As Atuais Perseguições Anticatólicas

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Assassinatos, seqüestros, torturas, escravidão, tráfico de mulheres e meninos, perseguições de toda sorte, “conversões” forçadas etc.: uma autêntica guerra religiosa movida contra Nosso Senhor Jesus Cristo e Sua Igreja está em curso! Entretanto, a mídia internacional dirige seus potentes holofotes seletivamente sobre certos acontecimentos – como os de Kosovo — e não focaliza essa imensa tragédia ocorrida nos presentes dias. O correspondente de Catolicismo em Roma relata as atrocidades inauditas que vêm sofrendo nossos irmãos na Fé em diversos países nos quais os católicos constituem minoria.

Roma – No limiar do terceiro milênio vai se tornando cada vez mais dramático o fenômeno da perseguição religiosa contra os cristãos, que faz lembrar a fúria persecutória e a crueldade do Império Romano pagão. O que pode causar surpresa para quem, na relativa tranqüilidade reinante no Ocidente, já viu desaparecer os terríveis flagelos do nazismo e até certo ponto, do comunismo soviético, considerando-se  por isso,  quiçá, ao abrigo de outros horrores. Entretanto, acaba sendo posto diante de uma realidade carregada de dor na “aldeia global”.  Nesta, tudo quanto ocorre de significativo provoca profundas repercussões, a médio ou a longo prazo, um pouco por toda parte.

A Agência Fides, que depende do Dicastério vaticano da Propaganda Fidei, afirma: “No mundo de hoje há mais de 200 milhões de cristãos perseguidos e mais de 400 milhões discriminados por causa de sua fé. Os responsáveis por isso são 70 Estados nos quais impera um regime ateu (China, Vietnã, Cuba, Laos, Coréia do Norte), ou um crescente fundamentalismo (Sudão, Paquistão, Egito, Índia, Indonésia, Arábia Saudita…)” (editorial de 18/25-12-98). Entenda-se aqui como fundamentalismo não somente o islâmico mas também o hinduísta.

Inércia em face da  perseguição anticristã

Caroline Cox, uma cidadã inglesa empenhada na libertação dos escravos cristãos subjugados pelos fundamentalistas muçulmanos, especialmente no Sudão, apresenta a seguinte questão: “Quando uma parte do Corpo de Cristo sofre, todo o corpo sofre. Por isso, gostaria de perguntar a todos os irmãos que estão vivendo na paz e na tranqüilidade…: quanto fazem pelos irmãos perseguidos?” (Fides, 8-1-99).

O semanário parisiense “Marianne”, em interessante matéria intitulada “O Novo Martírio dos Cristãos” (21/27-12-98), assim descreve a passividade do Ocidente diante desses fatos: “Em meio ao rumor natalino, silêncio a respeito dos cristãos do Paquistão, da Índia, da Arábia Saudita, do Vietnã, da China, do Sudão, que são agredidos, aprisionados, liquidados. Entre as guirlandas do Ocidente, silêncio sobre essas catacumbas. Devido a um certo militantismo superficial, o martírio deles não vale uma missa. Eis o motivo: são cristãos”.

Católicos sudaneses, vítimas de islamização forçada

Todo o mundo tomou conhecimento do drama dos kosovares em dispersão. Entretanto, quantos estão a par do que vem acontecendo com os católicos no Sudão?

“Milhares de refugiados, que tinham construído uma aldeia às portas da capital sudanesa, foram obrigados a se deslocar para uma zona desértica, privada de qualquer estrutura. Isto aconteceu na periferia de Hajj Yussef, poucos quilômetros a nordeste de Cartum, uma área na qual se encontravam 150 a 200 mil pessoas, quase todas fugitivas da guerra no Sul do Sudão… A Igreja local havia criado um centro polivalente, no qual os jovens eram alimentados, ensinava-se o Catecismo, celebrava-se a Eucaristia. Com efeito, a maior parte dos refugiados de Hajj Yussef era cristã. As crianças que freqüentavam as escolas da Arquidiocese eram pelo menos 10 mil… Os habitantes de Hajj Yussef foram coagidos a evacuar o local, cada vez mais empurrados rumo ao deserto. O caso de Hajj Yussseff não é o primeiro  e, segundo a Agência Fides, ‘essas medidas atingem sempre um ou mais centros  cristãos’” (Fides, 19-2-99).

