27 de Abril
São Pedro Canísio, “Martelo dos Hereges”
(+ 1597)
Doutor da Igreja, conhecido como Martelo dos hereges, foi um dos mais destacados líderes da Contra-Reforma católica. Várias nações da Europa central devem-lhe a perseverança na verdadeira fé.
Natural de Nimega, na Holanda, onde nasceu em 8 de maio de 1521, filho de Jacob Canísio, burgomestre local, e Egídia van Houweningen, Pedro perdeu a mãe aos dois anos de idade. Na idade escolar, foi enviado a Colônia para o estudo de artes, direito civil e teologia. Aos 19 anos recebeu o grau de doutor em direito civil, e foi para Louvain estudar direito canônico.
Fez então os exercícios espirituais com o Beato Pedro Fabro — o primeiro discípulo de Santo Inácio de Loyola — e decidiu dedicar sua vida à evangelização como membro da Companhia de Jesus.
No dia 8 de maio de 1543, em Colônia, foi recebido como noviço por outro dos primeiros jesuítas, Padre Pedro Lefèvre. Apenas ordenado em 1546, foi julgado digno de substituí-lo como superior. Em Colônia, fundou a primeira casa da Companhia de Jesus em terras alemãs.
Naquela época tumultuosa, em que os erros de Lutero contagiavam um clero e uma sociedade decadentes, o próprio Arcebispo de Colônia, Hermann de Weda, aderiu à heresia do monge apóstata e tentou arrastar a ela seus diocesanos, como infelizmente muitos outros já haviam feito. Mas os diocesanos de Colônia reagiram e escolheram o Pe. Canísio para pedir ao Núncio Apostólico, ao Imperador Carlos V e ao Arquiduque George da Áustria a deposição desse mau pastor. O Papa excomungou Hermann e o substituiu por um digno prelado.
Brilhante ação no Concílio de Trento
Formação dos contra-reformadores
“Tudo, no tempo de Inácio, estava para ser fundado: ele necessitava de mestres capazes de eclipsar seus rivais heréticos. Sabe-se que Lutero deveu uma parte de seu poder à sua eloqüência ardente, à sua facilidade prodigiosa para tratar as matérias filosóficas e religiosas em sua língua materna. Os discípulos que deviam sucedê-lo em seu ensino o imitavam e adquiriam bem depressa esse prestígio que deslumbra os espíritos fracos. Inácio formou mestres que superaram rapidamente os pretendidos reformadores”.(1)
Durante cinco meses, o Pe. Canísio permaneceu na Casa-Mãe dos Jesuítas em Roma. Depois disso Santo Inácio enviou-o para ensinar retórica no colégio de Messina. Queria o superior experimentar sua virtude, pois, após ter brilhado no Concílio, poderia pretender mais honrosa posição. Canísio era, entretanto, de outra têmpera, e a despretensão foi uma de suas virtudes mais características.
Um ano depois voltou ele a Roma, desta vez para pronunciar os votos definitivos.
Reitor da Universidade de Ingolstadt
Foi nessa época que o Duque da Baviera, Guilherme III, pediu ao Papa Paulo III que lhe enviasse alguns professores da Companhia de Jesus para a Universidade de Ingolstadt. Santo Inácio escolheu para a missão Canísio, le Jay e Salmeron, três dos seus mais caros discípulos.
No caminho o Pe. Canísio parou em Bolonha, onde recebeu o título de Doutor em Teologia.
No dia 13 novembro de 1549, os três jesuítas chegaram a Ingolstadt. Lá, Pedro Canísio ensinou teologia, catequizou e pregou. No ano seguinte foi eleito reitor da Universidade. Mas a obediência destinava-lhe outro campo de atividade. Em 1552, Santo Inácio enviou-o ao novo colégio da Companhia, em Viena. Na Áustria, perigava a fé. Não só o clero secular e as ordens religiosas, como também as escolas, estavam infectados pelos gérmens da heresia luterana. Havia cidades sem pastor, os sacramentos estavam abandonados, não se celebravam mais cerimônias religiosas. Nessa triste situação, Canísio multiplicou-se por si mesmo, pregando na corte, ao povo e às crianças. Durante a peste que assolou o país, pregou a reconversão a Deus e assistiu heroicamente os empestados e os moribundos.
Para piorar as coisas, o Arquiduque Maximiliano, filho mais velho de Ferdinando I, nomeou como pregador da corte um padre casado e adepto da pseudo-reforma de Lutero. Pedro Canísio reagiu, tendo escrito e falado diretamente ao Imperador contra tal situação, e se opôs diretamente ao herege em disputas públicas e em sermões. O padre apóstata foi expulso da corte, fato que Maximiliano não perdoará a Canísio.
