Quem era admitido na Cavalaria? Quem tinha o direito de ser admitido na Cavalaria?
Em princípio, todos. Não era preciso ser nobre para ser admitido na “Sainte Ordre de Chevalerie”, na “Santa Ordem da Cavalaria”.
E há exemplos históricos de homens da plebe, do povo, que foram recebidos cavaleiros. Mas a classe que por excelência tinha obrigação de se sacrificar, e tinha como característica o espírito de sacrifício, era a nobreza.
Sendo a Cavalaria uma dedicação plena ao serviço de Deus, aqueles que mais naturalmente podiam se entregar a isso eram os nobres, que tinham para tal uma inclinação quase natural, uma inclinação de classe.
Por isso a grande maioria dos cavaleiros eram nobres. As outras classes tinham como obrigação cuidar mais de seus próprios interesses, dentro de limites legítimos.
O lavrador tinha obrigação de cuidar do seu campo, o burguês tinha obrigação de administrar os seus negócios.
O dever de um burguês muito piedoso, muito cristão, era administrar bem seus negócios, ao passo que o dever de estado do nobre era a dedicação a um serviço em favor do bem comum, tanto mais quando se tratava do serviço de Deus.
Outra questão é saber em que lugar se era recebido na Cavalaria. Podia ser na igreja ou no campo de batalha. Francisco I, como vimos, foi armado cavaleiro no campo de batalha.
Dom João I, pouco antes da batalha de Aljubarrota, armou numerosos cavaleiros, fazendo um apelo para que naquela batalha eles se fizessem dignos da Ordem que acabavam de receber. Mas de modo geral a cerimônia se dava na igreja.
Em que idade se era recebido cavaleiro? Quando se entrava na maioridade. Ao entrar na maioridade — 15, 16, 17 anos — já se estava inteiramente pronto para ir combater, para lutar sozinho contra 30 muçulmanos, comandar um exército, etc., e então já se podia ser armado cavaleiro.
Como é que se ingressava na Cavalaria? Através de um rito, de uma cerimônia, que na França se chamava “adoubement”. Em Portugal se chamava “armar cavaleiro”.
Houve três espécies de ritos: o militar, o religioso e o litúrgico.
O mais antigo foi o militar. Consistia essencialmente em um cavaleiro — porque só um cavaleiro podia armar outro cavaleiro — cingir a espada ao recipiendário, dando-lhe na ocasião um violentíssimo tapa na nuca, tão forte que o rapaz precisava tomar cuidado para não ir ao chão.