Evangelista
(+ 67)
S. MARCOS, ou João Marcos hebreu de origem, da tribo de Levi, foi um dos primeiros discípulos de São Pedro, que na festa de Pentecostes receberam o santo Batismo das mãos do Apóstolo, razão talvez, de Pedro em sua primeira epístola o chamar “seu filho”. (I. Pedro, 5, 13). Os atos dos Apóstolos (12, 12) mencionam a mãe de Marcos, Maria, proprietária de uma casa em Jerusalém, onde os cristãos realizavam suas reuniões. Autores há que em Marcos reconhecem o parente de Barnabé, e quem, bem moço ainda, com este a São Paulo se associou na primeira viagem apostólica e, terminada esta, por desinteligências que entre eles surgiram, para Jerusalém voltou. Na segunda viagem paulina não o vemos ao lado do apóstolo. (At. 15, 3).
Mais tarde, porém, foi companheiro de São Paulo na primeira prisão do mesmo em Roma (Filem. 4); pelo mesmo apóstolo foi mandado aos Colossenses (Col. 4, 10). Pela segunda vez preso em Roma, Paulo o chamou para junto de si. (2. Tim. 4, 11.) Seu apostolado é intimamente ligado também ao de São Paulo, em Roma, onde desenvolveu um zelo e atividade apostólicos tais, que seu Chefe desejou tê-lo sempre em sua companhia.
Em Roma teve Marcos o prazer de ver os belos frutos, que a pregação do príncipe dos Apóstolos produzira, crescendo dia por dia o número dos que pediam o santo Batismo. Durante sua ausência, São Pedro confiou a Marcos a vigilância sobre a jovem Igreja. Atendendo ao insistente pedido dos primeiros cristãos de Roma, de deixar-lhes um documento escrito, que contivesse tudo que da sua e da boca de Pedro ouviram da vida, da doutrina, dos milagres e da morte de Jesus Cristo, Marcos escreveu o Evangelho que lhe traz o nome, dos quatro Evangelhos o mais curto e por assim dizer, o mais incompleto; não contém a história da Infância de Cristo, nem o sermão da montanha. São Pedro leu-o aprovou-o e recomendou aos cristãos que dele fizessem a leitura.
Depois de ter passado alguns anos em Roma, Marcos pregou o Evangelho na ilha de Chipre, no Egito e nos países vizinhos. As conversões produzidas por esta pregação contavam-se aos milhares. Milhares de ídolos ruíram por terra, e nos lugares dos templos se ergueram igrejas cristãs. O Egito, antes um país entregue à mais crassa idolatria, tornou-se teatro da mais alta perfeição cristã e refúgio de muitos eremitas. Marcos trabalhou 19 anos em Alexandria, aonde a Igreja chegou a um estado de extraordinário esplendor. Não satisfeitos com a observância de tudo aquilo que o Evangelho apresentava como indispensável muitos cristãos observavam do modo mais perfeito os conselhos evangélicos, abstendo-se, a exemplo do mestre, do uso da carne e do vinho e distribuindo os bens entre os pobres. Inúmeros eram aqueles que viviam em perfeita castidade. O número dos cristãos cresceu de tal maneira, que para todos terem ocasião de assistir ao santo sacrifício da Missa e à pregação, foi necessária destacar um número de casas bem grande onde se pudessem reunir.
Tão grande prosperidade da causa do Senhor não podia deixar de inquietar e irritar os sacerdotes pagãos contra o grande Apóstolo. Marcos, sabendo que os inimigos seus e de Cristo estavam conspirando contra sua vida, e, rezando uma generalização da perseguição, na qual muitos cristãos poderiam não ter a força de perseverar na fé, deu à Igreja de Alexandria um novo bispo, na pessoa de Aniano, e ausentou-se da cidade. Dois anos durou essa ausência. Ao voltar, havia uma grande festa, que os pagãos celebravam em honra do deus Serapis. A maior homenagem que podiam render à divindade havia de ser — assim opinavam os idólatras — a oferta da vida do Galileu: por este nome era conhecido o grande evangelista.
Imediatamente se puseram a caminho em busca de Marcos. A eles se uniu o populacho. Descobrir-lhe paradeiro e penetrar na casa que hospedava, foi obra de minutos. Marcos estava celebrando os santos mistérios, quando a horda sequiosa do seu sangue, entrou. Prenderam-no e, com escolhida brutalidade, conduziram-no pelas ruas da cidade. O trajeto todo ficou marcado do sangue do Mártir. Marcos nenhuma resistência fez; ao contrário, deu louvor a Deus por ter sido achado digno de sofrer pelo nome de Cristo.
Na noite seguinte apareceu-lhe um anjo e disse-lhe: “Marcos, Servo de Deus, teu nome está escrito no livro da vida, e tua memória jamais se apagará. Os Arcanjos receberão em paz teu espírito”.
Além desta teve a aparição de Deus Nosso Senhor, da maneira por que muitas vezes o tinha visto durante a vida mortal e disse-lhe:
“Marcos, a paz seja contigo”. Estas, como as palavras do Anjo, encheram a alma do Mártir de grande consôlo e ânimo.
O dia seguinte, 25 de abril, foi o dia do martírio. Os pagãos maltrataram-no de um modo tal que morreu no meio das crueldades. As últimas palavras que proferiu foram: “Em vossas mãos encomendo o meu espírito”.
Os pagãos quiseram incinerar-lhe o corpo. Uma fortíssima tempestade, que sobreveio, frustrou-lhes os planos e forneceu aos cristãos, ocasião de tirar o corpo e dar lhe honesta sepultura, numa rocha em Bucoles.
Em 815 foram as relíquias de S. Marcos transportadas para Veneza, onde ainda se acham. O leão é o símbolo deste evangelista, que inicia seu Evangelho com estas palavras: “Voz daquele que clama no deserto: Preparai os caminhos do Senhor”.