com sua aparência de paz e de uma resignação completa. Isto porque, para Ele, “tudo estava consumado”, quer dizer, sua missão estava cumprida, a finalidade para a qual Ele veio à Terra realizara-se completamente. Nossa Redenção fora feita com todos os sofrimentos de corpo e de alma que ela comportava.

“Realmente é inexplicável que um Homem tão maltratado fisicamente, como aparece diante de nossos olhos o Homem do Sudário, não apresente no rosto sinais de enrugamento, de ódio, de ira impotente, de esgotamento, de perversão moral …. Apenas um super-homem, um homem não apenas inocente, mas o próprio Filho de Deus, de tanta grandeza moral, de tanto domínio de Si, de um coração tão grande que ama, desculpa e perdoa seus próprios carrascos e viscerais inimigos, enquanto eles estavam se cevando de seu sangue …. apenas Jesus Cristo podia apresentar, já morto, um rosto com tanta paz, tanta majestade, tão resignada aceitação da morte, tão serena beleza …. como aparece no Sudário”37.

“Nesse rosto nitidamente semita encontra-se, apesar das torturas e das chagas, uma tão serena majestade, que dele ressalta uma impressão inexprimível. Para o compreender um pouco, é necessário recordar que, se nesse corpo a Humanidade acaba de morrer, a Divindade continua sempre presente; com a certeza da ressurreição, aliás, bem próxima”38.

O Apóstolo virgem ressalta que os discípulos envolveram o corpo de Jesus “em panos e com aromas, como os judeus costumam sepultar”.

Como era esse costume na época de Nosso Senhor?

Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que aqueles que sofriam o suplício da crucifixão (os grandes criminosos) não eram sepultados, mas lançados numa vala comum. Quando os judeus “rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados” das cruzes, visavam eles que Jesus tivesse o mesmo tratamento que os dois malfeitores, isto é, que Lhe partissem as pernas e depois O jogassem na vala comum, para que sua memória desaparecesse para sempre.

Mas as humilhações e sofrimentos a que Se submetera o Homem-Deus para a salvação da humanidade pecadora tinham atingido seu auge e se consumado no sacrifício da cruz. Aproximava-se a hora de sua glorificação. Por isso José de Arimatéia, influente judeu, obteve de Pôncio Pilatos a permissão de retirar Jesus da cruz e dar-Lhe digna sepultura. Para isso adquiriu um sepulcro ainda novo, sem uso, perto do Calvário, que viria a ser a testemunha da ressurreição de Cristo.

Em geral as sepulturas judias eram cavadas na rocha, constando de dois compartimentos: um menor, à entrada, e um subseqüente, onde ficava a sepultura propriamente dita. Uma pedra, como a de moinho, era rolada por dois homens, fechando a sepultura.

Retirado o divino corpo do Salvador da cruz por José de Arimatéia, Nicodemos e talvez São João e algum outro discípulo  foi depositado sobre o longo lençol que Lhe serviria de mortalha. São Marcos, em seu Evangelho (15, 46), esclarece que José de Arimatéia, depois de obtida a licença para sepultar Jesus, comprou um pano de linho para envolvê-Lo.

Esse lençol, segundo o costume, era longo e deveria ser dobrado na altura da cabeça sobre o cadáver a ser sepultado. Algumas faixas de tecido serviriam para prender o lençol ao longo do corpo.

Não tiveram tempo para lavar o corpo nem barbear o rosto, como era costume, pois já estava tarde e, com o pôr do sol, começaria o sábado, dia em que não se podia trabalhar; esse ritual, aliás, não se observava com sentenciados. Os discípulos puseram então algumas ervas aromáticas junto ao corpo ainda ensangüentado de Jesus, e O depositaram no sepulcro.

Parecia tudo terminado, mas era exatamente o momento em que tudo começava…

A Ressurreição

“No primeiro dia da semana, muito cedo, [as santas mulheres] dirigiram-se ao sepulcro com os aromas que haviam preparado. Acharam a pedra removida longe da abertura do sepulcro. Entraram, mas não encontraram o corpo do Senhor Jesus. Não sabiam o que pensar, quando apareceram em frente delas dois personagens com vestes resplandecentes. Como estivessem amedrontadas e voltassem o rosto para o chão, disseram-lhes eles: ‘Por que buscais entre os mortos aquele que está vivo? Não está aqui, mas ressuscitou’” (Lc 24, 1-6).

De acordo com Julio Marvizón Preney, “a maior surpresa [dos cientistas] foi ao examinar a parte dorsal da imagem [do Sudário], em que os músculos dorsais e deltóides apareciam abaulados, e não planos como deveriam estar na espádua de um corpo morto que se apóia em uma pedra sepulcral”.

E continua: “Na palavra dos cientistas: `parecia que o cadáver se vaporizara, emitindo uma estranha radiação que teria sido a responsável pela formação dos sinais do Santo Sudário. …. É muito provável que, no momento em que se produziu a radiação, o corpo estivesse leve, em levitação, e por isso os músculos não ficaram aplainados'”.

Pergunta Preney: “Para aqueles que são crentes, isto não é a ressurreição?”…. Neste caso, o Sudário é uma quase fotografia de Cristo no momento de retornar à vida, produzida por uma radiação ou incandescência de efeitos parcialmente análogos àqueles do calor”39.

