Predicas e Discursos de Antônio Conselheiro
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Tempestades que se levantam no Coração de Maria por ocasião do mistério da Anunciação.*
*Os números ao lado do texto correspondem, com ligeira diferença, à numeração das páginas do original manuscrito. A omissão de alguns números é do manuscrito, fielmente copiado.
Primeiro ponto
[3] Recolhida em sua casa e dando a cada ocupação o tempo conveniente, era o tempo da oração a que a Senhora se entregava de modo admiravelmente exemplar. Era ali que com fervor extraordinário dirigia suas súplicas ao Deus de seus pais a fim de abreviar a vinda do Justo. E é quando de repente vê diante de si o [4] embaixador celeste mandado da parte do Senhor e a anunciar-lhe que ela estava destinada a ser Mãe deste mesmo Justo, por cuja vinda tanto suspirava. Maria perturba-se, não duvidando do poder de Deus, mas temendo ver diante de si um jovem com semelhante embaixada. Por entre as agitações em que luta o seu coração, diria consigo mesma: Não passo de obscura filha de Israel: donde, pois, pode vir merecimentos [5] para tão alto destino? Deverei crer na realidade desta embaixada ou alguma ilusão veio assaltar a paz do meu espírito, o repouso de minha alma? — Meu Deus, meu Deus, acrescentaria a Senhora, em tudo e por tudo sede a minha luz.
Segundo ponto
Estando Maria nesta perturbação, o Anjo a tranquiliza, dizendo respeitosamente que não temesse pois Deus a escolhia para sua Mãe. Mas a Senhora [6] tendo só em mente a conservação da preciosa joia de sua virgindade, responde: Como poderá isto assim acontecer se eu sou virgem e Virgem quero permanecer? Oh! Como a incomparável Maria nos dá neste passo uma lição sublime! Perturba-se à vista do enviado celeste, este a tranquiliza e lhe explica o mistério dizendo que será Mãe do Messias, sem deixar de ser a flor das Virgens, pois Deus, que é a mesma santidade, é quem vinha nela encarnar.
[7] Admiremos pois em Maria tanto temor nesta saudação, tanta prudência na resposta e tanta cautela no zelo da sua virgindade.
Terceiro ponto
Exposto, como vemos, aos olhos de nossa consideração o comportamento de nossa Mãe Santíssima, convencidos das agitações porque passou o seu coração neste mistério, perguntemos-nos a nós mesmos que temos feito para corresponder ao seu amor?
[8] Ah! Não sejamos mais ingratos, meditemos no muito que devemos à Senhora; contemplemos que, se neste bem como nos outros mistérios jubilosos aquele sublime Coração perturba-se pelo modo porque eles se operam, confunde-se por se ter na conta de insignificante serva do Senhor, e sente por ver que o seu Deus não pode redimir o gênero humano sem passar´[9] pelas maiores humilhações: contraímos com isto grande dívida para com a Senhora, vendo o modo por que vai cooperando para a nossa redenção.
Continua no próximo post: Sentimento de Maria por causa da pobreza em que se achava, por ocasião do nascimento de seu Divino Filho.
Sumário: Prédicas e Discursos
fonte de referência dos manuscritos: NOGUEIRA, JOSÉ CARLOS DE ATALIBA (1978) : revisão histórica. A obra manuscrita de antônio conselheiro e que pertenceu a Euclides da Cunha. – 2. ed. – São Paulo: Ed. Nacional, 1978