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Nossa Senhora modelo de confiança

nsraconfiança“Quando São Pedro, saltando da barca, se lançou ao encontro do Salvador, caminhou a princípio, com firmeza sobre as ondas. Soprava o vento com violência. As vagas ora se levantavam em turbilhões furiosos ora cavavam abismos profundos… A voragem abria-se diante do Apóstolo. Pedro

tremeu … hesitou um segundo, e, logo começou a afundar… “Homem de pouca fé, disse-lhe Jesus, porque duvidaste?”

 Eis a nossa história. Nos momentos de fervor, ficamos tranquilos e recolhidos ao pé do Mestre.

Vindo a tempestade, o perigo absorve a nossa atenção. Desviamos os olhares de Nosso Senhor para fitá-los ansiosamente sobre os nossos sofrimentos e perigos. Hesitamos … e afundamos logo! Assalta-nos a tentação. O dever se nos torna enfadonho, a sua austeridade nos repugna, e seu peso nos oprime…

Livro da Confiança 

Pe.Thomas de Saint Laurent

Com os olhos postados na Mäe de Deus, pratiquemos essa virtude, täo necessária nos dias caóticos em que vivemos

Poucos atos säo täo difíceis de se praticar como a virtude da confiança. Pois con-fiar é ficar “cum fiducia”, é permanecer firme na Esperança. Ou seja, terminadas as razöes meramente naturais para esperarmos algo, mesmo assim continuar esperando, devido a uma convicçäo proveniente da Fé. Santo Tomás de Aquino assim a define: “A confiança é uma esperança fortalecida por sólida convicçäo” (Suma Teológica, II IIae, q. 129, art. 6, ad 3).

Para o homem, vulnerado pelo pecado original, tornou-se especialmente difícil reconhecer sua dependência a outros, e, de modo especial, sua subordinaçäo a Deus. O Criador, como um Pai amoroso, desejando corrigir nossa alma, permite que muitas vezes permaneçamos em situaçöes de incapacidade para agir, que tornam patente um fato: pelas próprias forças, näo sairemos de certos impasses.

Acabadas as esperanças humanas, Deus nos indica a saída — a única: acreditar na sua Onipotência e infinita misericórdia e justiça, e permanecermos firme na Fé e inflexiveis na Esperança, portanto “confiantes“.

Mas näo se esgota aí a bondade divina. Para ensinamento nosso, a História oferece exemplos luminosos de pessoas que ficaram totalmente desamparadas, e contra toda expectativa natural, foram socorridas e viram realizadas suas esperanças.

De todos os exemplos que a História registra, certamente nenhum sensibiliza tanto uma alma católica quanto certos episódios da vida Santíssima de Nossa Senhora.

O Matrimônio de Maria: confiança em meio a perplexidades

Segundo a Tradiçäo, Nossa Senhora ainda muito jovem consagrou-se ao serviço de Deus no Templo de Jerusalém. Durante esse período de sua vida, faleceram seus pais, Säo Joaquim e Santa Ana. E nos primeiros anos de sua existência, a Virgem Santíssima ofereceu a Deus sua virgindade, pois, desta forma, ficava Ela livre de todo liame que A impedisse de se dedicar totalmente ao Criador.

Certamente esperava Ela ficar servindo a Deus no Templo, pois, que lugar melhor do que esse para fazê-lo? Mas… entäo Deus a submete a uma dura prova.

Sendo Ela órfä, foi confiada aos cuidados do Sumo Sacerdote do Templo. Atingindo os 14 anos de idade, este comunica-lhe que pretendia encontrar para Ela um esposo. Para Nossa Senhora foi uma surpresa! Mas como?! De um lado, era impossível que o próprio Deus näo conhecesse seu voto de virgindade; de outro, näo era crível que Deus näo tivesse guiado os passos do Sumo Sacerdote, autoridade a quem Ela deveria obedecer. Se Ela contraísse matrimônio, como manter-se-ia o voto de virgindade? Caso Ela se recusasse a casar, como evitar a desobediência à autoridade posta por Deus para guiá-la? Além do mais, a virgindade entre os judeus, no Antigo Testamento, näo era entendida como hoje, pois todas as israelistas contraíam matrimônio na esperança de se tornarem a mäe do Messias.

Näo conhecendo os desígnios do Criador a seu respeito, tal situaçäo para a futura Mäe do Messias era de molde a causar perplexidade. E, sobretudo, foi a hora da confiança: Ela devia ter Fé em Deus, que proveria para que mantivesse seu voto de virgindade, mesmo dentro do matrimônio.

Chegada a ocasiäo para se escolher o esposo, apresentaram-se vários candidatos. Uma outra pessoa estava presente, mas era por um motivo jurídico. Sendo Nossa Senhora órfä, estabelecia a lei que devia estar presente para aprovar o matrimônio o parente mais próximo da Virgem. Este era Säo José. Como também ele havia feito voto de virgindade, compareceu à cerimônia de escolha do marido apenas como testemunha.

Os caminhos de Deus, porém, eram outros. Inspirado por Ele, o Sumo Sacerdote submeteu os candidatos a uma prova: aquele cujo bastão florescesse tornar-se-ia esposo de Maria. Para surpresa de São José sua vara foi a que floresceu, mesmo näo sendo ele aspirante à mäo daquela sua parenta. Mas diante do evidente sinal divino para que se casasse, Säo José aceitou desposar a Virgem Maria. Sendo também ele casto, para Nossa Senhora esclareceu-se entäo uma parte do enigma: sua virgindade näo ficaria comprometida. Restava, contudo, outra perplexidade. Por que teria Deus desejado seu matrimônio, uma vez que tinha o desígnio de que permanecesse virgem? Näo seria mais adequado näo se casar? Mais uma vez confiou Nossa Senhora na Sabedoria e Onipotência de Deus, cuja intençäo tornou-se clara mediante a Anunciaçäo do Arcanjo Säo Gabriel. A Ela caberia a altíssima vocaçäo de ser a Mäe do Messias — o Verbo Encarnado! –, que nasceria por obra do Espírito Santo, tendo por pai adotivo aos olhos dos homens o casto Säo José.

