InícioSITUAÇÃO NACIONALA São Paulo que Plinio viu crescer

A São Paulo que Plinio viu crescer

Neste mês a revista Catolicismo tradicionalmente costuma recordar o falecimento de seu inspirador e principal colaborador, Plinio Corrêa de Oliveira, ocorrido há 21 anos, no dia 3 de outubro de 1995. Em sua homenagem a revista [capa abaixo] publica a matéria que abaixo transcrevemos. Ela procura apresentar ideais da vida do Prof. Plinio, destacando seu apreço pela cultura francesa e o ”rayonnement” (a irradiação) da França que cativou o mundo inteiro. Trata também do ambiente da cidade de São Paulo, no início do século XX, influenciado por tal cultura.

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Plinio aos 4 anos, época em que visitou a França com a família

Nas considerações que seguem, é meu intuito homenagear o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira de modo especial com a recordação de alguns fatos e observações a respeito das relações desse grande pensador com a França, ou, mais precisamente, com o espírito francês, que ele tanto apreciou. Espero com isso, igualmente, proporcionar aos leitores elementos para melhor compreensão do ambiente geral e de certos aspectos da vida quotidiana como era há cerca de cem anos, transmitidos em memórias, pinturas e obras literárias.

Sabemos que Dr. Plinio nasceu em São Paulo no dia 13 de dezembro de 1908. Mas o que significa essa data em termos de costumes, de visão do mundo, da vida e da civilização? A vida moderna é tão intensa, tão repleta de novidades e distrações, que a maioria das pessoas pouco reflete sobre o passado, entretanto tão rico em lições para o presente e o futuro. Assim, proponho ao leitor um rápido bosquejo que situe o início do século XX em relação a outros períodos da nossa história.

Heranças do Brasil monárquico

Todos sabem que a descoberta oficial do Brasil se deu em 1500, no reinado de Dom Manuel, e que o povoamento e colonização de nosso então informe território iniciou-se efetivamente apenas sob Dom João III de Portugal, quando ele instituiu o governo-geral (regimento de 17-12-1548), após o fracasso da grande maioria das capitanias hereditárias. Esse rei empenhou-se particularmente no envio para o Brasil de missionários jesuítas e de colonizadores, a fim de catequizar os índios e colonos, desbravar e civilizar o território. Foi trabalho difícil, lento, longo e penoso.

A bem dizer, nosso País só alcançou a sua maioridade quando a família real se transferiu para o Rio de Janeiro, devido à invasão de Portugal por tropas de Napoleão. Ele era governado por Dom João VI, Príncipe Regente, uma vez que a Rainha Dona Maria I, sua mãe, ficara muito traumatizada em 1792, ao tomar conhecimento das barbaridades cometidas durante a Revolução Francesa.

A primeira medida tomada pelo Príncipe Regente foi a abertura dos portos brasileiros, em 1808. Ele concebeu um plano de grande envergadura, que chegou a concretizar-se no decreto de 16 de dezembro de 1815: a criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Tal medida estipulava que os três reinos formassem doravante um único Reino, sob aquele título.

Retrato de Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord – François Gérard (1770-1837), Museu de Versailhes, França.

A ideia teria sido sugerida pelo célebre Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord, então embaixador da França, em conversa com o representante diplomático de Portugal no Congresso de Viena, segundo hipótese apresentada por Mello de Moraes. Após informar-se longamente sobre o Brasil, o célebre estadista francês teria aconselhado o Príncipe Regente a não regressar a Portugal por mais algum tempo, e que enviasse o seu primogênito para a Europa. Nas condições geopolíticas de 1815, após a independência dos Estados Unidos da América, ocorrida em 1776, Talleyrand considerava“como uma fortuna que se estreitasse por todos os meios possíveis o nexo entre Portugal e o Brasil; devendo este país, para lisonjear os seus povos, para destruir a ideia de colônia, que tanto lhes desagrada, receber o título de reino, e o vosso soberano ser rei do Reino Unido de Portugal e do Brasil”.

Infelizmente, o decreto de Dom João VI não chegou a durar sete anos; pressionado pelos liberais (a esquerda da época) dos dois lados do Atlântico, o Príncipe foi obrigado a retornar a Lisboa (1816). Por outro lado, seu filho Dom Pedro proclamou pouco depois (1822) a Independência do Brasil, deixando sem efeito o mencionado decreto. A proclamação da república — no Brasil, em 1889; em Portugal, em 1910 — viria sepultar para sempre um plano que poderia ter mudado a história de ambos os países e quiçá de ambos os continentes.

