“A gente até gostaria de ser rebelde…. mas [a gente] não sabe muito bem como fazer isso” (“Veja”, 8-4-92).
Enquanto o jovem gaúcho Rodrigo Nunes assim se manifesta, outros da mesma idade, afrontando o risco, escalam o concreto, até atingir o topo do prédio mais alto de São Paulo, o Edifício Itália. Só para lá deixar inscrições que identifiquem seu grupo. Se algum leitor julgar inverossímil tal escalada –– o que pode ser compreensível –– informo-o que essa prática está se incrementando em nossos dias. Os adeptos do novo esporte –– o alpinismo urbano –– utilizam-se dos mesmos instrumentos empregados para o exercício do alpinismo clássico, que visa a subida de montanhas.
Outros, vestem-se de negro e freqüentam cemitérios.
Há ainda outros mais, que tomam um romance e distribuem entre si os papéis. E revivem em conjunto a trama daquela ficção, geralmente tecida em torno de heróis medievais ou do velho oeste americano.
Não poucos derrapam para a droga e para o crime.
Enfim, os rapazes disparam em direções diferentes, por ocasião de suas primeiras barbas. A menos que fiquem parados, como o “rebelde” do início do artigo.
As cabeças de não poucos adultos também disparam em direções diferentes, sem entender o que se passa. Para alguns, rapaz é uma máquina de produzir dinheiro, recebendo os últimos acertos para começar a funcionar. Para outros, não passa de um longo investimento feito por seus pais, em vias de proporcionar o almejado “retorno”. De outro lado, infelizmente, não poucos homens maduros, lamentando sua juventude perdida, procuram transpor para a mente do rapaz aspirações suas, geralmente inconfessadas. E então imaginam, no corpo do jovem, a própria cabeça. Cabelos brancos por fora, e por dentro um poço quase sem fundo de corrupção e venalidade, com o entulho de anos e mais anos de uma vida desperdiçada.
Estes se surpreendem com o caso de uma Cristina Onassis, jovem das mais ricas do mundo, que se suicidou há algum tempo. Como? Ela não tinha tudo o que a vida pode dar? Por que se matou? Indagam sem entender.
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Uma das características do rapaz ou da moça adolescente, tanto de hoje quanto de outrora, é desejar afirmar-se, aparecendo. Mero exibicionismo? Essa resposta é muito delicada. Por vezes, o jovem quer ser admirado, porque gostaria de ver aplaudido e estimulado nele algo de bom que precisa desse estímulo.
Por detrás do exibicionismo, às vezes há a necessidade de fazer admirar uma certa forma de grandeza, que desejam, mesmo sem disso se darem inteiramente conta.
O jovem, no fundo, quer ter uma história, ainda que ninguém a conheça; uma biografia que, a ser narrada, seria interessante de ser ouvida.
Confusamente, quer chegar a certa altura da vida, olhar para trás e poder dizer: “vivi!”
Isto vale para qualquer ser humano. Mas os jovens, por terem pecado menos, têm mais chances de ainda não ter espezinhado essa grandeza, essa visão da vida, que é a verdadeira. E precisam de muita proteção para conservar tal idealismo.
O rapaz ou a moça sentem que, se seguirem certos exemplos de adultos, lhes entrará na alma um luto, que um dia vai se exprimir pelo seguinte brado interior:
“Eu vivi, e não precisava ter vivido. Deus me criou para algo, e esse algo eu não fiz”.
Entregando os pontos por não querer, ou não saber resistir, ele toma muitas vezes o caminho das falsas aventuras, incluindo ou não a droga. Ou se toma apático, interesseiro, sem cor.
Nisso o jovem brasileiro é igual aos de todo o mundo.
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É preciso apoiar, ajudar o rapaz. Mas, sobretudo, oferecer-lhe uma opção. Pois, pense comigo:
• Se houvesse a possibilidade, no dia de hoje, de escalar as muralhas de uma fortaleza de inimigos da Religião, e plantar no alto dela o estandarte da Cristandade, alguns dos alpinistas do Edifício Itália estariam perdendo tempo com tamanha bobagem? Se o fazem, não será por não terem alternativa?
• Se lhes fosse ensinado observar dramas muito mais interessantes que os de ficção, ou seja, aqueles da vida real, que envolvem a luta entre o Bem e o Mal, a Verdade e o Erro, o Belo e o Feio, eles procurariam reviver as inconseqüências e, às vezes, até os delitos, dos Dráculas, das Dulcinéias ou dos Tom Mix? Usariam a droga para “viagens” mirabolantes, mas cujo preço pode cifrar-se numa prematura e miserável morte?
• Veja os rapazes da TFP, sempre alegres e seguros de terem um firme rumo na vida. Com seu simples modo de ser, eles provam que a felicidade “não é uma calça velha, azul e desbotada”, como diziam os hippies.
Pelo contrário, fazem sentir a verdade da esplêndida afirmação de Paul Claudel: “A juventude foi feita para o heroísmo, e não para o prazer”.
PS.: Se Você é um jovem brasileiro que afina com essas idéias e está sem opção, escreva-nos. Nós o ajudaremos!
- Publicado originalmente na revista Catolicismo em novembro de 1992 na seção Brasil Real.