É preciso dizer que a guerra no Sudão meridional, que obriga esses infelizes a se refugiarem alhures, não é um mero conflito tribal, mas corresponde a uma política radicalmente islamizante seguida pelo governo. O cérebro do regime de Cartum , o xeque Hassan El Tourabi, enunciou com eloquência o credo que anima essa perseguição: “A era do Cristianismo acabou-se. O século 2000 é a era do Islã” (“Marianne”, 21/27-12-98).

Há no Sul do Sudão três milhões e meio de cristãos, dois terços dois quais  são católicos. Os Baggara – uma tribo islamizada, explica a Fides, e não originária do Sudão, que combate a Sudoeste do país “como quinta coluna do exército islâmico” – estão equipados com armas modernas que lhes permitem “liquidar o gado, destruir as aldeias, matar pessoas”, sendo “também responsáveis pelo tráfico de escravos, rapazes e moças, que são vendidos nos mercados do Norte e do Oriente Médio como servos e prostitutas”. Segundo as fontes da Fides, “trata-se de um inconfundível genocídio étnico”. Apesar das promessas governamentais de buscar o estabelecimento da paz nessa área, “há 17 anos que se exalta de maneira extremista uma guerra santa para transformar o Sudão numa nação árabo-islâmica. …. A  máquina da islamização vai para a frente de modo imperturbável: aqueles que resistem são exterminados; as moças são raptadas e vendidas como concubinas para os muçulmanos; os meninos da rua, órfãos, são recolhidos em campos especiais de reeducação e são islamizados. Ao mesmo tempo, a economia está no extremo limite” (Fides, 26-2-99).

A mencionada cidadã inglesa, Caroline Cox, fundou uma verdadeira organização internacional destinada a comprar, dos muçulmanos do Norte, os escravos cristãos e restituí-los às suas famílias do Sul. Ela denuncia com veemência por todo o Ocidente a ferocidade do plano islamizante que é levado a cabo pelas autoridades sudanesas, afirmando que a “perseguição aos cristãos atingiu níveis intoleráveis”; e revela que são escravizadas especialmente as crianças, porque “dóceis e fáceis de islamizar”, sendo os jovens encaminhados para os trabalhos mais duros e as moças destinadas ao concubinato (“Corriere della Sera”, 22-2-99 ).

Católicos indonésios submetidos a ferro e fogo

Depois de anos de massacres na ex-colônia portuguesa de Timor Leste, a perseguição anticatólica dos islamitas estende-se para outras zonas da Indonésia. Recentemente, na ilha de Ambon, nas Molucas, as desordens provocadas pelos muçulmanos tiveram como resultado, segundo as autoridades locais, “um balanço de mais de 105 mortos e 20 mil refugiados que se encontram em alojamentos improvisados. Ao invés disso,  fontes não governamentais falam  de mais de 250 mortos. …. ‘Não obstante a escassez de forças, estamos obrigados a fazer algo pelos que sofrem por causas religiosas ou étnicas’, declarou para Fides Mons. Petrus Mandagi, bispo de Amboina…. Nas desordens de Ambon foi destruída também uma das mais antigas igrejas da Ásia oriental, uma preciosa testemunha cristã, erigida no lugar em que, no ano de 1511, desembarcou São Francisco Xavier” (Fides, 26-2-99).

Com o eloqüente título “E na Ásia muçulmana, um ano de lutos e destruições”, o “Corriere della Sera” publica em 25-2-99 um artigo sobre essa tragédia, assinado por Marco del Corona: “Os momentos mais selvagens foram os dos choques que, no ano passado, acompanharam a queda de Suharto, senhor da Indonésia: a multidão irada irrompe nas igrejas, saqueia os bairros que as circundam, lincha cristãos ante a  indiferença da polícia… Ontem recebemos a notícia de mais 14 mortes na ilha de Ambon (Molucas), e elas atingem o número de pelo menos 135 em 99, nessa província. Em 1998, as igrejas destruídas em toda a Indonésia foram 200, tendo sido  ‘apenas’ 50  de 1945 a 1990. E no Timor Leste, a província que desde 1975 reivindica a separação de Jakarta, a fé católica une-se aos sentimentos de independência: temos então uma longa tradição de repressões e massacres”.

E o articulista do “Corriere”, Marco del Corona, conclui: “No prazo de um ano as manifestações de intolerância violenta contra os cristãos marcaram a Ásia muçulmana. São contextos e modalidades diversos, mas um fenômeno em escalada que se soma às matanças de cristãos por obra de fanáticos hindus, na Índia, e a uma mais severa repressão dos católicos fiéis ao Vaticano, na China comunista” (“Corriere della Sera”, 25-2-99).