Morte do Redentor: prova supereminente para a confiança

"Não me toque" - Fra Angéelico, séc. XV, afresco, Museu de São Marcos, Florença (Itália). O afresco representa a cena do encontro de Santa Maria Madalena com o Redentor ressuscitado. Antes da Ressurreição, com exceção de Nossa Senhora, tanto os Apóstolos quanto os discípulos e as santas mulheres não acreditavem nesse grande milagre do Divino redentor
“Não me toque” – Fra Angéelico, séc. XV, afresco, Museu de São Marcos, Florença (Itália). O afresco representa a cena do encontro de Santa Maria Madalena com o Redentor ressuscitado. Antes da Ressurreição, com exceção de Nossa Senhora, tanto os Apóstolos quanto os discípulos e as santas mulheres não acreditavem nesse grande milagre do Divino redentor

 

Outro exemplo de confiança nos ofereceu a Santíssima Virgem em sua existência mortal.

Durante os três anos de sua vida pública Nosso Senhor Jesus Cristo operou os maiores milagres, provando que era o Filho de Deus. Mas por um plano altíssimo do Criador — a Redençäo do gênero humano — era necessário que Ele se entregasse como vítima, pois era o Cordeiro de Deus. Isso, que hoje é täo claro para qualquer católico, näo o era naquela época. Pode-se imaginar a perplexidade dos homens fiéis de entäo: tendo visto tantas vezes o Redentor curar cegos, leprosos e até ressuscitar mortos, presenciá-Lo entregar-se sem resistência às autoridades que tramavam sua morte. Näo só se entregou, como proibiu Säo Pedro que O defendesse com a espada. Diante desse comportamento aparentemente inexplicável, débeis na Fé, os Apóstolos fugiram. Talvez alguns fiéis esperassem que, do alto da Cruz, o Salvador realizasse algum milagre portentoso que demonstrasse definitivamente sua divindade. Mas isso näo ocorreu… e Ele morreu e foi sepultado.

Os Evangelhos narram que após a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, os Apóstolos, os discípulos e as santas mulheres ainda näo acreditavam na Ressurreiçäo, apesar de Nosso Senhor a ter anunciado várias vezes.

Maria Santíssima entretanto acreditava e confiava. Sua Esperança era invencível. Ela conservou a Fé e a Esperança nas promessas divinas, apesar de parecerem estas desmentidas pela mais evidente das constataçöes.

 

Desde a hora em que Nosso Senhor expirou na Cruz, na Sexta-Feira Santa, até o domingo da Ressurreiçäo, somente Nossa Senhora permaneceu inabalável em sua Fé na Divindade de Nosso Senhor e na Esperança da Ressurreiçäo. Por conseguinte apenas Ela, com perfeiçäo e heroísmo, conservou a virtude da Fé. Pois, como diz Säo Paulo, sem a crença na Ressurreiçäo, nossa fé seria vä. Assim, durante o Sábado Santo, apenas Nossa Senhora, em toda a Terra, personificou a Fé da Igreja nascente.

Maria: arca de esperança dos séculos futuros

A esse respeito, é oportuno recordar aqui um comentário do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “Como só Ela representou, nesta ocasiäo, a Fé, podemos dizer que se também Ela näo tivesse crido, o mundo teria acabado. Porque o mundo näo pode existir sem a Fé. A partir do momento em que näo existisse mais Fé no mundo, a Providência acabava com o mundo. Devido à sua admirável Fé, Nossa Senhora sustentou o mundo, e só Ela deu continuidade às promessas evangélicas. Porque todas as promessas constantes nos Evangelhos, todas as promessas que figuram no Antigo Testamento de que o Messias reinaria sobre toda a Terra e seria o Rei da glória, o centro da História, todas essas promessas näo se teriam cumprido se, em determinado momento, a virtude da Fé tivesse se extinguido. Se tal hipótese se concretizasse, o mundo teria que acabar. Nossa Senhora foi, portanto, a arca de esperança dos séculos futuros. Ela encerrou em Si, como numa semente, toda a grandeza que a Igreja haveria de desenvolver ao longo dos séculos, todas as virtudes que Ela haveria de semear, todas as promessas do Antigo Testamento e todas as açöes praticadas na vigência do Novo Testamento. Tudo isto viveu dentro de uma só alma, a alma de Nossa Senhora.

No domingo da Ressurreiçäo, toda a confiança heróica que Ela tinha mantido viu-se recompensada. Ensinam vários teólogos que a primeira pessoa a ver Nosso Senhor ressuscitado foi a Santíssima Virgem, a quem Ele apareceu. Pode-se imaginar a felicidade da Mäe ao ver seu Filho resplandecente de glória, tendo cumprido de forma maravilhosamente heróica sua vocaçäo de redimir o gênero humano.

“Tal foi o prêmio da confiança: Ela viu antes dos outros o triunfo de Nosso Senhor.

“Nos dias de hoje, em que tantas afliçöes agitam os coraçöes dos católicos fiéis, façamos como Nossa Senhora: Confiemos! O escritor francês Edmond Rostand, proferiu uma frase célebre: “É de noite que é belo acreditar na luz!

Sirvam essas consideraçöes para que jamais nossa confiança seja abalada, a exemplo da Mäe do Redentor da humanidade.

Catolocismo

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