InícioAMBIENTALISMOReforma AgráriaMST — 25 anos: trágica comemoração evocativa de delitos

MST — 25 anos: trágica comemoração evocativa de delitos

O “Movimento dos Sem-terra”, sendo responsável por tantas violências físicas e morais, perpetradas contra pessoas trabalhadoras e honestas, o que tem a comemorar em seus 25 anos?

 Dona Lícia: “A fazenda foi invadida na calada da noite por magotes do MST. Perpetrada contra uma pessoa em cadeira de rodas e que passava por uma cirurgia”

Ao se completarem 25 anos da ação nefasta e terrorista do MST, poderíamos escrever uma enciclopédia de fatos violentos que cercaram a atuação desse movimento no Brasil. Basta lembrar a verdadeira execução, levada a cabo em 21 de fevereiro, de quatro colonos e vigias na Fazenda São Joaquim do Monte, em Pernambuco.

Certa imprensa, favorecedora do MST, apregoou falsamente que, nessa fazenda,“a invasão foi pacifica”, para tentar eximi-los de culpa.

A seguir, reproduzimos uma entrevista esclarecedora do que costuma ser a ação do MST e, no “quadro”, um relato impressionante de profanação de cadáveres.

A entrevistada, Da. Anastácia Basilícia de Camargo Ferraz (Dona Lícia, como a chamam os íntimos), é filha de destacado fazendeiro que muito contribuiu para a colonização do norte do Paraná. Ele foi diretor jurídico da maior colonizadora da região e grande fazendeiro de café e gado. Suas fazendas eram modelos de produção e progresso, gerando riqueza para a região e centenas de empregos.

Dona Lícia herdou uma fazenda em Querência do Norte (PR), que foi brutalmente invadida pelo MST e desapropriada pelo Incra. Ela já concedeu anterior entrevista a Catolicismo, quando sua propriedade rural se encontrava invadida. Seus depoimentos comprovam as teses do livro do jornalista Nelson Barreto, Reforma Agrária, mito e realidade, considerado por especialistas como a melhor radiografia dos assentamentos do Brasil. Nessa obra comprova-se que a Reforma Agrária gerou “favelas rurais” por todo o País.

A entrevistada, em seu novo depoimento, ilustra com fatos chocantes a realidade crua das invasões no Brasil. A entrevista foi concedida ao Sr. Hélio Brambilla, colaborador de Catolicismo.

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Catolicismo — A Sra. poderia explicar para nossos leitores o motivo que a levou a ter que locomover-se numa cadeira de rodas?

Dona Lícia — Foi um acidente. Eu estava examinando a boiada na fazenda. Uma vaca avançou sobre o cavalo que eu montava. Assustado, ele lançou-me sobre um montículo de pedras. O nervo da coluna rompeu-se e fiquei paraplégica.

Catolicismo — Uma provação!

Dona Lícia — Minha querida mãe ensinou-me que, em tudo nesta vida, devemos ver a mão de Deus. Assim encarei com resignação a vontade divina, e estou há 27 anos em cadeira de rodas. Em Washington consultei um dos maiores médicos especialistas americanos. Na foto tirada nessa ocasião, no sorriso nela estampado, pode-se discernir minha alegria de viver e como, apesar de tudo, estava abraçando a cruz que Deus Nosso Senhor me deu.

 Dona Lícia (círculo) com as crianças da creche construída e mantida pela entrevistada

Catolicismo — O que a Sra. tem a dizer sobre a atuação do pessoal da Teologia da Libertação na invasão de sua fazenda?

