Boletim da Frente Universitária Lepanto – Trombadinhas, Eleições, Rock, Castelos, A Sedução da Modernidade, etc.
Setembro/Outubro de 1998
Editorial
Em épocas de crise, existem dois tipos de homens: aqueles que se deixam levar por ela, e aqueles que se erguem contra ela e mudam os rumos da História!
Imaginemos um cordeiro limpo, branco, encantador, apascentando numa pradaria magnífica. De repente, voa sobre ele uma águia, e o convida:
– “Se quiseres, eu te pego pelas garras e te levo até o alto da montanha. Ali, terás algo de inimaginável. Mas tens que deixar a pradaria.”
Qual será a resposta do cordeiro?
Qual seria a nossa resposta? Preferiríamos a segurança da pradaria ou os vôos grandiosos da águia?
Aos seus críticos, Post-modernidade responde com esses trechos. Que fiquem na pradaria com a ilusória segurança de uma vida monótona e medíocre…
Quanto aos homens de Fé e de coragem, Post-modernidade convida ao heroísmo da águia.
A História, mestra da vida, ensina-nos que várias civilizações desapareceram ao longo dela. Já não existe mais o império romano que se dava ao luxo de chamar o Mediterrâneo de Mare nostro, os egípcios das monumentais pirâmides… Povos com vocações grandiosas mas que decaíram até a morte.
Nascida sob o signo do Cruzeiro do Sul, tendo como primeiro ato oficial uma Santa Missa, a Terra de Santa Cruz afasta-se progressivamente de seu passado católico! Perseguida a virtude, o país naufraga nas ondas da corrupção e da imoralidade.
Entretanto, tal crise não afeta apenas o Brasil, mas todo o ocidente cristão. Atravessamos um momento histórico “em que uma humanidade inteira está escolhendo por Cristo ou contra Cristo”. Já não são os bárbaros que avançam sobre Roma, mas são os próprios católicos que se voltam contra a Igreja querendo fazer uma religião sem moral e vivendo como se Deus não existisse.
“Eu serei a vossa recompensa demasiadamente grande!”. Com essas palavras, Nosso Senhor nos convidou a deixar nossa pequena pradaria e a enfrentar o ambiente que nos cerca.
Sejamos do número daqueles que souberam alterar o curso da História pela sua fidelidade invencível à Roma dos Papas, a “nova Jerusalém, de beleza perfeita, honra, glória e gáudio do mundo inteiro.’
Trombadinhas: mais violino e menos Rock
Os diretores do metrô da cidade de Newcastle acabam de pôr em prática uma idéia realmente eficiente.
Cansados de atos de vandalismo, furtos e assaltos praticados sobretudo na estação de Shiremoor, empregavam todos os meios clássicos para debelar a ação de “trombadinhas”: vigilância redobrada, ação policial, proibição de ajuntamentos etc. Mas nada. As desordens continuavam. Somente em Shiremoor, os danos causados pela violência oscilavam entre 800 mil a 1 milhão de reais por ano.
Aqui está o segredo do metrô de Newcastle: sua direção passou a tocar na estação, não mais o hard rock ou sucessos do hit parade pop, mas… música clássica! Serena, harmoniosa, inteligente, ela acalma os ânimos. Nada das excitações desordenadas do rock.
Os “trombadinhas” não agüentaram. Eles que vinham resistindo aos bem treinados vigias do metrô e à polícia municipal bateram em fuga ao som de tocatas.
Um professor do Royal College of Music, tido como inspirador da operação, assumindo ares de Sherlock Holmes desvendando enigmático crime, declarou à imprensa, com a fleugma dos vencedores: “O fato é revelador do poder da música sobre os humores; ela pode alterá-los; os ‘trombadinhas’ não encontraram nos clássicos o impulso ao crime”.
Eis pois a fórmula de comprovado sucesso para “limpar” certos lugares de perigosos ajuntamentos: mais violino e menos cassetete!
(ABIM)
Eleição sem idéias tumultua entradas das Universidades
Às vésperas de novas eleições, assistimos a um dos mais vexatórios espetáculos de banalização de nosso Estado de Direito. Trata-se aqui de algo que já vem se tornando um apanágio das eleições: a mediocridade do político brasileiro traduzida por sua ausência de idéias e de interesses legítimos.
