Certa vez um velho ancião, morador de uma antiga vila, teve de tomar uma decisão que marcaria o futuro de duas crianças; duas filhas lindas cujo cuidado foi efetuado com muita destreza, sabedoria e perfeição. Era esse o ato que marcaria o desfecho de seu livro.

A filha mais velha era a mais dedicada ao trabalho que o Ancião a designava. Foi uma combatente fervorosa das fraquezas. Era absolutamente uma fiel serva de seu pai.

A mais nova, porém, sempre foi relaxada. Não possuía empenho em serviço algum. Os conceitos que aprendera com o velho não queria vivenciá-los.

Porém, era hora das duas tomarem seus rumos.

O ancião como sabia de tudo, não fez muitos esforços para descobrir qual era o meio necessário para conceber um direito tão nobre a duas jovens tão inexperientes. Era necessária uma prova.

Em um determinado dia, movido por uma serena tarde de outono, onde a natureza havia finalmente encontrado o equilíbrio, o velho chamou as duas garotas.

A filha mais nova e a mais velha tomaram um passo à frente e ouviram atentamente cada palavra que saia da boca do sábio:

– Após anos de ensinamento em virtudes eu finalmente concedo o maior poder que um homem pode ter nesse lugar. Em nome da ordem natural do universo eu declaro que vocês não estão mais sob meus cuidados.

As jovens resplandeciam de contemplação, como se um serafim houvesse as tocado.

Porém, a complacência não tardou por muito, pois o ancião exclamou algo que fez com que as duas garotas sentissem um terremoto dentro de suas almas:

– Advirto-vos apenas de uma coisa: o mundo não vos ama. Se quiserdes a liberdade enfrente-o com todas as veras de vossas almas. Não se tornem escravas das regalias e dos prazeres que ele vos entregará.

O ancião deu uma última ordem:

– Quando saírem da vila para se dirigirem à estrada leiam a placa acima de suas cabeças.

As duas escutaram atentamente, agradeceram a hospitalidade por todo o tempo que ali passaram e finalmente partiram com seus pertences em uma trouxa.

Chegando à saída da vila havia uma placa escrita: a sua direita é a minha direita.

Após lerem o aviso, tomaram o rumo na longa estrada que se encontrava logo à frente.

Chegando a uma determinada parte da estrada as duas foram surpreendias por dois caminhos distintos.

Um deles possuía uma curva monstruosamente sinuosa, bordada por espinhos, larvas e bichos da mais repugnante natureza.

O outro caminho, por sua vez, era iluminado por um brilho dourado, com pedras preciosas de natureza mineral tão admirável, que homem algum rejeitaria tamanha benevolência que ali transbordava.

As duas ali paradas olharam-se e iniciaram um debate abordando a confiabilidade dos dois caminhos.

Uma via possuía uma aparência horrorosa, nojenta, fedida, maldita e desgraçada. A outra, porém, uma aparência tentadora, esplendorosa, agradável, cheirosa; um paraíso.

Sem pensar muito, a irmã mais nova tomou um passo pisando no chão dourado. Todavia, ela foi impedida de continuar com um puxão que a outra o dera. Isso foi suficiente para coloca-las novamente em um debate:

– Tu ouviste os ensinamentos do velho durante anos. Não podes seguir aquilo que o mundo te entrega. Não foi isso que nosso reverendíssimo mestre nos ensinou.

A outra, porém, sem escrúpulos exclamou:

– Tu não mandas em mim! Nem tu e nem mais o velho! Tenho o poder de tomar as decisões que me convém. E tu não deves se meter em minhas escolhas!

Indignada, a irmã mais velha esbravejou mais alto:

– As tentações e os sofrimentos são necessários para o amadurecimento do espírito! Tu bem sabes disso! Além do mais, tu se lembras do que estava escrito na saída da vila! A nossa direita é a direita do velho, porém, tu não percebeu que o caminho que queres pisar é o da esquerda.

