Em Defesa da unidade nacional ameaçada pelo MST

Tendo o MST ultrapassado todos os limites da lei e do bom senso, a TFP adverte: caso as autoridades não atuarem agora com energia e decisão, o caos instalar-se-á no País e daí, poder-se-á descambar para a guerrilha e mesmo para a guerra civil.

É preocupante a conjuntura atual, como imprevisíveis são os rumos que ela pode acarretar para o nosso querido Brasil. Diante disso, a TFP — fiel à sua missão de defender a Tradição, a Família e a Propriedade, consignada em seus Estatutos, fiel também ao pensamento de seu insigne fundador, Professor Plinio Corrêa de Oliveira — não pode omitir sua contribuição, ainda que com breves reflexões, para o esclarecimento de seus sócios, cooperadores, correspondentes, amigos e simpatizantes esparsos pelos quatro cantos deste nosso País-continente, e do público em geral.

Brasil:  tesouro que recebemos de nossos antepassados

O Brasil é um tesouro que recebemos de Deus, um precioso legado de nossos antepassados, que gloriosamente forjaram a estrutura religiosa-social-política-econômica de nossa Pátria, a qual se estende por quase 50% da América do Sul. Tesouro indissociável da civilização cristã e da Religião Católica, que professavam os bravos navegadores que aqui aportaram há 500 anos.

Seguiram-nos as figuras incomparáveis do Beato José de Anchieta, do Pe. Manoel da Nóbrega e de tantos outros luminares da fé e gigantes da dedicação, que outro intuito não possuíam senão o de, catequizando os pobres indígenas, livrá-los do extremo primitivismo e da inqualificável barbárie e decadência em que então jaziam.

São muito conhecidos os relatos, da época e posteriores, que nos falam da antropofagia, do infanticídio, do suicídio ritual, da escravidão das mulheres, do homossexualismo, para que seja preciso aqui insistir sobre isso.

Tais realidades nortearam os ensinamentos que, recebidos na formação dos brasileiros, despertaram em suas mentes, e sobretudo em seus corações, um sólido amor à Pátria, à sua grandeza, à sua predestinação histórica.

Nessas verdades, ou seja, nos princípios da civilização ocidental e cristã, e na sabedoria colonizadora lusa, fundamenta-se essa prodigiosaunidade territorial e nacional da América portuguesa.

Nossos maiores, vindos da Mãe Pátria — Portugal —, diminuta em extensão, mas grande em bravura, fizeram do Brasil a extraordinária obra de civilização cujo lume, em sua essência, não é ofuscado pelos numerosos problemas atuais. Nela se produziu a mais surpreendente fusão de raças — quão contrastante com o que se passa em outras plagas de inspiração protestante — de tal modo que à unidade de território somou-se a unidade do que poderíamos chamar a raça brasileira,a valorosa gente que habita esta grande terra. Raça esta, na composição da qual o índio e o negro, e posteriormente o imigrante, ocupam posições de honra.

Um show publicitário que pode virar revolução

Somente altos e elevados princípios são próprios a conduzir os jovens ao heroísmo, os homens maduros à reflexão, os anciãos à sabedoria. A TFP defende tais princípios contra a surpreendente onda de demagogia, esse verdadeiro show publicitário de larga envergadura que o País todo presenciou atônito e que visa construir um outro Brasil, infiel a si mesmo, à sua autêntica brasilidade.

Os acontecimentos rocambolescos e desairosos que marcaram as comemorações dos 500 anos do Brasil são por demais recentes para que seja necessário entrar em pormenores. Eles continuam a produzir seus efeitos.

