Senhor, olhai-nos com compaixão!

0

Natal-Presépio

De repente, os pastores que cuidavam de suas ovelhas nos arredores de Belém ouviram um canto magnífico: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade”. Diante do inesperado, eles se dirigem apressados rumo à manjedoura, onde encontraram o Menino reclinado e envolto em panos, sob os olhares enlevados e vigilantes de Maria e José.

Segundo a tradição, a neve caía mansamente. Enquanto todos dormiam no aconchego dos seus lares, um pobre casal se encontrava na gruta fria, pois não encontrara guarida nem mesmo em casa de parentes, pois José e Maria viviam em Nazaré e se encontravam ali em razão de uma obrigação cívica, um recenseamento.

Noite de luz e neve cobrindo a terra, circunstâncias ideais para se cantar a glória do Filho de Deus que acabava de nascer para habitar entre nós, para governar a Terra, conquistar as almas e lutar contra o demônio. Acontecimento tão espetacular que espargiu alegria no universo inteiro e causou pavor nas hostes seguidoras de Satanás.

Toda a natureza se regozijou em homenagem a Jesus que acabava de nascer: as fontes se tornaram mais cristalinas e jorravam com melodia encantadora de modo a elevar os espíritos; as flores desabrochavam mais bonitas e exalavam inexcedível perfume em honra ao recém-nascido; as estrelas brilharam com maior intensidade a fim de prestar justa vassalagem ao Menino-Deus.

A despeito de ser noite, por todas as partes do mundo a mesma cena se repetia. E em toda a Terra se cantou e ainda se canta: “Noite Feliz, noite feliz. Oh! Jesus, Deus de amor, pobrezinho nasceu em Belém. Eis na lapa Jesus nosso bem, dorme em paz oh! Jesus. Dorme em paz oh! Jesus!”.

Estamos comemorando 2014 anos deste magno acontecimento que dividiu a História em duas partes: antes de Cristo e depois de Cristo! Se de um lado, como afirmou Santo Agostinho, podemos exclamar “oh feliz culpa que nos mereceu tão grande Salvador!”, de outro devemos nos perguntar o que fizemos do Sangue precioso do Redentor? O que resta de Cristandade em nossos dias? Dói dizê-lo, mas o mal penetrou até nos lugares mais sagrados da Terra.

Creio ser bem o caso de repetir com Plinio Corrêa de Oliveira as palavras contritas, mas plenas de zelo pelo Senhor Deus dos Exércitos, que ele escreveu em ‘O Legionário’ por ocasião do Natal de 1946. Elas serão por certo o melhor presente que podemos oferecer ao Menino Jesus neste Natal:

“Vede-nos, Senhor, e considerai-nos com compaixão. Aqui estamos, e Vos queremos falar. Nós? Quem somos nós? Os que não dobram os dois joelhos, e nem sequer um joelho só, diante de Baal.

“Os que temos a vossa Lei escrita no bronze de nossa alma, e não permitimos que as doutrinas deste século gravem seus erros sobre este bronze sagrado que vossa Redenção tornou. Os que amamos como o mais precioso dos tesouros a pureza imaculada da ortodoxia, e que recusamos qualquer pacto com a heresia, suas obras e infiltrações.

“Os que temos misericórdia para com o pecador arrependido, e que para nós mesmos, tantas vezes indignos e infiéis, imploramos vossa misericórdia – mas que não poupamos a impiedade insolente e orgulhosa de si mesma, o vício que se estadeia com ufania, e escarnece a virtude.

“Os que temos pena de todos os homens, mas particularmente dos bem-aventurados que sofrem perseguição por amor à vossa Igreja, que são oprimidos em toda a Terra por sua fome e sede de virtude, que são abandonados, escarnecidos, traídos e vilipendiados porque se conservam fiéis à vossa Lei.

“Aqueles que sofrem sem que a literatura contemporânea se lembre de exaltar a beleza de seus sofrimentos: a mãe cristã que reza hoje sozinha diante de seu presepe, no lar abandonado pelos filhos que profanam em orgias o dia de vosso Natal; o esposo austero e forte que pela fidelidade a vosso Espírito se tornou incompreendido e antipático aos seus; a esposa fiel que suporta as agruras da solidão da alma e do coração, enquanto a leviandade dos costumes arrastou ao adultério aquele que devera ser para ela a coluna de seu lar, a metade de sua alma, “outro eu mesmo”; o filho ou a filha piedosa, que durante o Natal, enquanto os lares cristãos estão em festa, sente mais do que nunca o gelo com que o egoísmo, a sede dos prazeres, o mundanismo paralisou e matou em seu próprio lar a vida de família. O aluno abandonado e vilipendiado pelos seus colegas, porque permanece fiel a Vós.

“O mestre detestado por seus discípulos, porque não pactua com seus erros. O Pároco, o Bispo, que sente erguer-se em torno de si a muralha sombria da incompreensão ou da indiferença, porque se recusa a consentir na deterioração do depósito de doutrina que lhe foi confiado. O homem honesto que ficou reduzido à penúria porque não roubou.

“Estes são, Senhor, os que no momento presente, dispersos, isolados, ignorando-se uns aos outros, entretanto, agora, se acercam de Vós para oferecer o seu dom, e apresentar a sua prece. Dom tão esplendido na verdade, que se eles Vos pudessem dar o sol e todas as estrelas, o mar e todas as suas riquezas, a terra e todo o seu esplendor, não Vos dariam dom igual”.

Pe. David Francisquini é sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira-RJ.

Fonte: Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

Artigo anteriorO que falavam a mula e o boi há dois mil anos – Conto de Natal
Próximo artigoO milagre de Anna Santaniello (67º reconhecido canonicamente)

O que você achou do artigo? Ajude-nos com seu comentário!

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.