Quando nas iluminuras medievais consideramos uma cidade vista de longe, ela se apresenta de modo inteiramente diferente da cidade moderna.
A cidade moderna é de contornos imprecisos, irregulares.
É como um tumor que se vai estendendo de lá para cá e para acolá, de maneira tal que numa certa direção ela cresceu muito, e noutra existem ainda parques que vão quase até o seu centro.
A cidade medieval nos dá impressão de uma moeda bem cunhada.
Ela está repleta de casas, num recinto delimitado por um muro e realçado por torres.
O muro é o resplendor da cidade, que tem em torno de si uma coroa feita de muralhas.O limite é definido e claro: para além do muro, campo; para dentro do muro, cidade.
Essas lhe asseguram a possibilidade de se defender por si própria e de manter sua autonomia.
Vista assim em seu conjunto, a cidade dá a impressão de uma caixa de tesouros.
Dir-se-ia que entre suas torres havia uma espécie de competição para atingir o céu.
As ruas não correspondiam muito às ideias do urbanismo moderno.
Eram sinuosas, caprichosas, inesperadas, com peculiaridades singulares.
As casas não tinham numeração.
Essas ruelas estão para os quarteirões de nossos dias, quadrados e cortados em ângulo reto, mais ou menos como a caligrafia está para a datilografia.
A letra datilográfica é irrepreensível; a letra manuscrita muitas vezes é irregular, e até feia, mas tem a expressão de uma alma.
Esses quadriláteros urbanos, o que exprimem?
As almas dos homens sem alma…
Fonte:IPCO