Basta lembrar genericamente a tentativa de erigir um monumento antidescobrimento no próprio local-símbolo do descobrimento, em Porto Seguro. O enfrentamento de manifestantes do MST e seus caudatários contra a Polícia baiana, para desvirtuar a solenidade comemorativa oficial, da qual participavam o Presidente da República e o Presidente de Portugal. O desígnio de realizar uma anticomemoração, paralela e contrária à que se realizava. O protesto arruaceiro levado a cabo pelo MST por meio de invasões de mais de uma dezena de edifícios públicos, além de distúrbios e ocupações várias. A exigência de manter um diálogo com o governo federal, de potência a potência, designando inclusive quais deveriam ser seus interlocutores. A afronta feita ao representante de João Paulo II, Cardeal Angelo Sodano, por um índio devidamente industriado, que se apresentou durante a Missa para invectivar os presentes dizendo que eles não tinham vergonha. O que obrigou o Bispo de Eunápolis a pedir perdão ao Legado pontifício, deixando claro que a intervenção do índio fora escrita por alguém que ocupa cargo na CNBB.

Todo esse show o povo brasileiro foi constrangido a presenciar, através de certa mídia loquaz e meticulosa, pronta a dar cobertura a qualquer palavra, qualquer gesto, qualquer ameaça proveniente dos arraiais dos “sem-terra” e quejandos.

A tal ponto os atentados à ordem foram levados longe, que as autoridades puderam falar, sem ridículo, em ameaça às próprias instituições, em mobilização do Exército e em enquadramento dos responsáveis na Lei de Segurança Nacional. Sobretudo tendo em vista o repúdio generalizado da população a essas desordens, inconformada com a atitude passiva que até então vinham tomando alguns governantes em face de fatos que se avolumavam na razão direta da impunidade de seus autores.

O MST aparecia nas páginas dos jornais e nos vídeos das TVs como uma espécie de gigante Adamastor a ameaçar o povo brasileiro com a implantação, de um momento para outro, de um socialismo de tipo fidelcastrista, odiento e destruidor, ante a omissão inexplicável de autoridades assustadas e inertes.

Esse era o show. Autenticamente show. Mas show que, se não fosse detido a tempo, poderia transformar-se em amarga realidade, como aconteceu tantas vezes na história das revoluções. Foi também um showa queda da Bastilha em 1789; mas porque providências não foram tomadas a tempo, cabeças rolaram na guilhotina e a França inteira se ensangüentou. Foi ainda um show a tomada do Poder por Kerensky, na Rússia, em agosto de 1917; mas três meses depois seguia-se a esseshow a maior, a mais longa e mais espantosa tirania que o mundo já conheceu.

Apoios que possibilitaram a formação de um movimento anti-social

O MST começou timidamente sua trajetória, no início dos anos 80, sob patrocínio da ala dita “progressista” do clero. E, até hoje, “padres e Bispos dão uma ajuda inestimável às mobilizações dos sem-terra” (“O Estado de S. Paulo”, 10-5-00). A organização goza também do apoio de políticos de esquerda e é fortemente bafejada por certa mídia. Beneficiou-se largamente ainda da complacência de autoridades que queriam ver nele apenas um “movimento social”, cujos objetivos em favor da classe dos agricultores pobres deveriam ser prestigiados.

De fato, em pouco tempo o MST deu mostras abundantes de ser um pernicioso movimento anti-social. As reintegrações de posse concedidas em série pelos Tribunais bem mostram o caráter ilegal do esbulho possessório praticado pelo movimento invasor. Mas, por incrível que pareça, muitos governadores negam-se a cumprir essas ordens judiciais, ou então, protelam indefinidamente seu cumprimento.

Fruto de uma hábil manipulação de guerra psicológica, o mal deixou de ser o esbulho para ser o confronto. Cada vez que uma invasão se processava, procurava-se inculcar que o importante não era restabelecer a ordem e o direito, mas sim evitar o confronto. Com isso, o grande perigo deixava de ser o MST, e passava a ser a Polícia Militar, apresentada pela propaganda esquerdista como intolerante e perigosa.

Não faltou, desde o princípio, quem denunciasse — e de modo insistente — o perigo que constituíam as incipientes “ocupações” de terra. Esse mérito ninguém o pode negar ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e à obra por ele fundada, a TFP. Apontou ele o risco que corriam a agricultura nacional, os produtores rurais, os agricultores pobres utilizados como massa de manobra, o direito de propriedade e o próprio futuro do Brasil.