Os políticos deveriam compor uma elite sensível aos anseios do país, sendo nobres defensores dos autênticos interesses nacionais. Infelizmente não é bem isso a que assistimos. Política, para a maioria dos brasileiros, tornou-se muito mais uma defesa de interesses pessoais que uma expressão altruísta do poder, onde prevaleceria o bem comum.
É oportuno lembrar que a doutrina social da Igreja reconhece como legítimas as três formas de governo: “Monarquia”, “Aristocracia” e “Democracia”, desde que visem o bem comum para o qual a atividade social é constituída.
No caso específico da democracia, devemos ter presente que sua autenticidade “repousa por inteiro sobre o caráter genuíno da representação. … Pois, se a democracia é o governo do povo, ela só será autêntica se os detentores do Poder Público… forem escolhidos, e atuarem , segundo os métodos e tendo em vista as metas desejadas pelo povo. Se tal não se dá, o regime democrático não passa de uma vã aparência, quiçá de uma fraude’’.
Esta vã aparência democrática torna-se explícita na época das eleições, quando nem mesmo a pluralidade partidária evita o problema da eleição sem idéias. Pois, apesar do grande número de partidos ou de candidatos disputando as eleições, não há uma verdadeira diversidade ideológica, já que as correntes políticas raramente – para não dizer nunca – definem com clareza sua posição ideológica. Assim, a cada período de eleições, o legítimo e saudável conflito de idéias, pressuposto fundamental de toda boa democracia, vai sendo suprimido.
Quantos dos candidatos têm a coragem de enfrentar o poder das TVs, que constantemente agridem os mais elementares valores morais? E as invasões criminosas das terras alheias, quem denuncia? Qual desses candidatos combate as invasões do MST em defesa do Estado de Direito?
Ao invés de se escolher idéias em debate, vota-se em homens sem idéias, vazios de conteúdo e de caráter duvidoso, não porque não existam idéias nos eleitores, mas porque essas idéias não são representadas pelos candidatos dos partidos, que preferem não definir nada que seja polêmico.
O eleitor fica sem voz… dentro de uma unanimidade sem idéias, onde todos dizem o mesmo, isto é, não dizem nada!
O país está saturado dessas eleições repletas de aparências e vazias de conteúdo. Eleições nas quais os debates sérios, a respeito de temas fundamentais, dão lugar aos showmícios… Até quando?!
Luiz Carlos Júnior
A mentira com Asas de Ferro
“Um país que progrida velozmente e sem tradição é como um homem que anda rapidamente sem caminho e sem rumo!”
Post-modernidade traz aos seus leitores um trecho muito elucidativo sobre a ilusão da modernidade. Trata-se de memórias do prof. Plinio Corrêa de Oliveira, fundador da TFP, sobre um moderno trem que rasgava a noite e atravessava as terras de uma fazenda na qual ele se encontrava, quando ainda jovem.
Nesse hipotético diálogo, o pensador católico descreve a sedução que o progresso, representado por um trem com ‘asas de ferro”, comunicava aos homens de seu tempo. Uma ilusão de um falso progresso desvinculado do passado.
“Quando menino, passava temporadas em uma fazenda. Naquele tempo havia uma dificuldade técnica para se construir pontes e túneis. O resultado era que os trens davam voltas em torno das montanhas, para se evitar a construção de túneis; e depois andavam mais um pouco para pegar o rio num ponto de estreitamento, para se fazer uma ponte menor e atravessar por lá. Com isso os trens davam muitas voltas.
Ouvia-se de longe, na sede da fazenda onde eu estava, o silvo do trem que rasgava o silêncio da tardinha. Dez ou quinze minutos depois, aquele apito se fazia ouvir de outro lado. Era o ziguezague em torno do ponto em que eu estava fixo. Eu ficava desagradado e aflito com aquilo. Por que este barulho rasga de um modo tão indiscreto, por assim dizer sem pedir licença, o augusto silêncio desta noite que vai descendo?
Em determinado momento, o trem passava em frente do terraço da fazenda. Mentiroso como é o progresso moderno, para quem estava do lado de fora ele dava a impressão de um palácio. Os trens naquele tempo eram diferentes dos de hoje. Tinham cortininhas, eram iluminados por dentro, e tinha-se a impressão de que era um palácio feérico que ia levando uns privilegiados a toda velocidade para a cidade, onde um futuro feérico os esperava.