Índia: em alguns meses, recrudescimento da violência anticatólica

Não existe somente a perseguição em nome do Islã, mas também a que é movida pelo hinduísmo fundamentalista. Tendo-se iniciado há pouco tempo um vagalhão de intolerância hinduísta no estado de Gujarat, estende-se ele agora para outras zonas do país. “No dia 2 de fevereiro, no Bihar, uma escola católica foi apedrejada e dois sacerdotes foram espancados por um grupo de jovens. No dia seguinte, em Baripada, na Orissa, poucos dias depois da matança do missionário australiano Graham Staines, uma freira católica indiana de 35 anos foi agredida e estuprada… No dia 7 de fevereiro, sempre na Orissa, uma jovem cristã de 18 anos …. foi violentada e depois morta com o seu pequeno irmão de 10 anos” (Fides,12-2-99). O citado serviço de “Marianne” informa-nos que, “em nome de ‘ghar  vaspi’, o retorno às origens, multiplicam-se o assassinato e a  violação coletiva de religiosas”.

Alguns dirigentes cristãos enviaram uma carta ao Parlamento indiano, solicitando-lhe uma intervenção decisiva. Isto ocorreu após um dia de oração estabelecido por muitas Dioceses católicas da Índia, em 21 de fevereiro último. Mons. Alan de Lastic, Arcebispo de Delhi, declarou que o dia de oração foi organizado “para sensibilizar a opinião pública sobre as violências sofridas pela comunidade cristã em Gujart, Orissa, Uttar Pradesh, Bihar e em outros lugares do país” (Fides, 26-2-99). O mesmo Prelado denunciou que está em curso “uma depuração étnica e religiosa” (“Marianne”, 21-27-12-98 ).

O governo federal, que estava  no poder até algumas semanas, era dirigido pelo Bharatiya Janta Party (BJP), o qual por sua vez se inspirava no movimento Rashtriya Swayamsewak Sangh (RSS), criado em 1925 como um “exército religioso”. O RSS é o principal responsável pelo clima de perseguição religiosa, com a eclosão de uma campanha maciça contra a presença cristã na Índia, e pela “visita” em poucos meses a um milhão e meio de casas.

O Fórum Cristão unido pelos Direitos Humanos registrou mais de 150 casos de violência anticristã  desde 1998, quando a coalizão chefiada pelo BJP assumira o poder (cfr. Fides, 23-4-99). Com a queda do governo BJP, os cristãos sentem um alívio … mas não se sabe quanto tempo ele durará.

Jamais cruzar os braços diante da  intolerância anticatólica

Séculos atrás, a História foi sulcada pelo “maior fenômeno mediático” – para utilizar a expressão de um jornalista do quotidiano parisiense “Le Monde” – que foi a Cruzada. Movimento este – convém  recordá-lo –  pregado pelo Papa Urbano II, incentivado pelo Doctor Mellifluus (São Bernardo), e do qual tomou  parte São Luís IX,  Rei de França. Os princípios doutrinários que o legitimavam foram também  magistralmente expostos por Santo Tomás de Aquino.

Diante dessa escalada da perseguição religiosa, os católicos hodiernos têm o dever de prestar, na medida  de suas possibilidades,  auxílio a seus irmãos na Fé submetidos a perseguições, em qualquer parte do Globo.

Encerrar-se-á o atual milênio com a eclosão de guerras de religião globalizadas? Presenciaremos a uma contra-cruzada, confirmando o que disse o presidente do Egito, Nasser em 1962: “O Crescente arrastou a Cruz na lama… Só uma cavalgada muçulmana é que nos poderá restituir a glória de outrora. Essa glória não será reconquistada senão quando os cavaleiros de Alá tiverem pisoteado São Pedro de Roma e Notre Dame de Paris”. (*)

Aconteça o que acontecer, uma coisa é certa: Nossa Senhora triunfará! E, como assegurou o Divino Redentor,  “as portas do Inferno não prevalecerão”(Mt. 16,18) contra a Santa Igreja, Católica, Apostólica, Romana.

*) Apud “Nouvelles de Chrétienté”, n. 362, de 13-9-62

(Extraído da Revista Catolicismo de Junho/1999)

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