“Posso até não concordar com o que você diz, porém defenderei até o fim seu direito de dizê-lo.”
Podemos encontrar nessa frase um perfeito resumo do pensamento liberal, pois nela está expresso o seguinte principio: “Nós somos livres, somos iguais, portanto, por mais que eu discorde de seu pensamento, você tem o direito de dizê-lo. Em nome da igualde e da liberdade, eu defendo este direito, e, igualmente, defendo o direito de qualquer um dizer qualquer coisa, por mais que essa coisa seja contrária à razão. Viva a igualdade, viva a liberdade.” Apesar de Voltaire não a ter dito, ela é constantemente atribuída a ele, até mesmo por livros didáticos ou biografias, por expressar eximiamente seu pensamento.
François Marie Arouet era um liberal, defensor da liberdade de expressão e combatente da intolerância religiosa. Nasceu em 21 de novembro de 1694, foi também enciclopedista e um dos principais iluministas. Em seus escritos encontramos, por toda parte, alusões a tal principio acima descrito.Porém, ao analisar melhor sua vida, encontramos uma enorme contradição entre a doutrina que pregava e seu modo de agir.
Voltaire foi um ferrenho perseguidor dos nobres e, principalmente, da Igreja. Dedicou sua vida a ataca-La, caluniá-La, persegui-La. Não desperdiçando oportunidade nem momento para isso. Como por exemplo, quando assumiu a defesa de João Calas¹ com o objetivo principal de investir contra o Corpo Místico de Cristo.
O escritor e historiador francês, Henri Robert,nos faz o seguinte quadro disso: “[…] É preciso recordar o que fora sua vida, toda a luta contra a religião que ele (Voltaire) denominava “a infame”, quais eram suas ideias em contínua oposição à ordem estabelecida, solapando sem descanso, em nome da razão, da tolerância e da liberdade (sic!), todas as instituições do Antigo Regime, […] Seu primeiro ensaio na vida literária, quando ainda não contava vinte anos, fora uma sátira tão violenta contra a Igreja Católica e o falecido rei Luís XIV, […] Todos tinham medo aos sarcasmos pungentes de seu espírito terrível. […] (sua vida) Era sempre a luta contra o Cristianismo, contra os Parlamentos, contra intolerância! ”²
Ou seja, enquanto pregava a liberdade de expressão, o livre pensamento, a tolerância, movia contra alguns, a calunia, a perseguição, o combate. Vale lembrar sua famosa frase que proferia contra a Igreja: “Combatamos a Infame”. É realmente uma colossal contradição: perseguia alguns, enquanto que, em seus escritos estava defendida a liberdade para todos.
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“Posso até não concordar com o que você diz, porém defenderei até o fim seu direito de dizê-lo.”
Século XXI.
Quase três séculos se passaram desde Voltaire, e é em nossa época que a famosa máxima “voltairiana” está mais presente, pelo menos teoricamente, do que jamais esteve. Nas escolas, ensinam a liberdade de expressão, mesmo que você diga algo contra razão, contra o bom senso, algo antinatural. Nas leis, o reflexo disso é expresso por permissões absurdas, como a do “casamento” homossexual, ou a do aborto. Nas artes, vemos que rabiscos, que não respeitam as mais básicas regras de estética, são considerados obras-primas, vendidos a preços os mais exorbitantes possíveis. Em nome da liberdade, da igualdade, da tolerância, da “liberdade de expressão”, tudo é permitido, por mais que a lógica diga o contrário.
Porém, se é certo que a máxima continua, mais do que jamais esteve, viva, é também certo que a contradição voltairiana também está.
Em nome do liberalismo, da igualdade, da tolerância, da liberdade, perseguem, caluniam, e até mesmo agridem, como ocorreu no ano de 2014, em Curitiba, quando jovens voluntários do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira que faziam uma campanha em defesa do matrimônio como Deus instituiu, ou seja, entre um homem e uma mulher, foram agredidos por militantes do movimento homossexual. Ou nos EUA, no caso de uma florista que está sendo processada por se negar a decorar um ambiente no qual ocorreria um “casamento” homossexual.
Onde está a liberdade para os jovens integrantes do IPCO? Onde está a liberdade para a florista decidir a quem vender ou não seus serviços? E a liberdade para os pais ensinarem o correto para seus filhos? E a tolerância? E a igualdade? Pois se há aqueles que defendam o homossexualismo, porque não pode haver os que são contra? Afinal, para estes que perseguem a Igreja, não somos livres para pensar o que quisermos?
A resposta para tais dúvidas podemos encontra-la na obra mestra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução: “[…] Analisando-as (as doutrinas liberais), percebe-se que o liberalismo pouco se importa com a liberdade para o bem. Só lhe interessa a liberdade para o mal. Quando no poder, ele facilmente, e até alegremente, tolhe ao bem a liberdade, em toda a medida do possível. Mas protege, favorece, prestigia, de muitas maneiras, a liberdade para o mal. No que se mostra oposto à civilização católica, que dá ao bem todo o apoio e toda a liberdade, e cerceia quanto possível o mal. Ora, essa liberdade para o mal é precisamente a liberdade para o homem enquanto “revolucionário” em seu interior, isto é, enquanto consente na tirania das paixões sobre sua inteligência e sua vontade.”³
Como nos deixou claro o grande líder católico acima citado, a verdade é que, em nome desses valores que tanto são defendidos pelo mundo moderno, está se instaurando uma verdadeira ditadura que persegue, combate e silencia todos os que se opõem às abominações que querem impor às pessoas, tais como, o “casamento” homossexual, o aborto, ideologia de gênero, etc.
Diante dessa perspectiva, o que resta a nós, católicos, que nos opomos a tais absurdos, que somos contrários a tudo que afronta a Lei Divina, a tudo que constitui uma ofensa a Deus?
Resistir, Combater através de todos os meios lícitos. Continuar firmes em nossa posição. Lembrando sempre das palavras de Nosso Senhor aos seus Apóstolos: “Não propagareis o Reino de Deus sem encontrar adversários, mas, se o mundo vos odiar, lembrai-vos de que primeiro Me odiou a Mim.”(S.Jo 15,18) “Persegui-vos-ão como a Mim Me perseguiram e desprezarão sua palavra como desprezaram a minha”(S.Jo 15,20). Devemos nos lembrar também que Ele venceu o mundo: “O seu ódio, porém, não impedirá que os povos glorifiquem o meu Nome.”(S.Jo 15,25), e nos dá a certeza da participação dessa vitória: “E vós também, que Me tendes seguido desde o princípio, sereis minhas testemunhas no meio do mundo.” (S.Jo 15,27).
Confiando nas palavras de Nosso Senhor e com os olhos postos no auxílio de Nossa Senhora, devemos avançar, suportar, por amor a verdade, todas as perseguições que nos forem feitas, sabendo, antes de tudo, que é certa a vitória.
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Notas:
¹ Robert, Henri – Les grands procès de L´histoire, Tom. I.
² Robert, Henri – Les grands procès de L´histoire, Tom. I., pag.196 á 200.
³ Plinio Corrêa de Oliveira, – Revolução e Contra Revolução, pag. 68