Dona Lícia — Só não perdi a fé porque minha formação foi muito sólida e eu soube discernir, como Cristo ensina na parábola do “joio e do trigo”. Explico-me melhor com fatos. A fazenda foi invadida na calada da noite por magotes revolucionários do MST, e todo mundo na cidade sabia que os elementos da Pastoral da Terra, teleguiada pelo padre, foram os propulsores da invasão. Perpetrada contra uma pessoa em cadeira de rodas, que no exato momento da invasão passava por uma cirurgia em São Paulo, e se ela não fosse feita de imediato, sobreviria a morte. Voltei do hospital, e ainda convalescente enfrentei os invasores sozinha, pois meus filhos adolescentes estudavam em Londrina, São Paulo e nos EUA. Na sede da fazenda eu era ameaçada pelos vândalos, que à noite davam tiros para o ar e atiravam tijolos e pedras na casa para que eu a abandonasse. Fiquei refém dos desordeiros, de tal forma que eles não permitiram que eu saísse da fazenda para vacinar meu netinho contra a paralisia infantil. Só pude sair quando chegou a escolta policial. Minha pressão arterial subiu “às nuvens”, e até hoje carrego as seqüelas cardiológicas da agressão que sofri. O padre da paróquia ia ao local das invasões a fim de celebrar Missas para os invasores. Mandei então meu empregado pedir-lhe que me trouxesse a Santa Comunhão, porque gosto de comungar com freqüência. Ele negou-se a fazê-lo, por imaginar que eu teria um grande “pecado social”: ser proprietária!

Catolicismo –– Naturalmente tal atitude magoou muito a Sra.

Dona Lícia — Até mais do que a perda da fazenda, magoou-me este episódio. Perdôo o sacerdote, mas esquecer, não esqueço! Várias igrejas da cidade de Londrina e em locais onde meu pai possuía fazendas foram parcial ou quase totalmente construídas por ele e por mim. Procurei ajudar as obras católicas como um legado dele. Agora, receber isso como paga… é como diz o ditado popular: “O dia do favor é a véspera do ponta-pé”, da ingratidão dos homens. É uma violência moral muito séria.

Catolicismo –– É verdade que num livro denigrem a figura da Sra. e dos colonizadores de Querência do Norte?

Dona Lícia –– Pois é! Fiquei estupefata quando há poucos dias me presentearam um livro lançado em 2002 pela editora Massoni, de Maringá, no qual a autora esquerdista Adélia Aparecida de Souza Haracenko expõe uma tese de dissertação de mestrado em geografia na Universidade Estadual de Maringá, em que denigre os colonizadores do noroeste do Paraná. Nela são infamados os colonizadores do noroeste do Paraná.

Catolicismo –– O que diz a obra?

Dona Lícia –– A tese de mestrado, transformada em livro com 218 páginas, é de um sectarismo revoltante! Não tratarei da parte histórica, em que cita depoimentos de poucos fundadores da cidade sobre aspectos sócio-econômicos do desbravamento e da colonização. O que me revoltou foi a parcialidade com que uma pessoa de mentalidade esquerdista trata da questão fundiária, tendo ouvido apenas a “outra parte” –– ou seja, os revolucionários do MST –– sem apresentar uma palavra sequer da parte contrária, nós proprietários legítimos, espoliados e invadidos por hordas de bandidos à revelia da lei.

Catolicismo –– Podia detalhar mais o conteúdo do livro?

Dona Lícia –– Depois das considerações sócio-econômicas iniciais, a autora, à página 113, sob o título Os conflitos pela posse da terra e os assentamentos rurais, cita um tal padre Naves, da CPT de São Paulo:“Luta pela terra é a Mãe de todas as lutas”. Na página 116 figura um gráfico com o título –– “Grandes grilos de terra no Paraná”, e na página 117 é apresentado um mapa que localiza os supostos grileiros. Acusa o saudoso governador Moisés Lupion de ser o responsável por tais concessões de terras. A distribuição de terras pode não ter sido perfeita, mas todo mundo sabe que no Brasil o desbravamento foi feito assim: capitanias hereditárias, sesmarias, grandes fazendas, e posteriormente a propriedade foi sendo subdividida. Nos EUA, maior produtor agrícola do mundo, há pouco mais de um milhão de propriedades; no Brasil, são mais de 5 milhões.

 Tese de mestrado de Adélia A. Haracenko

Catolicismo –– O que mais a Sra. teria a dizer sobre a fazenda, produção, empregos e meio ambiente?