A verdadeira emancipação da nação brasileira só se daria no fecundo período imperial, notadamente sob o longo reinado de Dom Pedro II.

Dom Pedro I e a Princesa D. Leopoldina de Habsburgo

Filho de Dom Pedro I e da Princesa Leopoldina de Habsburgo, o segundo Imperador do Brasil trazia nas veias as mais nobres ancestralidades da Europa cristã. Sua mãe era filha do último imperador do Sacro-Império Romano Alemão, Francisco II (depois primeiro imperador da Áustria, sob o nome de Francisco I), e seu pai de um Bragança e Bourbon, Rei de Portugal. Por outro lado, a estampa de D. Pedro II era bem a de um homem do século XIX, possuidor de invejável cultura.

A nação era jovem; o crescimento, prodigioso. Mas o que ainda faltava desenvolver era gigantesco. Basta dizer que, durante a primeira infância de Plinio Corrêa de Oliveira, ainda havia no interior do estado de São Paulo tribos de índios que atacavam os funcionários incumbidos de construir a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, como se pode ler no jornal “O Estado de S. Paulo” da época (1911).

Ancestralidade

Lucilia Ribeiro dos Santos e João Paulo Corrêa de Oliveira, pais de Dr. Plinio

Tudo isso teria seu peso no futuro de um país que apenas começava a dar os primeiros passos como nação independente. E também sua influência na formação de Plinio, destinado a combater de frente o Leviatã revolucionário que assomava no horizonte, naquela aurora do século XX.

Alguns dados sobre a sua ancestralidade nos ajudarão a compreender melhor sua vinculação com São Paulo, sua cidade natal, e com o Nordeste, terra de seu pai.

Em 1893 os Ribeiro dos Santos — família à qual pertencia a mãe de Plinio — se estabeleceram na capital paulista, após passarem alguns tantos anos como fazendeiros no interior de São Paulo, na região de Pirassununga, distante pouco mais de 100 km ao norte de Campinas.

Dr. Antônio Ribeiro dos Santos, avô de Plinio, era casado com Dona Gabriela, a matriarca da família e monarquista convicta, amiga da Baronesa de Muritiba, dama da corte da Princesa Isabel. Uma das filhas do casal, Lucilia, viria a ser a mãe de Plinio.

A Princesa Isabel se casou com o Conde d´Eu, neto do rei dos franceses, Luis Felipe

A respeito de Dr. Plinio e os Ribeiro dos Santos os leitores encontrarão interessantes informações na entrevista, de agradabilíssima leitura, que Dr. Adolpho Lindenberg concedeu a esta revista e publicada em sua edição de outubro do ano passado.

Nesse meio inseriu-se, ao casar-se com Lucilia Ribeiro dos Santos, o advogado pernambucano João Paulo Corrêa de Oliveira, pai de Plinio e sobrinho de João Alfredo Corrêa de Oliveira, Conselheiro do Império, senhor de engenho em Goiana, no estado de Pernambuco.

Plinio herdou a calma e o espírito admirativo de sua mãe, bem como a palavra fácil e a vivacidade nordestina de seu pai, a par de uma inteligência brilhante e um modo de ser cerimonioso.

Quando Plinio nasceu, o Imperador D. Pedro II havia perdido a coroa há pouco menos de 20 anos. E só um século antes os portos brasileiros tinham sido abertos ao comércio internacional.

Plinio e a França

Não obstante São Paulo já fosse em 1908 uma verdadeira capital, sua urbanização não seguia, entretanto, o modelo das cidades portuguesas, como nos séculos XVI e XVII, e sim o de Paris.

É explicável, porque culturalmente era da capital francesa que a cidade recebia a maior influência europeia. O brilho social de Paris, os seus literatos, o seu poder político e o império colonial francês certamente contribuíam para tal. Sem dúvida existia também o prestigioso império britânico e o poderoso império alemão, sob a férrea disciplina militar do Kaiser. Mas, para os brasileiros, certos fatores os inclinavam decididamente para a influência francesa.

Em primeiro lugar, porque a Família Imperial brasileira mantinha vínculos muito particulares com a França: a Princesa Isabel casara-se com o Conde d’Eu, neto do rei dos franceses, Luís Filipe. Missão militar francesa formava nossos futuros oficiais. E Paris era a capital preferida, onde as elites de São Paulo e Rio aprimoravam-se quanto ao bom gosto e brilho da vida social. A propósito, convém lembrar que a arte de saber agir (savoir faire), de expressar-se bem (savoir dire) e saber agradar (savoir plaire) provém da França, sobretudo a partir do reinado de Luís XIV.