A garota tentada cessou por um tempo e sentiu remorso…

Ali elas ficaram durante certo período. Todavia o debate retornou acendido por um chama:

– Devemos ter certeza no que acreditamos! – disse a mais nova. Se a minha consciência me coloca nessa posição é porque devo seguir esse caminho! Não é isso que o velho dizia? Pois bem. Seguirei em frente. Tu é que esta errada, porque acredita que teu conhecimento é maior que o do velho.

– Pois, não. Não! – respondeu a irmã. O velho nos disse que devemos ter certeza no que acreditamos, mas devemos nos basear na razão. Não é racional pensar que fora o velho que disse isso? Ele não possui mais conhecimento do que nós? Portanto, se sim, tu é que estas errada! Uma vez que não se baseia na razão, mas nas próprias vontades de tomar teu rumo!

– Não! – continuou a teimosa. Tu queres me levar ao teu caminho para pegar meus pertences. E isso é racional de se pensar, uma vez que tu terás garantia pelo menos de possuir alguma coisa caso siga o caminho à direita.

Sem deixar a mais velha responder, ela saiu correndo pelo caminho dourado, deixando sua irmã para trás.

A rejeitada, com coragem, virou-se à direita rompendo marcha.

A via desagradável era fria e escura, o que causou enorme aflição à irmã da teimosa. Conforme caminhava, as únicas coisas que ganhava eram feridas por ocasião das pedras no chão, arranhões com os espinhos das árvores e picadas dos insetos que “saboreavam” o ambiente repugnante.

Por outro lado, o caminho dourado entregou preciosidades à teimosa. A cada passo que dava em suas andanças adquiria roupas esplêndidas, bijuterias, colares, medalhas e tudo da mais agradável matéria.

Graças a essas peças, ela foi adquirindo peso, o que dificultou a sua caminhada ao longo do percurso. Enquanto a outra caminhava leve como uma pluma.

Em uma determinada parte do trajeto, as duas enxergaram algo ao longe.

A teimosa viu um cálice feito de diamante, bordado por detalhes preciosos, que transbordava moedas sem cessar. Em volta do cálice se encontrava um local majestoso. Era rodeado por frutas, grãos e carnes das mais diferentes variedades.

Havia uma parede – parecia que era o fim do caminho – atrás do cálice e possuía uma placa.

Ao contrário do que a mais nova viu ao longe, a irmã mais velha viu uma espada enorme cravada em uma pedra, e que o caminho continuava por de trás daquela rocha.

A jovem deduziu que aquilo seria um prêmio destinado a ela, e, sobretudo que não se tratava de um prêmio do mundo, porque o mundo nunca lhe ofereceria armas, uma vez que ela as usaria para lutar contra ele.

Todavia, as duas se encontraram em um paradoxo. No caminho à direita havia um rio que levava à espada. E no outro, havia apenas uma poça d’agua.

A jovem que sofreu o caminho todo com as contrariedades, tomou um passo com coragem e entrou no lago nadando até a encosta.

Chegando lá, subiu a rocha e com muito esforço descravou a enorme espada. Observou de forma oportuna uma placa que se encontrava atrás da grande pedra. Ela marcava um caminho novo.

A mais nova viu a poça d’agua em sua frente e a encarou em tom de sarcasmo. Até riu. E no auge de seu orgulho pisou na poça e sumiu. Ela havia afundado com todo o peso dos objetos que levava. E em verdade não se tratava de uma simples poça, era um buraco que dava acesso a uma fenda.

Aos poucos a teimosa foi se afogando…perdendo o fôlego…a consciência e por fim perdeu a própria vida. A outra ao invés de perder, conquistou-a.

E assim o livro foi fechado pelo livre arbítrio.

Concluiu-se que só a liberdade é a responsável por garantir a vida, a libertinagem, porém, a morte; uma liberta e a outra escraviza.

 

Moral da história: sofrer é viver.

 

Mas o que estava escrito na placa?

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Técnico de logística pela ETEC Lauro Gomes e membro "de jure" do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira

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