Dona Lícia –– A fazenda invadida era modelo, com o gado todo registrado, indicando de onde foram compradas as matrizes de renomado valor genético. Tinha pouco mais de dois mil alqueires, adquiridos por meu pai de pequenos e médios proprietários que lhe venderam seus lotes. Não era absolutamente um “latifúndio grilado”, como a autora da tese pretende insinuar. Gerava muitos empregos diretos e indiretos. Um boi reprodutor da fazenda era vendido por até dez vezes mais que um boi comum, gerando mais impostos para o município. No tempo em que nem se falava em preservação ambiental, meu pai deixou 400 alqueires de reserva florestal intocada. Somada às matas de outro fazendeiro, formava um grande conjunto que se estendia até as margens do rio Paraná, onde havia animais e aves de várias espécies. Quando meu pai faleceu, metade da fazenda foi herdada por meu irmão e a outra metade por mim. A área de preservação ficou intacta, pois nunca colocamos fogo na floresta e nem sequer no pasto. Hoje, segundo consta, tudo virou madeira para serrarias ou carvão para siderurgia… Fruto dos assentamentos…

Catolicismo –– O que mais se pode dizer do livro?

Dona Lícia –– Na página 129, Adélia Aparecida de Souza Haracenko se compraz em citar a luta desenvolvida em 1980 pelo movimento Justiça e Terra, que foi o embrião do MST e se empenhou para estabelecer o assentamento dos atingidos pela barragem de Itaipu, re-alocados para Arapoti (PR). Ele nada tinha contra esse re-assentamento, mas todo mundo sabe que ele foi feito nos moldes de Reforma Agrária, restando hoje pouquíssimos dos primeiros assentados.

Catolicismo –– Que outros dados de Reforma Agrária ela cita?

Dona Lícia –– Cita vários encontros bafejados pela CPT, até o mais decisivo, em janeiro de 1984, realizado na cidade de Cascavel, onde foi criado o MST. Dois anos depois, em 1986, o MST já chegava a Querência do Norte, invadindo a fazenda Pontal do Tigre.

Catolicismo –– Ela refere-se à invasão de sua fazenda?

Dona Lícia –– Na página 147, narra que os pretendentes aos lotes da Reforma Agrária não cabiam no assentamento da fazenda Pontal do Tigre, e sobravam mais de 300 famílias que deambulavam como hienas famintas atrás de sua presa. Elas invadiram então a fazenda Saudadeem Santa Izabel do Ivaí, Aporangaba I e II de propriedade minha e de meu irmão, e ainda a fazenda Monte Azul. A autora teve a desfaçatez de dedicar apenas sete linhas à invasão de minha fazenda, citando uma reportagem de jornal sobre a luta empreendida por mim na justiça para que não ocorresse a desapropriação, pois a vistoria do INCRA não passava de “erro grosseiro”.

Catolicismo –– O que mais lhe indignou?

Dona Lícia –– O que me deixou fora do sério foi que essa mestranda foi parcial, entrevistando vários agitadores dos sem-terra, não vindo pedir sequer uma palavra a mim, e a outros expropriados. Violando, pois, o princípio consagrado nos povos civilizados: “Audietur et altera pars”(ouça-se também a outra parte). Diante de tal injustiça, ela procurou dar a idéia de que puros inocentes, ingênuos camponeses, por fim foram atendidos em seus anseios por um lote de terra…

Catolicismo –– O que se pode dizer da Universidade Estadual de Maringá?

Dona Lícia –– A autora não diz no livro qual foi a conceituação dada pela UEM à sua tese, mas julgo que algo acima de zero seria muita coisa. Uma injustiça como essa, ser acatada e aprovada… por uma Universidade com o porte e prestígio da UEM? Custo a acreditar.

 

Catolicismo — A Sra. gostaria de dizer a nossos leitores algumas palavras como conclusão?

Dona Lícia –– Desejo aos leitores da revista Catolicismo que nunca nenhum deles, seus familiares, amigos, desconhecidos, ou até inimigos, se porventura tiverem, passem pela humilhação, achincalhamento e violência moral pela qual passei, e pelo desprezo de um censurável sacerdote, um mau pastor que defendeu o lobo e humilhou a ovelha. Quanto a essas pessoas indignas, que me espoliaram e cometeram grandes injustiças contra mim, deixando até seqüelas cardíacas em minha saúde, só desejo que agora me deixem em paz. Deus fará justiça, já que os homens não a fizeram!