Para bem compreender essa época, é oportuno ler a descrição de uma cena de rua parisiense pintada por Jean Béraud (1849-1935) [quadro abaixo] e reproduzida a seguir. O comentário é de um francês de talento e figura num calendário (mês de junho de 2012) da prestigiosa TFP francesa.

A vida, as cores, a elegância são os elementos que atraem o olhar no primeiro relance. Chamam a atenção a distinção no traje das duas mulheres em primeiro plano e os mil detalhes que convidam, por assim dizer, a entrar na cena. Nesta, todos estão absorvidos por ocupações, mas não se percebe nenhum nervosismo. O caixeiro de uma loja vai entregar os pacotes; um varredor empurra para ralos os restos de neve e lixo; a empregada de uma casa, de avental branco, atravessa a rua. As diferentes classes sociais misturam-se harmoniosamente. Vê-se na cena uma sociedade que ainda é análoga a um corpo vivo, onde cada membro ocupa seu lugar e desempenha seu papel; ela não se baseia no orgulho, tampouco na inveja de quem possui mais ou é mais que os outros.

“Os fiacres circulam em bom número, mas pode-se cruzar a rua mais ou menos em qualquer lugar e como se quiser, sem ser enquadrado por milhares de regulamentos de trânsito meticulosos. E a adoração da técnica ainda não invadiu nem subverteu todos os valores”.

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Era bem esta a Paris, pintada por Jean Béraud, que fascinava a sociedade paulistana e encantou o pequeno Plinio há cerca de um século. A vida de família era então sólida. Escrevia-se à mão, com bela caligrafia. Era demorado, mas pululavam as ideias e os literatos. O automóvel e o avião apenas começavam a desenvolver-se.

Mais tarde, ocorreu significativa mudança: a cidade de São Paulo cresceu desmesuradamente; as velocidades aceleraram-se… até travar as atividades dos habitantes com os intermináveis congestionamentos de veículos e a agitação das ruas. Hoje, faz-se em uma noite a viagem que outrora demorava um mês… ou fica-se parado num engarrafamento do trânsito durante horas! E o computador executa em alguns minutos uma tarefa que podia levar horas ou dias, mas as cabeças já não produzem ideias, porque a televisão não as deixa pensar… Nem sempre a qualidade corresponde à rapidez, enquanto a elegância vai cedendo sempre mais à vulgaridade. 

Testemunho insuspeito

Georges Clemenceau, que foi ministro e chefe de governo da França

O fato é que, por certas razões, naquele tempo São Paulo inspirava-se em padrões parisienses, a ponto de Georges Clemenceau (político e estadista, cognominado “o Tigre” por seu radicalismo) nela sentir-se muito à vontade quando a visitou, em 1910.

Em suas notas de viagem sobre o Brasil, publicadas em 1911 pela revista “L’Illustration”, ele descreve o fazendeiro paulista como“um senhor feudal imbuído do pensamento europeu”, e o considera“infinitamente superior (sic!) à generalidade dos seus similares do Velho Continente, tanto os nascidos da tradição quanto os que surgiram dos acasos da democracia”.

Esse superlativo elogio é de deixar pasmo, sobretudo na pena de um francês que ocupou os mais altos cargos em sua nação. Ao leitor do século XXI, tal descrição pode até parecer inverosímil. Desde já é preciso insistir que, depois disso, ao longo de um século a sociedade paulista mudou assustadoramente.

Clemenceau era um revolucionário de esquerda, ateu e anticatólico, o que torna insuspeito seu depoimento. Além disso, suas observações datam do período da Belle Époque (1871-1914), época em que as imprecisões e incorreções de linguagem não eram perdoadas, sobretudo tratando-se de um homem que fora ministro e chefe de governo, e que voltaria novamente a sê-lo durante a Primeira Grande Guerra.

Clemenceau considerava também que havia “muitas afinidades entre os dois povos” (o francês e o brasileiro), das quais ele afirmava convencer-se a cada momento.

