Considerações sobre a oração — II

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Na postagem anterior, o Padre Meschler(*) nos explicou no que consiste orar; no texto abaixo ele indica algumas condições para a eficácia da oração

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Exemplo da oração humilde: a prece de Esdras, após o cativeiro da Babilônia

A nós, e não a Deus, devemos atribuir a ineficácia de nossas preces. Três são as causas determinantes dessa insuficiência. Ou ela se encontra em nós, ou em nossa oração ou, enfim, no objetivo da mesma.

Geralmente a oração deve reunir as seguintes condições:

Primeiramente, cumpre termos uma consciência nítida do que constitui o objeto de nossa prece; isto é, faz-se mister a intenção, a atenção e o recolhimento. O ponto importante é não nos querermos distrair ou não nos entregarmos cientemente às divagações. Como poderá Deus atender-nos, se nós mesmos não temos consciência do que estamos a dizer? Certamente o nosso anjo custódio sentirá pejo de apresentar à Majestade divina semelhante prece. Aliás, o nosso próprio interesse exige que procedamos de modo diverso, porquanto as distrações voluntárias não somente constituem obstáculo às graças divinas, mas acarretam necessariamente um castigo. Quanto às involuntárias, que sobrevêm mau grado nosso, elas não nos privam do mérito nem tiram à oração o seu valor satisfatório. Apenas interceptam o gosto, a doçura que nela poderíamos fruir. Deus conhece nossa fraqueza e tem paciência conosco.

Em segundo lugar, é preciso tomar a oração a sério e empenhar-nos em ser atendidos. Por conseguinte, devemos orar com zelo e fervor. Estes não consistem na multiplicidade das orações, senão na parte que a vontade nelas toma. Não sobe o incenso se o fogo, consumindo-o, não lhe desprende o perfume que se eleva aos céus. O fervor é a alma da prece; Deus escuta a voz do coração, e não as palavras que os lábios proferem. Conversar com Deus é sempre um ato importante; e o que lhe pedimos, algo de grande valia. Eis porque o zelo e o desejo são imprescindíveis. Se, porventura, a confiança na virtude da oração vier a fraquejar em nosso espírito, recorramos à intercessão de outrem, por meio de prece em comum ou pública. Invoquemos os santos e o bendito nome de Jesus, ao qual está particularmente ligada a eficácia da oração (Jo 16, 23).

Em terceiro lugar, importa que a prece seja humilde. Devemos aproximar-nos de Deus como mendigos, e não como credores. Somos réus de pecado e não podemos tratar o Criador de igual a igual. A própria humildade exterior vem muito a propósito. Ela apraz a Deus, O predispõe em nosso favor e excita o zelo em nosso coração.

Em seguida — e esta condição é de suma importância — é preciso orar confiadamente, com segurança. Tudo nos incita a isso. Deus quer que oremos; logo, quer atender-nos. Somos criaturas suas e filhos seus. Esses títulos que nos dão o direito a sermos ouvidos favoravelmente, Ele os conhece e preza mais que nós mesmos. Finalmente, e importa não olvidá-lo, temos que nos avir unicamente com a infinita misericórdia de Deus, à qual compete tudo decidir.

Se grande deve ser nossa confiança na oração feita em vista de obter bens espirituais, faz-se mister, porém, evitar dois escolhos, quando for questão de favores de ordem temporal: [não se deve] implorá-los incondicionalmente, porquanto eles nos poderiam ser nocivos; ou então [é falso] pensar que nunca os devemos pedir.

Ao contrário, cumpre fazê-lo, porém de modo conveniente. Deus quer que O reconheçamos também como origem e fonte de todos os bens temporais. É a razão pela qual no-los faz pedir na oração dominical.

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Pe. Maurício Meschler, S.J., A Vida Espiritual – Reduzida a Três Princípios, Editora Vozes Limitada, Petrópolis, 1960, pp. 30 e ss.

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