Violência até contra cadáveres

Coincidentemente com a execução de quatro colonos e vigias de uma fazenda em Pernambuco por membros do MST, chegou a nossas mãos farto material sobre a invasão da fazenda São Vicente em Salgadinho (PE), onde a sanha revolucionária do MST não poupou nem mesmo os cadáveres.

A fazenda foi invadida em 18 de maio de 2003 por integrantes do MST, durante a madrugada, e o primeiro ato que praticaram foi trocarem a placa de Fazenda São Vicente por AssentamentoCarlos Marighella.

Pertencia ao Dr. Raimundo Barbosa Braga, à professora Neuciene Souto Maior Braga e mais dois outros herdeiros. Tinha 123 hectares, era produtiva, e pelo tamanho e produtividade não figurava em nenhum dos requisitos para ser desapropriada pela espúria lei de Reforma Agrária

Quem narra a tragédia é Raymundo Wilson Barbosa Braga, filho de um dos proprietários: “Sou mais uma das verdadeiras vítimas do terrorismo, junto com minha família”. O MST invadiu e ocupou a fazenda São Vicente por quatro meses. Nesse período, os invasores não sofreram nenhuma ameaça nem agressões por parte dos donos.

Prossegue Raymundo Braga sua narrativa: “Logo depois da invasão, minha mãe, irmã e tia foram obrigadas a entrar na própria casa para fazer a remoção forçada de seu pertences […]. Meu  pai foi obrigado a vender seus bois e cavalos, sob a ameaça de que, se ele não os vendesse, os perderia!

“Nesse período […] os invasores ocuparam todas as dependências da fazenda, deixaram contas altíssimas de água e luz para meu pai pagar, destruíram todas as plantações da fazenda, arrombaram o escritório de meu pai, inclusive destruíram vários livros manuscritos que ele não havia publicado.

“Roubaram centenas de objetos, destruíram uma reserva florestal permanente e inclusive estão sendo processados pelo Ibama”.

Violação dos cadáveres

Era costume do Brasil de antigamente ter cemitérios nas próprias fazendas. Sobretudo na zona canavieira do Nordeste, quase todos os “engenhos’ (como são denominadas as fazendas de cana) possuem um pequeno cemitério. Pois bem, esses malfeitores “violaram a sepultura dos antepassados do meu pai em busca de dentes e objetos de ouro”.

Esse fato bárbaro e assombroso consta nos autos do processo na página 2. Também no documento 4, no livro de “registro de queixas” da Delegacia de Salgadinho, consta dita barbárie. A testemunha Edilson Miguel da Silva Barbosa (documento 5) atesta o fato da violação da sepultura. E no documento 55, a Exma. Juíza da comarca de João Alfredo, Dra. Wilka Pinto Vilela, ao conceder a liminar de reintegração de posse aos legítimos proprietários, faz referência à violação “dos túmulos do cemitério particular da família”.

A seqüência de fatos narrados pelo jovem fazendeiro pode ser obtida no seu site… www.dominiofeminino.com.br

São impactantes esta e outras monstruosidades que se operam em nosso País, sem respeito sequer ao “descanso dos justos que morreram na paz do Senhor”, como tão poeticamente nos diz a Liturgia católica para o sepultamento de um fiel.

Violam as leis civis, que tipificam como crime profanar cadáveres, e violam ditames da Santa Igreja, que condena essa prática como grave profanação.

Por acaso incomodam-se eles com isso? Que nada! Dão de ombros e, ao que parece, observariam: “A lei, ora, a lei… Deus e sua Lei…”. Pela Teologia da Libertação, ensinada a eles pela CPT, os pobres são como que “divinizados”. Em sua concepção, é no pobre oprimido que está o Cristo. Eles são considerados como “deusinhos’ acima de toda a lei e de toda ordem!

 Fonte: Revista Catolicismo, Abril 2009

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