“Tive a inexprimível satisfação de o comprovar em meu primeiro contato com o grande público do Rio, e a experiência foi renovada em São Paulo com tanta felicidade que foi possível entregar-me sem reservas ao prazer de falar como francês a outros franceses, sem que nada me fizesse notar as particularidades de alma de um estrangeiro ao qual eu tivesse de me adaptar”, afirma ainda o político francês. E acrescenta:

“A cidade de São Paulo (350 mil almas) é tão curiosamente francesa em alguns de seus aspectos que, durante toda uma semana, não me lembro de ter tido nem uma só vez a sensação de encontrar-me fora da França. O fato de a língua francesa ser ali falada correntemente não é uma particularidade de São Paulo. A sociedade paulista, que por tradição tem talvez uma personalidade mais marcante do que a de qualquer outro conjunto semelhante na República do Brasil, apresenta o duplo fenômeno de se orientar de modo resoluto para o espírito francês e de, paralelamente, desenvolver todos os traços da individualidade brasileira que determinam o seu caráter. É indubitável que o paulista é paulista até o fundo da alma; paulista tanto no Brasil como na França ou em qualquer outro lugar. Isso posto, dizei-me se algum dia houve, sob as aparências de um homem de negócios ao mesmo tempo prudente e audacioso que soube valorizar o café, um francês de maneiras mais corteses, de conversação mais amável e de espírito mais aristocraticamente leve.”

Ruas Direita e 15 de Novembro, em São Paulo, nos anos 10.

Dessa descrição, retenhamos dois pontos:

1. O fazendeiro paulista era como “um senhor feudal imbuído de pensamento europeu”;

2. A sociedade paulista apresentava “o duplo fenômeno de se orientar de modo resoluto para o espírito francês e de, paralelamente, desenvolver todos os traços da individualidade brasileira”.

O senhor feudal

Quem eram os senhores feudais? Quando da decadência do Império Romano e a invasão da Europa por povos bárbaros oriundos do leste e do norte do continente europeu, boa dose de caos se fez presente em vários lugares. Em 711, os maometanos invadiram também pelo sul, dominando a Península Ibérica. Mas foram derrotados por Carlos Martel ao tentar conquistar o reino dos francos.

A personalidade excepcional do Imperador Carlos Magno colocou certa ordem na Europa de então. Após sua morte, o Império foi dividido entre seus três filhos, que não possuíam as qualidades do pai. Isso provocou o enfraquecimento e a fragmentação dos Estados, gerando muita insegurança, sobretudo entre os mais fracos. Assim, numerosos pequenos feudos ou propriedades autônomas para sobreviver buscavam proteção junto a um senhorio mais poderoso, em condições de assegurar-lhes certos direitos e liberdades.

Nasceu assim o sistema feudal, tendo por base um conjunto de relações pessoais fundadas na ajuda recíproca. Convinha aos poderosos, porque estes precisavam de homens para os trabalhos da agricultura e para seus pequenos ou grandes exércitos. Convinha aos mais fracos, pois sem a proteção de um exército não tinham condições de enfrentar invasões predatórias, numa época que conservava ainda muito de barbárie. E o relacionamento feudal era de tipo paterno e filial.

Mais do que sua definição histórica ou sociológica, o que interessa ressaltar aqui é o significado de senhor feudal. Este indica um homem de valor excepcional, por suas qualidades de liderança, de combate, por seu espírito empreendedor, dispondo de recursos que o torna capaz de dominar e proteger os territórios sob a sua jurisdição ou influência. Ao mesmo tempo protetor dos mais fracos e necessitados.

A epopeia das Cruzadas decorrera em grande parte da fé de senhores feudais. Godofredo de Bulhões, Simão de Montfort e tantos outros heróis foram senhores feudais e cruzados, como também São Luís IX, rei de França, e ainda outros soberanos. Godofredo conquistou Jerusalém. Simão erradicou a heresia cátara do sul da França. Ambos foram católicos de grande estatura, não obstante as detrações de que eles são objeto por parte de inimigos da Religião Católica.
Plinio Corrêa de Oliveira [foto] foi cognominado, como dito acima, o “Cruzado do século XX”, por sua combatividade, pela pureza de seu ideal católico e contrarrevolucionário. Se ele jamais empunhou contra alguém uma espada, entretanto sempre empunhou o gládio do espírito. Basta folhear qualquer de suas biografias para convencer-se do quanto ele realizou como homem de luta e de ação.(*)

O homem de salão

Príncipe de Condé (“le Grand Condé)

Os senhores feudais constituíram também a matéria-prima da aristocracia, com a obrigação de frequentar as cortes de seus reis ou suzeranos, onde era mister aprimorar-se no trato social, na elegância, e nos requintes de educação e caridade que constituíam o ornato de um governante.