Quando o trem acabava de passar, ele deixava a impressão de um conto de fadas que passara, depois de ter feito barulho, de ter deitado faíscas. Um conto de fadas que dizia: “Eu te darei um futuro deslumbrante, se romperes com esta calma, com este silêncio, com esta patriarcalidade, e entrares nas minhas asas de ferro. Eu te levarei para a cidade, onde serás um anônimo, mas onde um torvelinho delicioso te fará esquecer o teu passado e te embriagará de uma glória que eu te prometo, se fizeres força. Não terás passado, mas terás dinheiro. Serás um anônimo montado em milhões”.
Mas eu pensava: “Estou vindo da cidade, conheço este trem, andei dentro dele com horror, detestei as sacolejadas dele, abominei as fagulhas que ele lança. Quantas vezes consultei o relógio para saber quanto tempo ele ainda levaria para chegar. Eu vinha para o campo com vontade de encontrar isto que eu tenho aqui, e voltarei para a cidade aborrecido por ter de deixar isto. É uma mentira, esse trem ‘blasfemando’ contra a natureza. Ele é mentira com asas de ferro, levando para uma aventura que é uma loucura. Isto é a morte da sabedoria. Nesse corre-corre desvairado não há continuidade, não há pensamento, não há calma, não há tradição. E onde não há nada disto não pode haver futuro. Há transformações, mas transformação não é sempre futuro. Transformação pode ser decadência. Transformação pode levar facilmente para a morte”.
Eram estas as considerações que eu fazia, para diferenciar-me daquilo e manter o meu direito de não ser assim, de querer outra coisa e caminhar para um outro rumo.”
(Texto extraído de uma reunião gravada em fita magnética, sem revisão do autor).
Crepúsculo de um Século, Aurora de um Milênio
Loucura.
“Nós estamos todos loucos. Sim, isto é tão comum quanto pegar um resfriado”, disse Herbert Kutchins, referindo-se à metodologia e a filosofia utilizada no manual estatístico e diagnóstico de disturbios mentais, a “bíblia” dos psiquiatras dos Estados Unidos. Segundo Kutchins, da Universidade Estadual da Califórnia, esta nova tendência acaba considerando que “ser louco é normal”.
(Jornal do Brasil – 6/10/94).
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Punk, coisa do passado!
Segundo pesquisas realizadas por diversos jornais, como “Correio Braziliense”, “Folha de S. Paulo” e “Estado de S. Paulo”, a juventude atual está cansada do que antes era tido como moderno. Por exemplo, diz a “Folha de S. Paulo”, em sua edição de 28 de julho de 1996, em que publicou ampla pesquisa feita em 41 países, com mais de 25 mil adolescentes entre 15 e 18 anos: “Foram arquivados os ideais socialistas, a rebeldia contra tudo e todos dos punks”. Para Carlos A. di Franco, do “Estado de S. Paulo”, em seu artigo: “Juventude e Contra-Revolução”, os jovens estão cada vez mais religiosos e buscando valores de ordem espiritual.
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Trave no próprio olho...
Pesquisa publicada pela revista “imprensa” em 1995, revela que “os jornalistas brasileiros são prepotentes e se acham acima de tudo”. 80% deles diz não ter nenhuma religião, e a maior parte dos entrevistados identifica-se com o PT. Por fim, a maioria deles acha que a imprensa não tem culpa pela crise no país. Isso se chama não ver a trave no próprio olho.
