Mártires
(+ 327)
No ano de 327 houve uma cruel perseguição da Igreja na Pérsia. Entre as numerosas vítimas figuram os dois irmãos Jonas e Barachiso, da cidade de Beth-Asa, que, sabendo da iminente execução de alguns cristãos, encarcerados em Hubaham, para lá se dirigiram, para consolá-los e animá-los no último combate. Nove destes presos receberam a coroa do martírio.
Imediatamente depois foram Jonas e Barachiso levados à presença do juiz. Este com todo o empenho quis persuadir-lhes que era necessário adorar o rei dos reis, isto é, o imperador da Pérsia, e também o sol e a lua. “Não é mais conveniente adorar o Rei imortal do céu e da terra do que um homem mortal?” obtemperaram os dois irmãos. O juiz mandou separá-los. Barachiso foi metido no cárcere e Jonas barbaramente açoitado. Enquanto lhe aplicavam tal suplício, Jonas elevou o espírito a Deus e ofereceu-lhe o sacrifício da vida pela fé. Depois lhe ataram os pés e atiraram-no numa lagoa coberta de gelo.
Pela tarde do mesmo dia recomeçou o inquérito de Barachiso. Disseram-lhe que o irmão havia sacrificado aos deuses. Barachiso respondeu-lhes: “Isto não acredito, porque conheço bem meu irmão, que não é capaz de adorar criaturas”. Em seguida fez uma defesa tão brilhante da religião cristã, que o próprio juiz se admirou. Temendo, porém, que um ou outro dos circunstantes, pela eloquência de Barachiso, abandonasse a religião oficial, determinou que só à noite e com exclusão do povo, fosse continuado o inquérito. Ao mesmo tempo mandou que colocassem nos braços do mártir ferros em brasa. “Pela fortuna do reino, disse-lhe o juiz! Se deixares cair um destes ferros, para nós é sinal de teres abandonado tua fé”. Barachiso respondeu: “Não temo vosso fogo e não deixarei cair os instrumentos do meu martírio; peço-vos que apliqueis em mim de vez toda a sorte de suplícios. Quem combate por Deus, não desfalece”. Os magos, no auge da fúria, deitaram-lhe chumbo derretido nas narinas e nos olhos e fecharam-no, novamente no cárcere, pendurando-o por um pé.
No dia seguinte tiraram Jonas da água e, estando ele ainda vivo, perguntaram-lhe: “Como passaste a noite? Sem dúvida não sofreste pouco”. Jonas replicou: “Nunca passei noite como esta; a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo foi para mim manancial de consolo”. Os Persas disseram-lhe: “Teu irmão abjurou”. “Sei que ele abjurou, respondeu Jonas, mas ao demônio e às suas obras”. Os Persas: “Cuidado com tua vida!” Jonas: “Se sois sábios como pretendeis, dizei-me: não é melhor semear a semente, do que guardá-la no celeiro, sob o pretexto de defendê-la contra a chuva e mau tempo? Esta vida é uma semente, que traz frutos belíssimos da eterna glória”. Os Persas: “vossos livros já têm enganado muita gente”. Jonas: “É verdade que afastaram já a muitos dos prazeres mundanos. Um verdadeiro cristão, em cujo coração arde a chama do amor a Jesus Cristo, despreza as riquezas e honras deste mundo; só um desejo o anima, o de ver o verdadeiro Rei, cujo reino é eterno e cujo poder se estende sobre o mundo visível e invisível”.
Foram estas as últimas palavras do Mártir. Os magos atiraram-se sobre ele, cortaram-lhe as mãos e os pés, arrancaram-lhe a língua, tiraram-lhe o couro cabeludo e meteram-lhe o corpo em piche em ebulição. Vendo que o fogo e o calor não lhe fizeram mal, cortaram-lhe o corpo em pedaços e jogaram-nos dentro de uma cisterna, que foi guardada por uma sentinela, para impedir que os cristãos se apoderassem das relíquias.
Barachiso teve uma morte igualmente terrível: Os bárbaros bateram-lhe com ferros pontuados, fizeram-no rolar pelo chão deitaram-lhe piche e enxofre ferventes na boca e maltrataram-no, até que não desse mais sinal de vida.
Abstuciatos, amigo dos dois irmãos, comprou aos Persas os corpos dos Mártires.
O comandante da cavalaria do imperador Sapor, chamado Isaias, como testemunha ocular, escreveu a história do martírio de Jonas e Barachiso, concluindo da maneira seguinte: “Assim estes mártires lutaram e venceram, oxalá Isaias possa merecer-lhes a intercessão!” Jonas e Barachiso foram martirizados em 327, no décimo oitavo ano do governo do imperador Sapor.