Enrique, conde de Champagne e Brie foi chamado o conde Enrique o Largo, e ele mereceu bem esse nome, pois ele foi largo com Deus e com os homens.
Que foi generoso em relação a Deus atestam-no a igreja de Santo Estevão de Troyes e as outras igrejas que ele fez construir na Champagne.
E generoso em relação aos homens como ficou manifesto no caso de Artaud de Nogent e em muitas outras ocasiões.
Artaud de Nogent era o burguês em quem o conde mais confiança tinha no mundo. Ele era tão rico que pagou de seu próprio bolso o castelo de Nogent l’Artaud.
Aconteceu que o conde Enrique descia de seu palácio em Troyes para ouvir a Missa em Santo Estevão num dia de Pentecostes.
Embaixo da escadaria um nobre cavaleiro pobre se pôs de joelhos e lhe disse estas palavras:
‒ “Meu senhor, eu vos rogo em nome de Deus que me deis do vosso para que eu possa casar minhas filhas que vós vedes aqui”.
Artaud, que vinha atrás do conde, disse ao cavaleiro pobre:
‒ “Senhor cavaleiro, não é cortês pedir a meu senhor, pois ele deu tanto que não tem mais nada para dar.”
O generoso conde voltou-se para Artaud e lhe disse:
‒ “Senhor vilão, vos não dizeis verdade dizendo que eu não tenho mais nada para dar: eu vos tenho a vós mesmo!”
E se dirigindo ao cavaleiro, disse:
‒ “Tende, pois, senhor cavaleiro, eu vos dou ele, e eu fico garante da doação”.
O cavaleiro não perdeu o sangue frio, e pegou Artaud pelo manto dizendo que não largaria enquanto ele não pagar.
E antes do conde se afastar, Arnaut já tinha entregue quinhentas livras.
(Fonte: Joinville, “Vie de Saint Louis”, Livre de Poche, Garnier, Paris, nº91)