(Revista Imprensa, 1995)
Em lembrança dos 185 anos de nascimento de Giuseppe Verdi
Verdi, Giuseppe ( Fortuino Francesco ) ( * 10/09/1813 + 27/01/1901 )
Compositor italiano, nasceu em Roncole, Parma, em 10 de setembro de 1813. Seu nome na verdade era Fortuino Francesco porém por causa da unificação italiana, recebeu o pseudônimo de Giuseppe Verdi, onde o segundo nome significava Victore Emanuele Rei di Italia, fazendo assim homenagem ao rei que unificaria a Itália. Sua primeira obra “Oberto” (1839) foi recebida com grande entusiasmo, levando-o a ser contratado por um influente editor. A terceira ópera, um drama bíblico sobre o exílio dos judeus, “Nabuco”, triunfou como tema da unificação da Itália. Entre suas óperas, destacam-se “Rigoleto”, baseada na “Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas Filho. Insatisfeito com as condições da ópera na Itália, Verdi inclinava-se a abandonar o teatro quando foi tentado por três encomendas irrecusáveis: “A força do destino” ( São Petesburgo, 1862 ) “Dom Carlos” ( Paris, 1867), ambas inspiradas nos textos de Shiller, e “Aída” (Cairo, 1871), inspirada na obra do francês Camille du Locle. Seguiu-se, então, um intervalo interrompido apenas por “Quarteto de Cordas” (1873) e “Réquiem” (1874). Já em idade avançada, Verdi surpreendeu o mundo com suas obras-primas: a tragédia shakespeariana “Otelo” (1887) e a comédia “Falstaff” (1893). Morreu em Milão, 27 de Janeiro de 1901.
André Stempniak – S. José dos Campos – SP – stempniak@arsa.com
Frases em Destaque – História
O historiador é um profeta voltado para o passaado – Friedrich von Schlegel
As civilizações não morrem à maneira dos homens. A decomposição nelas precede à morte – Georges Bernanos
A História não estuda só os fatos materiais e as instituições, seu verdadeiro objeto de estudo é a alma humana. – Fustel de Coulanges
Entre o Céu e a Terra
Entre a alma e o corpo, entre o natural e o sobrenatural, entre o espiritual e o temporal, há um nexo profundo onde a unidade representa a verdade, a bondade e a beleza.
Caro colega universitário, repare nessas construções que evocam um passado cheio de esplendor e ideal, onde as almas estavam postas diante de panoramas grandiosos e cheios de vida sobrenatural.
Essas construções foram feitas por homens como nós, mas que tinham diante de si a certeza de lutarem por algo que valia imensamente mais do que eles mesmos. Lutavam para fazer da Terra uma imagem do Céu.
Hoje, na “modernidade”, esses castelos e catedrais parecem cada vez mais distantes… Acostumados que estamos a não nos importarmos com as “aparências” e a considerarmos apenas o aspecto prático e funcional de cada objeto, facilmente nos esquecemos de que a aparência muitas vezes reflete a essência.
Com efeito, “a roupa não faz o monge”… mas, é igualmente verdade que o dignifica perfeitamente. Exterioriza, simbolicamente, aquilo que ele representa, sua essência e sua condição particular.
Esses monumentos, impressos neste boletim, nada mais são do que a manifestação visível de algo que existia na alma dos seus construtores.
Era o desejo de perfeição! Não bastava a funcionalidade, era necessária a beleza. E isso se dava em todas as classes sociais e com todos os objetos. Cada um deles deveria refletir sua luz própria, símbolo de uma realidade mais alta, transcendente, sobrenatural.
“O universo é uma catedral cujo fim é a glorificação de Deus”!
O desejo de perfeição manifesto na alma católica deu frutos inimagináveis. Ora era um castelo de sonhos, ora uma catedral onde se adorava o autor de toda a criação.
O “espírito medieval” tendia ao maravilhoso – ao perfeito – seguindo o preceito evangélico: “Sede perfeito como vosso pai celestial é perfeito”. E buscava realizar, na terra, uma imagem do Céu, não só nos seus princípios morais, mas também – e como conseqüência – na vida prática: “Venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no Céu.”
Todavia, essa “visão de mundo” foi sendo substituída por uma outra, inteiramente diversa da anterior. Era a modernidade! Com sua densa nuvem de ilusões ela envolveu e seduziu os espíritos de seu tempo. Angariou votos e realizou prodígios.
Em sua tirania, destruiu igrejas e queimou castelos tentando apagar da lembrança a glória de uma época por ela tão caluniada. Chegou a dizer que enforcaria o “último nobre nas tripas do último padre!”
O tempo passou, a modernidade envelheceu e aquelas construções de outrora permanecem para as gerações que nascem na Pós-modernidade, cansadas das velhacarias modernas e desejosas de um futuro cheio de ideal e grandeza, como o representado por esses castelos.
Caro colega universitário, repare nesses castelos e compare os frutos de cada época. Será mesmo que evoluímos? Ou será que, em algum momento da história, o ocidente desviou de seu caminho?
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