A nobreza do campo se encontrava com alguma frequência com a nobreza de cidade.
Mas os desentendimentos entre uns e outros não eram pequenos.
A nobreza da cidade tinha como objetivo a cultura, o brilho e a delicadeza, enquanto a nobreza do campo privilegiava a força, a capacidade de dirigir, de administrar, de conduzir com respeito cerimonioso toda uma população de uma aldeia.
Para a guerra, uns e outros competiam, arriscavam a vida com uma audácia que poderia quase ser chamada de loucura. E que representava, em última análise, a velha tradição heroica da Idade Média.
Para a guerra, nobres do campo e da cidade se vestiam como para as mais belas festas, sabendo que muitos iam morrer. E aqueles que daqui a pouco seriam cadáveres, eram sóis partindo a cavalo para o ataque do adversário.
O bonito era quando, no começo de uma batalha, as filas inimigas se formavam uma em frente da outra, e o general de cada exército passava em revista seu próprio exército. Então era aclamado pelos soldados.
Os franceses, vestidos com a graça e elegância que todos sabem que é a deles, faziam a chamada guerre en dentelles. Dentelles é renda. Guerras de renda.
Eram muitas vezes ainda couraças, porque as armas de fogo da época eram mais fracas e ainda justificavam o uso de couraças refulgentes.
Mas, por cima delas, os nobres usavam golas de seda e rendas, que saíam da altura do pescoço como uma cascata que cobria o aço, cuja refulgência se via através dos movimentos do tecido.
O que é o papel dessas duas nobrezas? Era fazer notar o verso e o reverso da medalha.
O nobre deve ser fino, elegante e leão. Ele deve ser culto, distinto,bon causeur, sabendo conversar agradavelmente.
Mas, ao mesmo tempo, deve ter uma presença que impõe respeito e até medo.
Não podendo tudo isso rebrilhar cumulativamente numa só pessoa, a não ser em casos muito raros, era preciso que houvesse uma nobreza da força e uma nobreza da graça.
A nobreza da força sabia entrar em discussão, em confronto, luta, com a nobreza da diplomacia, da política, da vida de corte e da direção administrativa dos altos cargos e altos feudos do reino.
Então, como não cabe reunir todas essas qualidades a não ser em pessoas excepcionais, era preciso que houvesse duas nobrezas. E que cada uma tomasse sobre si alguma coisa.
E o conjunto constituía la noblesse d’épée du royame de France.
O país que com mais harmonia soube unir as qualidades da nobreza da terra e da nobreza de cidade foi a Alemanha.
Milhares de nobres com castelos ainda da Idade Média muito conservados e habitados por seus antigos donos, tinham um mundo de pequenos estados em que cada nobre era soberano e vivia quase como um pequeno rei dentro dele.
Não havia apenas pequenos reis, havia nobres de categorias intermediárias.
Por essa forma, a nobreza castelã vivia formando sua corte, e sendo o nobre, ele próprio, um pequeno rei do seu pequeno reino ou feudo.
E reunindo numa espécie de miniatura encantadora os traços distintivos de uma nobreza e de outra.
Quem quiser ter ideia como se vivia nesses feudos pode ler um livro francês, escrito por uma fidalga alemã horrivelmente protestante, a Baronesa de Oberkirch.
Essa baronesa fez uma viagem à França de Luís XVI como dama de honra da princesa casada com o príncipe herdeiro da Rússia, portanto, o futuro Czar.
E antes de visitar a França, ela escreveu um pouco sobre Oberkirch e sobre Würtemberg, no qual Oberkirch era uma coisa um pouco mais ou menos como um enclave com certa autonomia própria.
Então ali ela descreve a pequena nobreza alemã vivendo num misto de campo, castelo e palácio que é verdadeiramente um encanto.