Há hoje no local um mosteiro para honrar aquela criança, que conhecemos pelo nome de São Luís IX, Rei da França.
O feliz evento aconteceu em meio a uma tormenta política.
Nesse ano, seu avô, o rei Felipe Augusto, derrotou na batalha de Bouvines uma coalizão de príncipes e nobres franceses revoltados, apoiados pelo rei da Inglaterra, João Sem-Terra, sustentados pelo imperador Othon IV e auxiliados por tropas flamengas da Holanda e da Lorena.
João Sem-Terra cobiçava a coroa francesa e o imperador alemão Othon IV tinha sido excomungado pelo Papa.
A vitória de Bouvines foi considerada um “autêntico juízo de Deus” que salvou o trono a ser ocupado um dia pelo principezinho.
Quando ele aprendeu a escrever, assinava Luís de Poissy, gostava de cantar na igreja e ouvir os feitos bélicos de Bouvines dos próprios lábios de seu avô.
Ao subir ao trono, os conselhos do velho monarca inspiraram-no no exercício do poder régio.
Filhote de Leão
Seu pai, Luís VIII, o Leão, faleceu quando voltava de uma Cruzada contra os hereges albigenses. Sua prematura morte causou consternação.
O reino da França estava muito longe de ser a respeitada estrutura política que São Luís legou depois à sua descendência.
No sul, ainda crepitava a revolta da heresia cátara, panteísta e imoral, que corrompia os costumes até além Pirineus.
A Europa cristã estava ameaçada em todas suas fronteiras, e graves desordens grassavam em seu interior. Os mongóis arrasavam a Europa Central e miravam o coração da Europa.
No leste, após ser derrotado em Bouvines, Othon IV renunciara à coroa imperial, afastando-se da política.
Porém, os partidários do erro, que negavam o poder do Papa de destituir imperadores, soberanos, bispos e abades, ainda ateavam crises, desmandos e guerras.
Os Papas estavam absorvidos por esse conflito teológico e político.
Na França, o poder da família real era pequeno se comparado ao do rei da Inglaterra, que também era duque da Normandia e da Aquitânia e cujas terras estendiam-se do Canal da Mancha ao Mediterrâneo.
Ademais, turbulentos senhores feudais geravam desordens, atritos e guerras locais.
Na Espanha e no Mediterrâneo, os muçulmanos promoviam incursões, infestavam o mar com sua pirataria e ameaçavam os portos cristãos.
As notícias do leste da Cristandade eram alarmantes: os mongóis devastavam países batizados havia não muito tempo e parecia que ninguém deteria sua marcha infernal rumo ao Ocidente.
Do decadente e cismático Império de Bizâncio provinham muitas intrigas e apelos desesperados em virtude do progresso das hordas do Islã na Terra Santa e na Ásia Menor.
Ao pequeno “Louis de Poissy” incumbiu o dever de salvar o reino e equilibrar a Europa que soçobrava.
Sua mãe, a piedosa rainha Branca de Castela, era constituída da matéria-prima dos verdadeiros chefes de Estado.
Enérgica e diplomática, ela foi nomeada regente durante a minoridade do rei, que herdou sua piedade e seu caráter.
São Luís foi sagrado aos 12 anos, em 29 de novembro de 1226, na catedral de Reims, mas só assumiu o poder régio em 1234.
Casou-se com uma princesa de nome poético, Margarida de Provence, que levou consigo o grão-ducado de seu pai, reforçando o poder da casa real e trazendo estabilidade e segurança.