Um dos mitos mais disseminados contra o catolicismo é o de que este favorece a pobreza e, segue o mito, o protestantismo proporciona o desenvolvimento material, o progresso econômico das nações. Basta considerar a riqueza da Inglaterra e dos Estados Unidos e a pobreza de Portugal e da América Latina.
Aposto que o leitor já ouviu algum professor em sala de aula repetir essa lenda. O tema é muito amplo, mas apresento a seguir algumas linhas para a reflexão dos católicos e, por que não, dos protestantes.
Max Weber geralmente é tido como o pensador que deu os fundamentos para essa crença anti-católica. No início do século XX, ele escreveu o ensaio “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, no qual procura demonstrar que o protestantismo trouxe a riqueza para mundo! Antes disso só havia miséria e decadência na Europa. Antes de Lutero só havia a terrível “Idade das Trevas”. A partir do século XVI o mundo progrediu, bem entendido, o mundo protestante, enquanto os países católicos permaneceram na penúria.
Há muita carga de simplificação nessa mitologia, mas adianto que ela já encontrou seus críticos desde o início. O autor belga Henri Pirenne é um dos seus contestadores mais respeitados. Ele demonstrou, apenas para dar um exemplo, que no século XIII, já havia um capitalismo florescente em Flandres.
No Brasil, o Pe. Leonel Franca, na obra “A Igreja, a reforma e a civilização”, prova cabalmente que a queda econômica em algumas nações católicas – a Espanha, por exemplo – desde o surgimento do protestantismo, se deveu a fatores adversos e não diretamente à religião do país.
Mais recentemente o autor americano Rodney Stark lançou uma série de publicações contra o mito de Weber. Uma de suas obras, já editadas em português, é “A vitória da razão” (Ed. Tribuna, Lisboa). Aconselho sua leitura para aqueles que gostam de ver erros históricos desmontados.
Mas se você é um leitor mais prático ou não tem tempo de ler a obras acima, aí vão alguns dados concretos para usar quando seu professor vier despejar na sala de aula as mentiras de Weber.
Só para início de conversa, dos sete países mais ricos do mundo (o famoso G7), 3 são de maioria protestante (Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra) e 3 são de maioria católica (França, Itália e Canadá)! Até aqui há um empate! Para completar os sete países, vem o Japão, que não é católico, nem protestante.
Mas espere! Vamos por uma lupa nesses países. Primeiro, Alemanha. A região mais rica do país é a Baviera. E qual é a maior religião lá? A católica! Para desespero dos discípulos de Weber, quem mais faz a riqueza da Alemanha são os católicos. Além disso, o número das populações católicas e protestantes têm oscilado bastante nas últimas décadas. Por volta do ano de 2006, dados registraram uma superação do número de católicos relação ao número de protestantes, considerando todo o país. Esse quadro se reverteu posteriormente. Não consta que a economia alemã tenha se alterado por causa dessa variação.
Para abreviar, vamos para o exemplo mais expressivo: os Estados Unidos da América. Maioria protestante, não é? Vamos com calma! Se considerarmos as denominações religiosas no país, ou seja, as igrejas separadamente, o catolicismo é a maior religião, com mais ou menos 30% de adeptos. Nem a igreja batista, que é a denominação protestante mais numerosa, possui tantos fiéis.
Mais. O período de maior crescimento econômico nos Estados Unidos foi desde os meados do século XIX até nossos dias. Curiosamente, é este justamente o período de maior crescimento da população católica! Crescimento explicável, sobretudo, pelo influxo dos latinos. Isso fará Weber revirar-se no caixão, mas tudo indica que quanto mais católicos, mais riqueza!
De longe já vemos tentativa de contra argumentação protestante: “Há outros os fatores que explicam o crescimento econômico nesses países, apesar do aumento de católicos!”
Essa tentativa de resposta não atinge o alvo, e acaba pondo às claras a simplificação de Weber, pois o mesmo se pode dizer do lado oposto: “Outros fatores, que não simplesmente a religião, explicam a ‘relativa pobreza’ dos alguns países católicos”.
Digo “relativa pobreza” porque o Brasil, apesar da propaganda contrária, é um dos países mais ricos e produtivos do mundo. E ainda é um dos que tem a maior população católica do mundo. Quase o mesmo se poderia dizer dos seguintes países católicos: Argentina, Chile, México, Bélgica, Áustria, Espanha… todos eles com um grau de riqueza respeitável, para dizer o mínimo. Todos eles católicos.
Poderíamos estender a argumentação, mas vamos deixar, por enquanto, Weber e seus discípulos descansarem um pouco. Talvez eles passem a reconsiderar seus mitos e os deixem de lado.