O arminho é de uma brancura um pouco desconcertante. Há uma tal quintessência e uma multiplicação do branco pelo branco, pelo branco…, que na consideração do arminho mais parece o sentido positivo da palavra imaculada. Porque, quando se diz, a Imaculada Conceição, diz-se uma coisa de negativo: não ter mancha.
É propriamente não só não ter uma machinha preta de cá e de lá, mas é ser de uma brancura tal que não só não tem nada de não branco, mas também que nada mais de inteiramente branco caiba ali dentro. Por exemplo, para estabelecer o contraste, vamos imaginar o giz. Se se colocasse um bastonete de giz junto a um arminho, o bastonete de giz nos pareceria cinza.
De fato nós contentamos com a brancura do giz é porque não temos a ideia exata do que é o último requinte do branco. O que acontece é que no branco há uma espécie de intransigência por onde ele expele de si de tal maneira o que lhe é contrário e de tal maneira se requinta a si próprio, que ele deslumbra e mobiliza pelo valor da intransigência.
No exame de nós mesmos, a pergunta que deveríamos nos fazer não é apenas se estamos em estado de graça. Devemos ir mais a fundo. É que cada um de nós leva um arminho no fundo de sua alma! E este é um dos sentidos mais profundos da Oração da Restauração e do conceito de inocência.
No arminho há algo tão admirável, além de sua alvura: é a suavidade! O arminho é liso. Ele é suave ao tacto. E cada feltrozinho dele é tão delicado, tão flexível, tão afável que a gente, passando a mão por cima do arminho, a si mesmo se sente acariciado. O próprio do arminho é ter uma espécie de mansidão, uma espécie de flexibilidade, de doçura, de bondade, onde ele se deixa levar e dobrar em quaisquer direções. Por onde ele, dobrado, levado, etc. ele é o mesmo! Ele continua como se aquilo não fosse nada. Quer dizer, ele não se dobra sob a pressão de ninguém. Ele é como um arbusto que cede ao vento mas não se quebra. Passa o vento, ele está de pé de novo…
Entretanto, a alegria da inocência não seria verdadeira se não houvesse a cruz e o sofrimento. Há momentos em que o sofrimento determina um estertor. A alma inocente estertora de sofrimento. Mas é a hora em que o “giz” vai se transformando em “arminho”. O sofrimento incompreensível: “por que aquele sofrimento?”; “Naquela hora?”; “Pedir aquilo? Mas, logo aquilo? E daquele jeito, pedir? Ah, eu não imaginava”. Porque o verdadeiro sofrimento é inimaginado e até certo ponto de vista é inimaginável: “Eu não imaginava; como é que isto sobrevém; como é que chega até lá? Ohhh, … que coisa!”
Contudo, o sofrimento é o complemento indispensável do arminho. Se quiserem, são os dois pólos da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo: Nossa Senhora e a cruz! Se fôssemos comparar Nossa Senhora com o arminho, acharíamos que o arminho é preto. Porque Nossa Senhora é tão, tão, tão pura; tão imaculada, tão Ela mesma!, que o próprio arminho é escuro diante dEla. Mas, de outro lado, como a cruz de Nosso Senhor era negra! Que coisa do outro mundo: o negrume daquela Cruz! O sofrimento, a dor, a batalha, o estetor, a dificuldade, a decepção, o obstáculo. Tudo! Como é tremendo: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”… E está dado a entender que depois dessa exclamação de Nosso Senhor ainda Lhe veio mais sofrimento. Porque Ele não morreu logo depois. Há, entre o “Elli, Elli, llama sabactani” e o consummatum est, uma espécie de auge de dor que a gente não pode imaginar. Mas, debaixo da cruz estava “O” Arminho…