Os dois cientistas americanos do STURP (Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim), Kenneth E. Stevenson e Gary R. Habermas acrescentam:

O Dr. Arnaud-Aaron Upinsky confirma: [Os cientistas] “reconhecem também inequivocamente uma das maiores maravilhas do Sudário: o cadáver, descolando-se dele, deixou-o intacto, sem a mínima alteração de suas fibras, sem arrancá-las nem modificar os traços de sangue entre o corpo e o tecido. O que é impossível acontecer com um corpo comum, sujeito às leis comuns da natureza. Um cadáver coberto de chagas não poderia jamais ser retirado do pano que o continha sem alterar o pano e os sinais nele deixados pelo sangue e pelas feridas. Como então foi ele descolado dali deixando intactas e nítidas até as mínimas fibras do tecido que estava colado nas feridas? Este fato decisivo não é contestado por nenhuma ciência. E ele só se explica pela Ressurreição; isto é, pela desmaterialização’ do corpo chagado, que se retira daquele invólucro não mais sujeito às leis impostas pela natureza”40.

“A outra linha de evidência sobre a ressurreição vem dos estudos científicos a propósito do Sudário de Turim …. O fato de que não houve decomposição do corpo (indício da saída do corpo de dentro do Sudário), de que as manchas de sangue revelam que o corpo não foi desenrolado, de que os corpos mortos por vias naturais não provocam tais chamuscaduras, e de que o Sudário de Jesus corresponde muito estreitamente à história e aos Evangelhos, representam, todos eles, sinais bem sólidos de que o Sudário dá testemunho da ressurreição de Jesus”41.

Conclusão

Em face de tudo quanto vimos, compreende-se este penetrante comentário do Professor Plinio Corrêa de Oliveira: “O Santo Sudário é um milagre permanente. Nosso Senhor fez um ato de misericórdia soberbo, especialmente para nosso tempo, ao permitir que a fotografia revelasse sua face divina.

“Ele é uma tal maravilha, uma tal prova da existência de Nosso Senhor Jesus Cristo, uma tal prova de que Ele ressuscitou, uma tal prova daquilo que cremos, que se poderia e se deveria ficar verdadeiramente encantado se em todos os ambientes religiosos se falasse do Santo Sudário.

“[Ali] é a majestade e a dignidade do Homem-Deus que se manifesta na dor e na humilhação, com a mansidão do cordeiro mas com a altaneria de um leão.

“Eu incitaria a todos a procurarem uma bela reprodução do Santo Sudário e tê-lo entre seus objetos de piedade, para contemplarem, admirarem, meditarem, porque ele é como uma fotografia de Nosso Senhor Jesus Cristo. E essa fotografia lembra-nos certos episódios que estão no Evangelho, e que dão idéia da grandeza de Nosso Redentor”42.

Notas:

1.Santo Afonso Maria de Ligório, Reflexiones sobre la Pasión, Obras Ascéticas, B.A.C., Madrid, 1970, Vol. I, pp. 201-202.

2.Dr. John H. Heller, membro da “turma” do “STURP” (Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim), em “O Sudário de Turim”, Editora José Olympio, RJ, 2a. edição, 1986, p. 215.

3.Dr. Pierre Barbet, A paixão de Cristo segundo o cirurgião, Edições Loyola, SP, 9a. edição, 2000, p.193.

4.Idem, p. 195.

5.Apud Pe. Manuel Solé, SJ, O Sudário do Senhor, Edições Loyola, SP, 1993, p. 266.

6.Idem, p. 267.

7.Actas II Congr., p. 180, in Solé, id. ib.

8.Dr. Pierre Barbet, op. cit., p. 97; Solé, 267.

9.Pe. Manuel Solé, op. cit.

10.Dr. Pierre Barbet, op. cit., p.193.

11.ACI Digital, El Santo Sudário de Turim, Internet, p. 6.

12.Dr. Pierre Barbet, op. cit., p. 97.

13.Dr. Rudolf W. Hynek, Lo que revela el Santo Sudario, p. 23. Apud Pe. Manuel Solé, p. 169.

14.Pe. Manuel Solé, op. cit., p. 169.

15.Idem, ib.

16.Idem, p. 268.

17.Cfr. ACI, id., ib.

18.Pe. Manuel Solé, op. cit., ib.; ACI, p. 6.

19.Dr. Pierre Barbet, op. cit., p. 188.

20.ACI, id. ib.

21.Pe. Manuel Solé, op. cit., p. 270.

22.Julio Marvisón Preney, O Santo Sudário: Milagrosa Falsificação?, Editora Mercuryo, SP, 1998, p. 40.

23.Evaldo Alves d’Assumpção, Sudário de Turim – O Evangelho para o Século XX, Edições Loyola, SP, 3a. edição, 1992, p. 55.

24.Dr. Pierre Barbet, op.cit., p. 188.

25.Pe. Manuel Solé, op. cit., p. 272.

26.E. A. Assumpção, op. cit., p. 57.

27.Dr. Pierre Barbet, op. cit., p. 103.

28.Pe Manuel Solé, op. cit., p. 274.

29.Dr. Pierre Barbet, op. cit., p. 203.

30.E. A. Assumpção, op. cit., p. 59.

31.Dr. Pierre Barbet, op. cit., p. 203.

32.Idem, p. 113.

33.E. A. Assumpção, op. cit., p. 61.

34.Dr. Rudolf Hynek, op. cit., p. 51, apud Pe Manuel Solé, p. 211.

35.ACI digital, p. 7.

36.Dr. Pierre Barbet, op. cit., p. 140.

37.Pe Manuel Solé, op. cit., p. 254

38.Dr. Pierre Barbet, op. cit., p. 32.

39.Julio M. Preney, op. cit., pp. 90-92.

40.Entrevista concedida a Catolicismo, São Paulo, junho de 1998, p. 36.

41.Kenneth E. Stevenson e Gary R. Habermas, A verdade sobre o Sudário, Edições Paulinas, SP, 3a. edição, 1986, p. 206.

42.Conferência pronunciada para sócios e cooperadores da TFP em 28-4-84; Arquivo da TFP, texto sem revisão do autor.

Extraído da Revista Catolicismo

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