Para o espírito malfazejo da Revolução, toda desigualdade deve gerar um ódio e uma luta de quem é menos contra quem é mais. Pelo contrário, onde entrou o espírito autenticamente cristão, a desigualdade gera respectivamente o serviço e a proteção, ligados pelo laço do amor a Deus. Foi o que se deu, por exemplo, com as santas Perpétua e Felicidade (século III).
A todo momento lê-se na imprensa, vê-se na televisão, ouve-se no rádio que é preciso tomar medidas contra a desigualdade, que esta aumenta, que o governo não consegue controlá-la etc. etc.
Mas nunca se faz a distinção – absolutamente indispensável – entre a desigualdade exagerada e abusiva, portanto condenável, e a desigualdade boa e legítima, que está de acordo com a ordem natural das coisas. De modo que a impressão subliminar que o noticiário transmite é de que toda desigualdade, seja qual for, é sempre um mal e deve ser erradicada.
Segundo essa concepção, o ideal — não explicitado, mas latente — seria alcançado numa sociedade onde houvesse a igualdade absoluta, de todos os modos e em todas as formas. É a utopia revolucionária em sua formulação crua e nua.
Tal teoria acaba arrombando as portas das mentes das pessoas, que não se dão ao trabalho de refletir e analisar aquilo que vem subentendido no noticiário, instalando-se assim no universo de conhecimentos de cada indivíduo como uma espécie de verdade evidente, que não é preciso demonstrar.
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Ora, nada de mais falso. As desigualdades exageradas e abusivas são más, não por serem desigualdades, mas por serem exageradas e abusivas. As desigualdades justas e harmônicas são um bem. Não seria difícil provar essa tese, mas seria longo e não caberia nesta seção. Baste-nos lembrar o ensinamento de Plinio Corrêa de Oliveira:
“Em um universo no qual Deus criou desiguais todos os seres, inclusive e principalmente os homens, a injustiça é a imposição de uma ordem de coisas contrária a que Deus, por altíssimas razões, fez desigual. Assim, a justiça está na desigualdade. […] Com efeito, Deus criou as desigualdades, não aterradoras e monstruosas, mas proporcionadas à natureza, ao bem-estar e ao progresso de cada ser, e adequadas à ordenação geral do universo. E tal é a desigualdade cristã” (A justiça está na desigualdade cristã, “Jornal da Tarde”, 9-6-1979).
Para o espírito malfazejo da Revolução, toda desigualdade deve gerar um ódio e uma luta de quem é menos contra quem é mais. Pelo contrário, onde entrou o espírito autenticamente cristão, a desigualdade gera respectivamente o serviço e a proteção, ligados pelo laço do amor a Deus.
Foi o que se deu, por exemplo, com as santas Perpétua e Felicidade (século III). Perpétua era uma nobre romana muito rica, que se converteu ao cristianismo. Felicidade era sua escrava, que igualmente se converteu. Por isso foram conduzidas à prisão e condenadas à morte. Amarradas com arame e colocadas na arena diante de uma vaca brava, esta a princípio as atacou, mas depois desistiu.
O povo sanguinário que a tudo assistia pediu então que lhes cortassem as cabeças. A senhora e a escrava abraçaram-se emocionadas. Felicidade teve sua cabeça cortada por um golpe de machado. O verdugo, muito nervoso, errou o golpe em Perpétua. Ela deu um grito de dor, mas em seguida posicionou melhor a cabeça e indicou ao verdugo onde deveria atingi-la.
De tal modo elas foram unidas na fé, que a senhora e a escrava morreram juntas, sendo por isso seu martírio celebrado pela Igreja no mesmo dia 7 de março.
Sem querer de nenhum modo justificar aqui a escravidão romana, que tinha aspectos altamente censuráveis, a lição que nos dão Perpétua e Felicidade é de como a fé cristã e o amor de Deus unem de modo perfeitíssimo pessoas colocadas nos extremos opostos da escala social. Perpétua não desprezou Felicidade, nem esta se revoltou contra a sua senhora. Permanecendo cada uma na sua condição social, o amor de Cristo as uniu na Terra e na Eternidade.
Como é injusta e antinatural a pregação de uma igualdade a qualquer preço!