Porém, onde sua voz normalmente deveria ser ouvida com mais atenção — nas lideranças da classe dos produtores rurais — aí encontrou ela, não raro, um eco distante, um ar desatento, otimista em relação à situação, uma atitude freqüentemente omissa, por vezes até complacente com o mal que começava já a mostrar suas garras.

Ainda recentemente o Sr. Luís Suplicy Haffers, presidente da Sociedade Rural Brasileira, afirmou que “o ministro Raul Jungmann tem tido muito bom desempenho na reforma agrária” (“Jornal do Brasil”, 26-4-00). Quando é público e notório que a escalada do MST se deve, em larga medida, à política de Reforma Agrária do Sr. Jungmann.

Adubado pela doutrina revolucionária da “esquerda católica”, regado incessantemente pelas águas fertilizantes do dinheiro proveniente até do Exterior, iluminado pelo brilho fátuo mas constante de certa mídia, não encontrando diante de si obstáculo proporcional às forças políticas que o apoiavam, o espinheiro do MST cresceu e se desenvolveu, ameaçando agora cobrir todo o Brasil com seus galhos rebarbativos e agressivos. Chegando inclusive a lançar várias metástases, que se constituem em organizações similares atuando no campo ou nas cidades, como o MLST, e contagiando também a mais antiga CONTAG.

Quanto à opinião pública nacional, de modo geral, ela tomou o MST, inicialmente, com indiferença, depois com desagrado crescente; hoje, assustada, ela cobra providências do Governo.

Atualmente o MST ultrapassou todos os limites, não só da lei mas do bom senso. As invasões de terras particulares e de prédios públicos, os seqüestros, a manutenção de reféns, a provocação de conflitos com mortos e feridos, tudo isso faz dele um movimento pouco diferente da guerrilha que infesta a Colômbia. A continuarem as infrações à ordem nesse ritmo, em breve aqui também se poderá seguir o exemplo do governo colombiano, que concedeu extensas zonas do País para serem dominadas pelos guerrilheiros… à espera do momento em que eles dominem o País todo.

Tais reflexões ocorrem naturalmente a quem assistiu perplexo o showproduzido em torno do MST nesses últimos dias, a pretexto de comemoração dos 500 anos do descobrimento do Brasil.

A lamentável atuação da “esquerda católica”

Nesse show, a TFP, sociedade civil formada por leigos católicos praticantes, lamenta profundamente a parte que nisso tudo teve e tem a Comissão Pastoral da Terra, braço da CNBB que favorece a revolução no campo. A ponto de D. Tomás Balduíno, presidente da CPT, ter declarado que as invasões de terra são “uma maneira sadia de se modificar a estrutura fundiária nacional” (“O Globo”, 9-5-00).

E isto, não obstante a clara advertência feita por João Paulo II: “Nem a Justiça nem o bem comum consentem em danificar alguém nem invadir sua propriedade sob nenhum pretexto”, disse o Sumo Pontífice, quando de sua visita ao Brasil em 1991. “Ao Estado — prosseguiu — cabe o dever principalíssimo de assegurar a propriedade particular por meio de leis sábias” (“Folha de S. Paulo”, 15-10-91).

Advertência reiterada depois com ênfase: “Recordo as palavras do meu predecessor Leão XIII, quando ensina que ‘nem a justiça, nem o bem comum consentem em danificar alguém ou invadir a sua propriedade sob nenhum pretexto’ (Rerum Novarum, 55). A Igreja não pode estimular, inspirar ou apoiar as iniciativas ou movimentos de ocupação de terras, quer por invasões pelo uso da força, quer pela penetração sorrateira das propriedades agrícolas” (João Paulo II, ao receber, em 21-3-1995, os Bispos brasileiros da Regional Sul 1, do Estado de São Paulo).

Por seu credo socialo-comunista, por seus métodos, por seu desprezo pela propriedade, por sua violência antibrasileira, o Movimento dos Sem-Terra quiçá ter-se-ia esvanescido, não fosse o apoio que essa ala do Episcopado nacional, através da Comissão Pastoral da Terra e outros meios, lhe empresta.

