Daniel Ramée, Viollet-Leduc e alguns outros autores especialistas mostraram como se desanuvia o fim moral e o alcance intelectual dos procedimentos técnicos, que são os meios materiais mais importantes e úteis das artes.
Contudo, ao estudarmos as condições que constituem os méritos do estilo gótico, precisamos ir além da beleza estética.
As descrições entusiásticas de nossos antigos monumentos, das visões engenhosas ou poéticas, a justa admiração das obras-primas do espírito humano são de fundo comum, estão abertas a todos aqueles que pensam, e, mesmo àqueles que se contentam em sentir vagamente tais obras; esta distinção essencial é perfeitamente enunciada na obra de Eugène Loudun:
Há duas admirações: aquela do grande público, e aquela do homem instruído. O homem instruído vê as qualidades de uma obra-prima e as explica.
“O grande público, o vulgar, também admira … ele não saberia dizer por que ele admira, mas ele sente que o que ele tem diante dos olhos é admirável. Um camponês não exclamará: é belo!
“Mas ele levará consigo uma imagem do que viu, e, em algum momento, lhe virá uma lembrança que lhe fará levantar a cabeça, como que para vê-la novamente [Eugène Loudun, L’Italie moderne, p.27 – Paris, Rétaux-Bray, 1886, in Revue du monde catholique, 1e novembre 1886].”
Esse sentimento de entusiasmo, quer ele seja mudo ou ruidoso, o estilo gótico inspira ao mais alto grau, e, mais do que em qualquer outro sistema da arquitetura.
Contudo, é preciso dizer que, entre a maior parte dos escritores, os motivos da admiração de tal estilo estão sempre do lado das causas reais: a ornamentação, os pequenos detalhes sobre os quais se insiste são, sobretudo, somente acessórios, cuja supressão não mudaria nada e nem destruiria o mérito essencial da obra.
Esse mérito, que trataremos em expor: é a fonte do sentimento religioso por trás de tal sistema, de onde, por seu alcance real, constataremos sua superioridade intelectual e moral, e, pelos quais, tal sistema é capaz de nos impressionar de uma forma tão intima, profunda e durável.
Não podemos nos deter nos louvores da ogiva ou nos méritos do arco duplo, nem muito menos nas maravilhosas rosáceas e nos vitrais, nas esculturas sobre a pedra e sobre a madeira, nem nos detalhes secundários, comuns aos diversos estilos, ou que qualquer outro estilo pode se apoderar.
É preciso demonstrar que o estilo gótico é independente de todas essas minúcias, e que eleencerra em si mesmo os princípios que lhe são próprios, a mais alta expressão da arte jamais atingida.