Ao considerar o universo em sua unidade e variedade, em sua perfeição e esplendor, em sua hierarquia harmônica e matizada, não se pode deixar de admirar nas criaturas a grandeza sem medida de uma ordem perfeita e equilibrada. Na sua simplicidade e alvura, o lírio, por exemplo, foi enaltecido pelo divino Salvador, quando disse que nem Salomão em toda a sua pompa e majestade se vestiu como um deles.
O sol no seu esplendor faz as criaturas ser aquilo que elas são: um encanto inigualável para o próprio Criador, para os anjos e para os homens. A gota de orvalho, que não existiria ou não seria vista sem a luz, constitui um pequeno mundo de maravilhas, sobretudo quando repousam sobre graciosas e co
loridas pétalas de rosa, que nenhuma troca amistosa de cortesias emula em beleza, leveza e graça. O cristal puro e alvo, atravessado pelos raios do sol é capaz de transformar um ambiente num mundo de fadas. Assim Deus, na sua infinita sabedoria, criou o mundo para cercar o homem de perfeições e de maravilhas que fossem luzes reflexas d’Ele e assim tributar-Lhe as devidas homenagens. Em outro patamar da hierarquia encontram-se as pedras preciosas e semipreciosas, como o jaspe, a esmeralda, a ametista, o rubi, entre outras.
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Entre os metais, o ouro e a prata são símbolos que refletem
realidades superiores, mais altas, mais nobres e distintas. Em seguida, podemos contemplar as flores, as plantas, os arbustos e as árvores. Em outro escalão as aves, os pássaros e tudo que enaltece a Deus e proclama a Sua magnificência dentro desta ordem inexcedível. Há, entretanto, algo mais além, pois tal ordem foi posta por Deus para refletir a Sua obra-prima, Maria Santíssima.
Para utilizar linguagem figurada e simbólica, a Mãe de Deus é um oceano de perfeições e de graças por ser Ela quem é. O grande devoto de Nossa Senhora, São Luís Maria Grignion de Montfort, ao descrevê-La assim se expressou: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e chamou-as Maria. Este grande Deus tem um tesouro, um depósito riquíssimo, onde encerrou tudo que há de belo, brilhante, raro e precioso, até seu próprio Filho; e este tesouro imenso é Maria, que os anjos chamam o tesouro do Senhor, e de cuja plenitude os homens se enriquecem”.
Convém ressaltar que Cristo, por ser Deus, não podia ter pecado original. Maria Santíssima foi isenta do pecado por um especial privilégio outorgado pelo próprio Deus, por ter sido eleita para d’Ele se tornar Mãe. Ao agir assim, a Santíssima Trindade fez o caminho inverso da primeira mulher que introduziu o pecado no Mundo por sua desobediência, dispondo que Maria fosse o contrário dessa mulher ao inocentá-La e isentá-La da nódoa do pecado original. O que Eva perdeu por orgulho e desobediência, Maria conquistou pela sua humildade e obediência, merecendo que o próprio Deus fizesse n’Ela maravilhas.
O Anjo Gabriel chamou-a de “cheia de graças” e Santa Isabel, de “bendita entre todas as mulheres”. A inteligência de Maria não se ofuscou, sua vontade não se enfraqueceu, e Ela nunca teve inclinação para o mal. Maria conquistou todas as graças e se tornou agradável a Deus. E pelo privilégio singular de ter sido concebida sem pecado, nasceu imaculada – portanto, com o direito, por nascimento e por conquista, à prerrogativa perfeita de ser Mãe de Deus, para que seu Filho redimisse o gênero humano das consequências do pecado original.
Após afirmar que todos pecaram em Adão, São Paulo sustenta com fundamento que, na vontade de Adão, como chefe e cabeça do gênero humano, estavam todas as vontades. Maria Santíssima, pertencendo à raça humana, pertenceu a uma raça pecadora, mas sem ter jamais pecado, pois Deus, por privilégio singular, A preservou no primeiro instante de contrair a nódoa original, já que era predestinada a ser a Mãe do Salvador do mundo. Repugna ao próprio Deus conviver e ser gerado por uma mãe pecadora, pois Jesus Cristo deveria ser a coroa e a perfeição de todas as criaturas.
Por isso a iconografia representa Maria Santíssima esmagando a serpente infernal e tendo os braços abertos para indicar que Ela trouxe o Autor da graça, o Redentor divino que nos deu a redenção e abriu as portas do Céu. No dia 8 de dezembro, o Papa Pio IX proclamou solenemente o dogma de sua Imaculada Conceição. Com estas palavras presto o meu tributo filial à Mãe de Deus, pedindo-lhe que vele por todos os leitores.