Confessor
(+ 1456)
S. JOÃO DE CAPISTRANO é um dos luminosos astros do céu cristão do século XV. Natural de Capistrano, do reino de Nápoles, recebeu o nome dessa cidade. Privilegiado de belos talentos, fez em Perugia o curso de ambos os direitos, doutorou- se e desempenhou o cargo de juiz de direito a contento de todos. Um dos cidadãos mais importantes da cidade deu-lhe a filha em matrimônio. Nada parecia faltar-lhe à felicidade . Faltou, porém, a constância da mesma.
A cidade de Perugia recusou a reconhecer a soberania do rei Ladisláu, de Nápoles e declarou-lhe guerra. João de Capistrano recebeu a incumbência de conferenciar com o Rei sobre as condições da paz, e tudo parecia prometer bom êxito. Essas esperanças se desvaneceram, e os concidadãos começaram a duvidar da sua boa fé. Tão bem fundadas pareciam-lhes essas suspeitas, que o prenderam e o recolheram à fortaleza de Brussa. De nada lhe valeu apelar para o espírito de lealdade do rei de Nápoles.
Tudo isso foi necessário, para que se convencesse da falsidade do mundo, da inconstância da amizade dos homens e da futilidade do que se chama felicidade. Recebendo ainda a notícia da morte da sua esposa, na idade de 39 anos, tomou a resolução de abandonar o século e entrar numa ordem religiosa.
Para este fim vendeu todos os bens, pagou o resgate, e pediu o hábito de São Francisco. O Superior da Ordem, conhecendo os antecedentes, suspeitava João ter agido um tanto precipitadamente, e talvez lhe faltasse a perseverança e verdadeiro espírito religioso. Sujeitou por isto o noviço a uma prova duríssima, capaz de pôr em relevo a humildade e firmeza do candidato.
Obrigou-o a envergar traje de arlequim, pôs-lhe nas costas uma taboleta na qual se vai registrada uma série de crimes e neste estado lhe fez montar uma mula e passar pelas principais ruas de Perugia. João obedeceu, e com a maior prontidão cumpriu não só esta, como ainda outras ordens bem humilhantes.
Decorrido um ano, foi admitido à emissão dos votos. Desde aquele tempo a vida de João de Capistrano era um jejum perpétuo. Durante trinta anos se absteve completamente do uso da carne.
Tinha por leito o soalho, e ainda assim dava poucas horas ao descanso. Quotidianamente sujeitava o corpo às mais ásperas mortificações.
Uma vez separado do mundo, o coração do Santo pertenceu a Deus, e só a ele procurou servir. Achava suas delícias na oração, na meditação e na leitura espiritual. Ligeiras passavam-lhe as horas que permanecia na presença do Santíssimo Sacramento.
Orador de grande recurso, com facilidade comunicava aos ouvintes o amor de Deus, que lhe ardia no coração. O efeito dessas prédicas foi muitas vezes imediato. Aconteceu assim que em Aquiléia, Nüremberg e Leipzig, que, tendo pregado sobre a vaidade do mundo, logo após a prática vieram muitas senhoras entregar ao Santo as jóias, bem como outros objetos, que lhes pareciam inúteis e embaraçosos à santificação…
Na Boêmia mais de cem moços pediram para ser admitidos na Ordem Franciscana, depois da audição de um sermão que João de Capistrano fizera, sobre o juízo universal.
Na qualidade de inquisidor pontifício abriu forte campanha contra os “Fraticelli” e os judeus. Com afinco trabalhou na reforma da sua Ordem, que teve sua aprovação pelo Papa Martinho V, mas foi rejeitada pelos “conventuais”. Colocado à frente dos “Observantes”, em 1437, foi nomeado comissário apostólico e Visitador Geral. Como tal visitou as cidades de Milão, Veneza, a Terra Santa, a França e a Sicília. A pedido do imperador Frederico III percorreu a Áustria, a Turíngia e a Polônia.
Dos turcos apoderou-se grande pavor, e, desorganizados, desistiram do combate. Mahomed caiu gravemente ferido, e milhares de cadáveres de soldados turcos juncaram o campo de batalha. A vitória dos cristãos foi completa, e não faltou quem a atribuísse à santidade de João de Capistrano. Este, porém, rendeu graças a Deus e retirou-se para o convento de Villach, na Hungria, onde três meses depois morreu. O túmulo do Santo foi mais tarde profanado pelos Luteranos, que o arrombaram e atiraram com o corpo ao Danúbio.
João de Capistrano morreu em 23 de outubro de 1456, com 71 anos de idade. Alexandre III, em 1690 pôs-lhe o nome no catálogo dos Santos da Igreja. Leão XIII estendeu à toda a Igreja a sua festa, que é celebrada em 28 de março.