No Ancien Régime, época histórica que antecedeu a Revolução Francesa, as contendas já não se decidiam somente nos campos de batalha, mas principalmente nas cortes, entre diplomatas, ministros e outros representantes da sociedade, inclusive da burguesia, cujo papel assumiu importância cada vez maior na Europa, a partir do século XIV.

Apareceram então os homens simultaneamente de combate e de salão, como os mosqueteiros do Rei Luís XIII. Homens que eram tão experientes no manejo da espada como no trato social e em manobras políticas; mestres no saber como fazer, como agradar, o que dizer (savoir faire, savoir plaire, savoir dire).

No mesmo sentido, na alta nobreza que frequentava a corte de Luís XIV havia figuras de relevo no campo militar, como o fulgurante Príncipe de Condé (“le Grand Condé”) e o marechal Henri de La Tour d’Auvergne, visconde de Turenne, grande estrategista militar do Rei Sol.

 O contemplativo e o homem de ação

Tudo isso chamava a atenção de Plinio. Adulto, ele assumiu conscientemente os princípios da civilização cristã, para colocar-se a serviço da causa católica contrarrevolucionária.

Plinio Corrêa de Oliveira, como vimos, foi um cruzado de seu tempo, manuseando com destreza o gládio da fé. Foi igualmente brilhante na esgrima intelectual pelo “esprit de repartie”, seu agudo espírito de resposta, como escritor, polemista e orador. Ademais era extraordinário o atrativo de sua conversa.

De onde lhe provinha essa capacidade de ação? Ela não era espontânea, mas pensada e desejada com vistas a um objetivo: a formação de um movimento de católicos militantes, a serviço da Igreja e da civilização cristã. É fruto da contemplação.

Contemplação das verdades católicas, antes de tudo. Mas também das almas, da História, das sociedades, dos ambientes, costumes e das civilizações, dos santos e de grandes personagens. Ele acima de tudo contemplou de modo contínuo a luta entre bem e mal, entre a luz e as trevas, entre o Corpo Místico de Cristo e os asseclas de satanás.

A evolução dos inventos, das técnicas, dos trajes, da vida social, da linguagem, das mentalidades… Tudo isso despertava a atenção de Plinio em seus tenros anos. Mais tarde ele viu com clareza: uma força profunda e poderosa movia a sociedade, as próprias almas, sempre no sentido de destruir a civilização cristã que ele tanto amava! A essa força ele deu um nome: Revolução. E compreendeu que, para vencê-la, só as almas íntegras poderiam alcançar êxito. Por isso, escreveu no prefácio de seu livro Meio século de epopeia anticomunista (1980):

“Quando ainda muito jovem

Considerei enlevado as ruinas da Cristandade.

A elas entreguei meu coração.

Voltei as costas ao meu futuro

E fiz daquele passado carregado de bênçãos

o meu porvir…”

Plinio Corrêa de Oliveira acompanhando a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, em visita ao Brasil nos anos 70

O bom combate contra-revolucionário

Aos 20 anos, engajou-se no movimento das Congregações Marianas. Seu apostolado atraiu os primeiros companheiros de luta na mesma causa. Tornou-se colaborador e mais tarde diretor de “O Legionário”, órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo. Orador brilhante, proferiu conferências em numerosas cidades do País.

Ele fez do combate à Revolução o ideal da sua vida. As ideias que professou estão explicitadas emRevolução e Contra-Revolução — livro de cabeceira de todos desejosos de segui-lo nesse combate.

Merece especial menção a influência que teve na vida de Plinio Corrêa de Oliveira a obra Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de autoria do grande missionário francês do século XVIII São Luís Maria Grignion de Montfort. A admirável devoção mariana como escravo de amor a Maria Santíssima, segundo a doutrina desse grande santo, constituiu traço saliente da profunda espiritualidade do Prof. Plinio.

Como líder católico, advogado, jornalista, deputado à Assembleia Constituinte de 1934, escritor, Plinio Corrêa de Oliveira batalhou continuamente no Brasil, de modo particular em São Paulo, onde formou um grupo de discípulos. E mais tarde fundou a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP). Entidades autônomas e coirmãs formaram-se em outros continentes. Como dessas entidades, com suas histórias repletas de assinalados lances, nossos leitores já possuem um bom conhecimento, aqui dispensamos a narração.


 

(*) Veja-se a obra “Minha Vida Pública – relatos autobiográficos de Plinio Corrêa de Oliveira”:http://www.pliniocorreadeoliveira.info/Minha_Vida_publica/MVP_00_Apresentacao.htm#.V9N3Xo-cHmQ

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