O caso de N., de 11 anos, foi emblemático. Sumiu de casa, ninguém a achava no bairro; telefonaram às amigas, procuraram na escola, estudaram o percurso que fazia para esta, indagaram os vizinhos.
Estava perdida. Ou ao menos, até que a mãe lembrou que ela passava horas diante do computador ligada no Facebook. Foi a salvação, segundo noticiou o jornal argentino “Clarín”.
Com o apoio da Polícia Informática Federal da Argentina, a equipe operativa do Conselho de Direito de Crianças e Adolescentes da Cidade de Buenos Aires vasculhou seu computador e encontrou seu chat com um homem que a convidara para um encontro.
A menina apareceu ferida no dia seguinte. “Foi dançar num local onde aos 11 anos não devia ir”, explicou Silvia Nespereira, diretora do Conselho.
Segundo a responsável, 10% das crianças extraviadas denunciadas ao Conselho estão relacionados com o uso de Facebook.
“É lamentável, há meninos e meninas que vão se encontrar com pessoas que conheceram pela rede. Às vezes se saem bem, mas outras vezes se saem mal. Tivemos o caso de meninas que foram se encontrar com homens que não eram boas pessoas”, acrescentou Nespereira.
É indispensável que a família conheça a senha dos filhos para entrar no Facebook. Num menor de idade a confidencialidade e o direito à privacidade está nas mãos do responsável legal, segundo a Convenção internacional dos Direitos do Menino e da Menina, explicou Jorge Azaakl, diretor operativo de intervenções especiais de crianças extraviadas da Cidade de Buenos Aires.
Em 2011, houve 1.160 casos. Deles, 80% eram de meninas com idades entre 13 e 17 anos. Mas nos últimos anos apareceram casos de meninas com 11 e 12 anos de idade.
No total, 95% regressaram ao lar sem danos. Porém, 5% sofreram abusos sexuais, violências e agressões físicas ou psicológicas.
“Fazem amizades com amigos virtuais que não sabem quem são. Houve histórias de mocinhas que foram ter com homens que não tinham a idade delas, que eram adultos ou pertenciam a redes de pornografia para menores”, explicou Lidia Grichener, presidente da organização Missing Children.
É cada vez mais frequente a criação de perfis abertos para todos e a difusão de fotografias ou vídeos com poses sexuais.
Segundo a Missing Children e o Conselho, é necessário denunciar o quanto antes o desaparecimento do menor, porque “quanto mais pessoas souberem, mais possibilidades há de recuperá-lo”.
Facebook e as redes sociais implicam também uma enganosa abertura para um túnel de desgraças que podem destruir toda uma vida.