O Imperador ofereceu-lhe a sé vacante de Viena, mas o jesuíta recusou peremptoriamente o convite. Em 1555, vemo-lo junto ao Imperador na Dieta de Augsburgo. Nesse ano e no seguinte ele pregou em Praga, sendo muito perseguido pelos hereges hussitas locais.
A Summa de São Pedro Canísio e o catecismo
Dessa súmula diz o bem-aventurado Papa Pio IX, no breve de beatificação de Pedro Canísio: “Tendo notado que a heresia se propagava por toda parte por meio de pequenos livros, Canísio pensou que não havia melhor remédio contra o mal do que um bom resumo da doutrina cristã. Ele compôs então o seu, mas com tanta exatidão, clareza e precisão, que não existe outro tão próprio para instruir e confirmar os povos na Fé católica”.(2)
Ainda em 1556 ele abriu colégios da Companhia em Ingolstadt e Praga, e nesse mesmo ano foi nomeado primeiro provincial da Alta Germânica, que abarcava Suábia, Baviera, Boêmia, Hungria, e a Baixa e Alta Áustria.
O santo missionário era requisitado em toda parte. Durante o inverno de 1556-1557, atuou como representante do Imperador na Dieta de Ratisbona, em cuja catedral pregou.
Brilhantes embates contra o luteranismo
Por escolha dos príncipes católicos e ordem do Papa, tomou parte nas discussões religiosas de Worms com os luteranos, refutando Melânckton, discípulo predileto de Lutero. Foi muito hábil, conseguindo que os protestantes das várias seitas se desentendessem entre si, e a sessão foi suspensa.
Pouco depois, pregou e confirmou na fé os católicos da Alsácia e de Friburgo. A pedido do Arquiduque Alberto, foi para a cidade de Straubing, cujos pastores haviam debandado e recomendado ao povo que deixassem a fé católica. Durante seis semanas, Pedro Canísio pregou até quatro vezes por dia. Por sua caridade, mansidão e santidade, confirmou o povo na fé de seus antepassados.
Viajou em seguida a Roma para assistir ao primeiro Capítulo Geral de sua Ordem. Lá recebeu do Papa a missão de acompanhar o Núncio Apostólico à Polônia, onde os miasmas do protestantismo faziam perigar a verdadeira fé, aí participando da Dieta de Piotrkow. Fortalecido por ele, o fraco Rei Sigismundo declarou solenemente que não admitiria que se tocasse em nada nos direitos da Igreja.
Entretanto, foram retomadas as sessões do interrompido Concílio de Trento. E tanto o Papa Pio IV quanto o Imperador e os legados apostólicos julgaram imprescindível a presença de Pedro Canísio. Na magna assembléia, foi ele encarregado de presidir uma comissão que iria rever o Index, ou catálogo dos livros condenados. Como sempre, o santo brilhou por sua sábia atuação.
Concluído o Concílio em 1563, surgiu o problema de fazer os príncipes alemães aceitarem suas decisões. A escolha papal recaiu novamente em Pedro Canísio. Nomeado Núncio Apostólico, foi enviado à Alemanha. Após o êxito de sua empresa, o novo Papa São Pio V ordenou-lhe que participasse da Dieta de Augsburgo, realizada em 24 de março de 1566.
Os protestantes de Magdeburgo escreveram um odioso panfleto, repleto de injúrias à Igreja e aos católicos, denominado Centúrias de Magdeburgo. O Papa ordenou ao Pe. Canísio de refutá-lo. Escreveu então as Alterações da palavra divina, obra-prima de controvérsia e apologia da Religião católica.
A Suíça encontrava-se em perigo. A pedido do Papa, Pedro Canísio dirigiu-se àquela nação, tornando-se o segundo apóstolo do país e padroeiro de Friburgo.
Não é possível, nos limites de um breve artigo, seguir toda a gloriosa trajetória desse zeloso filho de Santo Inácio.
Já em vida foi cognominado Martelo dos hereges, pela constância com que os refutava e devido à força dos seus argumentos
Faleceu de uma hidropisia longa e dolorosa, em 20 de dezembro de 1597. Pela importância de seus escritos, foi declarado Doutor da Igreja.(3)
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Notas:
- Les Petits Bollandistes, Vies des Saints d’après le Père Giry, Bloud et Barral, 1882, tomo XIV, p. 402.
- Id., p. 403.
- Também utilizamos como fonte de referência deste artigo a obra de Otto Braunsberger, in The Catholic Encyclopedia, Volume XI, online edition.
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