No momento, com os primeiros atos enérgicos por parte do Governo federal, em nosso País à beira de uma guerra civil, de uma dilaceração que, de norte a sul, quebraria esse preciosíssimo e maravilhoso vaso de cristal que é a unidade nacional, surge um raio de esperança. Oxalá ele se transforme em realidade!

Pois, se operada essa quebra, o caos e a luta fratricida podem tomar conta da Nação. E, a ocorrer tal catástrofe, nada mais triste do que constatar a dura realidade: o MST (e o mesmo se diga de seus congêneres), que hoje se apresenta como movimento político, a isso teria levado nossa terra e nossa gente, com o triste suporte, e mesmo incentivo, da parte minoritária, porém a mais atuante, do colégio dos Prelados que traçam os rumos em nossa Pátria da atuação da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Também os pobres índios  utilizados pela “esquerda católica”

Quanto nos dói levar mais longe nossa lamentação. Mas os fatos clamam. O CIMI — Conselho Indigenista Missionário, que deveria ser o braço da CNBB para a evangelização dos indígenas –– dá pleno apoio a uma reinterpretação de nossa história que conduz a um desprezo (senão ao ódio) a todo um passado nimbado pelas glórias do Bem-aventurado Anchieta e tantos confessores e mártires da fé. E a uma ação no presente que, a produzir seus efeitos naturais, levar-nos-ia a retroagir à idade da pedra lascada.

Até mesmo pensadores e sociólogos de idéias bem diferentes das da TFP, viram-se na obrigação de contestar tal insensatez. Foi o caso, por exemplo, do sociólogo Hélio Jaguaribe que, entre outras observações de bom senso, afirma que é um “equívoco perpetuar as culturas indígenas. Nenhum povo permanece eternamente no neolítico …. Os índios (apenas cerca de 300 mil) dispõem de 11% do território nacional. O que falta é apropriada assistência para que, voluntária mas condignamente, ingressem na comunidade brasileira” (“Jornal do Brasil”, 4-5-00).

Aliás, tem causado não pequena estranheza a concessão de extensas áreas do território nacional — muitas delas fronteiriças — a uns poucos índios, merecedores sem dúvida de toda a nossa simpatia e ajuda, mas atualmente incapazes de administrá-las e de aproveitá-las devidamente. E que são mencionados, ademais, como se constituíssem “nações” diferentes da brasileira. Nações que amanhã, sob o influxo de demagogos, poderão querer ter seu próprio território para constituir-se em Estado soberano.

Ao que tudo isso visa? Ao desmembramento do Brasil e à constituição de Estados comuno-tribalistas? — É impossível não perguntar.

* * *

Assim, por meio destas breves considerações, a TFP — a mais pujante força católica leiga antimarxista e anti-socialista que tenha surgido em nosso País — abre de par em par sua alma diante de todo o Brasil. E ela espera que “do Prata ao Amazonas, do mar às cordilheiras” — conforme dizia conhecido refrão — seja ouvida esta advertência, toda ela feita de amor a nossa Pátria e à civilização cristã: o Brasil caminhará para a paz e para a ordem se nossas autoridades atuarem agora com energia e decisão, e a opinião pública brasileira fizer sentir todo o seu descontentamento com o presente rumo que o MST e congêneres visam dar ao País. Caso contrário, do caos poder-se-á descambar para a guerrilha e mesmo para a guerra civil, e o Tribunal da História e o de Deus julgarão os que forem culpados pelo rasgamento do tecido da unidade nacional.

Em qualquer caso, a TFP não se desviará de sua atitude — nunca desmentida desde que foi fundada — de atuação rigorosamente dentro da Lei de Deus e dos homens.

Nesta abertura de alma, invocamos a Rainha e Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, rogando-Lhe que conduza a todos os brasileiros nas vias da sabedoria cristã e nos preserve dos desvarios que ponham a perder esse dom imensamente precioso da unidade nacional.

  São Paulo, 23 de maio de 2000

Conselho Nacional
da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade – TFP

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