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Rei enquanto santo e santo enquanto rei São Luís, estadista da Cristandade 2

continuação do post anterior: O filhote de Leão

Sao Luis receve enviados do Velho da Montanha, ou Principe dos Assassinos, seita islamica Guy-Nicolas Brenet
São Luís recebe enviados do Velho da Montanha, ou Príncipe dos Assassinos, seita islâmica. Guy-Nicolas Brenet (1728 — 1792)

São Luís teria preferido viver num mosteiro, na abstinência e na meditação, explicou em conferência o renomado historiador Georges Bordonove.(2)

Porém, nasceu num berço de ouro agitado pela História e com uma missão divina: reger a filha primogênita da Igreja e tornar-se o árbitro da Cristandade no século XIII.

Sua aspiração à santidade foi realizada na responsabilidade tremenda de monarca e estadista europeu.

“Ele sabia comparecer em grande pompa, acolher faustosamente, dava festas e festins quando necessário. Ele respeitava altamente sua condição de rei.

“Mas na vida privada ignorava o luxo, misturava muita água no vinho e nos molhos para lhes tirar o gosto. Quando ia às procissões, levava calçados sem sola para ocultar que caminhava com os pés nus, na lama ou no pedregulho, pois as ruas de Paris não estavam pavimentadas”, explicou Bordonove.

Segundo o historiador Henri Pourrat, São Luís era “louro, delgado, de ombros um pouco curvos, alto e de fisionomia serena. Joinville disse dele: ‘Asseguro-vos que nunca vistes um homem de tão bela aparência, quando armado. E, mais ainda, era o mais altivo cristão que os pagãos jamais conheceram’”.(3)

O aspecto físico exprimia seu valor moral. São Luís IX foi um dos homens mais extraordinariamente bem apresentados de seu reino. E a França, como sempre, o fulcro do bom gosto e da elegância!

Mas também “era um soldado intrépido, hábil na hora de conduzir uma carga de cavalaria, pondo em risco em primeira linha sua pessoa, levando um elmo dourado que se destacava por cima de todos os barões do reino e que o tornavam alvo natural dos disparos.

Sao Luiz rei, cavaleiro e santoEntrementes, tinha horror pelo sangue derramado e após a batalha se empenhava em cuidar dos feridos e salvar os prisioneiros dos abusos”, acrescenta o historiador Bordonove.

São Luís inquietava até seus capelães, que temiam pela sua saúde. Ele saía de seus êxtases ou meditações quase esgotado, no limite do desmaio.

Mas sabia ser o mais brilhante da corte, distinto, generoso e alegre, no protocolo oficial e na vida privada. Ria à vontade, dava às vezes gargalhadas, mas nunca às custas de alguém e jamais permitindo uma expressão grosseira ou ofensiva.

Nele, o chefe de guerra era a outra face do místico. O homem piedoso e amante da virtude da pobreza constituía a outra face do monarca mais brilhante da Europa.

O tato do diplomata revertia na caridade do esmoler, e a suavidade do santo, na esperteza sagaz do diplomata.

Ele se tornou o árbitro dos conflitos da Europa e da Cristandade do século XIII porque foi santo, e foi santo porque praticou heroicamente as virtudes no exercício político do mais requintado trono da Europa e do mais terrível dos exércitos da Cristandade.

Uma coisa estava contida na outra e eram perfeitamente inseparáveis, a ponto de que, se tivesse fraquejado no múnus monárquico, não teria sido santo, e vice-versa.

Ele foi rei cristianíssimo como nenhum de seus sucessores. E o fiel por excelência do Papado até mesmo quando dizia, com inflexível lógica e imenso respeito, algumas verdades ao próprio Papa e aos bispos de vários ducados do reino.

Continua no próximo post: O banquete de Saumur

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