Muitos ao estudarem o livre mercado e temas correlatos, automaticamente lembram-se de nomes como Adam Smith, Carl Menger, Hayek, Ludwing Von Mises e outros da escola austríaca.
Dado o fato de conhecerem apenas esses nomes citados como “fundadores” da economia de livre mercado, deduzem que foram os liberais que criaram as ideias de livre mercado, e por conseguinte, pensam que a visão política conservadora não defende o livre-mercado.
Do ponto de vista da escola Austríaca, a ciência econômica é concebida como uma teoria da ação mais do que da decisão, uma concepção subjetivista (ideia de que não existem custos objetivos), a livre concorrência, propriedade privada, trocas voluntarias etc… E da visão da escola Austríaca o que é verdadeiramente importante e essencial, não é quem exerce concretamente a função empresarial, mas sim que não existam restrições institucionais ou legais ao livre exercício da mesma.
A escola austríaca surgiu em 1871, com a publicação do livro de Carl Menger intitulado Princípios de Economia Política, porém o principal mérito do autor constitui em ter sabido recolher e impulsionar uma tradição do pensamento de origem católica.
Assim a forma como, para Catão (234 – 149 a.C.) que afirmava que: “Nunca houve no mundo um homem com inteligência suficiente para tudo prever, e porque mesmo se pudéssemos concentrar todos os cérebros na cabeça de um mesmo homem, lhe seria impossível considerar tudo ao mesmo tempo sem ter acumulado a experiência que deriva da prática ao longo de um largo período da história”
Esse é aliás um dos pontos base da argumentação de Mises sobre a impossibilidade teórica da planificação socialista.
Pedro Juan de Olivi, (professor de teologia no convento Franciscano de Santa Cruz, Florença) São Bernardino de Sena e Santo Antônio de Florença, entre outros, teorizaram sobre o papel protagonista, que a capacidade empresarial e criativa do ser humano tem como impulsionadora da economia de mercado e da civilização. E toda essa linha de pensamento foi recolhido e aperfeiçoado por teóricos constituídos pelos escolásticos do século de Ouro Espanhol, e esses sim são os principais precursores da escola austríaca de economia e da teoria do livre-mercado. Um ponto que vale ressaltar é que, durante a história, o conceito de livre mercado que foi concebido por nossos escolásticos espanhóis, era o da livre concorrência em harmônia com a moral, e isso foi muito deturpado pelos liberais, que colocaram mais interesse no material, sem se importarem com a moral.
Os princípios da teoria econômica e do “liberalismo” econômico não foram concebidos pelos calvinistas, ou pelos protestantes escoceses, pelo contrário: isso foi resultado do esforço empreendido pelos dominicanos – da ordem de São Domingos – e pelos Jesuítas, membros da Escola de Salamanca. As raízes da concepção dinâmica e subjetivista da economia foram de origem católica.
Os escolásticos espanhóis do nosso Século de Ouro foram capazes de articular o que depois viriam a ser os princípios mais importantes da escola austríaca de Economia, que são os seguintes:
1° Teoria subjetiva do valor foi concebido primeiro pelo Diego de Covarrubias y Leyva (Jurista espanhol, prelado católico e Arcebispo de Cuenca, Segóvia, cidade Rodrigo e arcebispo de Santo Domingo)
2° A descoberta entre a relação de custos e preços, que foi tratado pelo Luis Saravia de La Calle (teólogo e economista espanhol)
3° Sobre a natureza dinâmica do mercado e da impossibilidade de alcançar o modelo de equilíbrio, foi abordado por Juan de Lugo (Fazia parte da ordem dos Jesuítas e foi nomeado cardeal) e por Juan de Salas (Frade Franciscano espanhol)
4° Castillo de Bovadilla (Jurista espanhol) e Luis de Molina (Jesuíta, teólogo e jurista espanhol) falaram sobre o conceito dinâmico de concorrência, que era um processo de rivalidades entre os vendedores.
5° O princípio da preferência temporal, segundo o qual, os bens presentes são sempre mais valorizados do que os bens futuros, essa doutrina foi redescoberta por Martin de Azpilcueta que foi um missionário Jesuíta.
6° O efeito profundamente distorcivo que a inflação tem sobre a economia real foi muito bem trabalhado pelo Padre Juan de Mariana, e também por Diego de Covarrubias e Martin de Azpilcueta.
7° Luis Saravia de La Calle e Martin de Azpilcueta, fizeram a análise crítica do sistema bancário exercido com reserva fracionária, no sentido de que a utilização em benefício próprio mediante concessão de empréstimos a terceiros, de dinheiro que é depositado à vista nos bancos é ilegítima e implica um pecado grave, doutrina que coincide plenamente com a que foi estabelecida pelos autores clássicos do direito romano, e que surge naturalmente da própria essência, causa e natureza jurídica do contrato de depósito irregular de dinheiro
8° A descoberta que os depósitos bancários são parte da oferta monetária, foi um trabalho realizado por Luis de Molina e Juan de Lugo, cujo ambos faziam parte da ordem dos Jesuítas.
9° A impossibilidade de organizar a sociedade através de ordens compulsivas, foi mais um dos trabalhos do Padre Juan de Mariana.
10° E sobre a intervenção injustificada no mercado, que com isso constitui uma violação do direito natural, foi tratado também pelo Padre Juan de Mariana.
Portanto, o conceito de economia de livre-mercado que nós conhecemos hoje, só evolui graças aos nossos escolásticos do Século de Ouro espanhol.