Em 1999, quando concluía meu curso de Técnico em Processamento de Dados no Colégio Estadual do Paraná, vivíamos ainda na era do disquete. O pendrive, o CD regravável (nem se pensava em DVD), Skype, teleconferências com vídeo gratuita, recebimento de e-mail no celular, tablets, Ipads (sim, me recuso a aderir ao modismo da escola marxista de Bauhaus e iniciar essa palavra com o i minúsculo, tão ao gosto do hippie esquerdista Steve Jobs), HD’s com mais de 4 GB, músicas em formato mp3, etc., tudo isso fazia parte de ficção científica. Acredite.
Naquela época – para o mundo da informática parece que o tempo passa mais rápido e o decorrer de apenas uma década parece equivaler a eras inteiras -, então, como eu dizia, naquela época as redes sociais se reduziam as salas de bate-papo dos grandes portais de internet. Muitos desses contatos online depois se transformavam em contatos reais, seja por telefone ou mesmo com um encontro para uma conversa. Isso era considerado natural, embora não sem risco, para pessoas que ainda não viviam plugadas em um computador ou celular com acesso a internet 24 horas por dia.
Uma das sensações mais agradáveis da minha infância, até hoje me lembro, foi quando, certa noite, a luz do bairro inteiro se apagou. A televisão, ainda em forma de tubo, desligava-se forçosamente. Minha mãe, então, apalpava todas as gavetas do cômodo de seu quarto a procura de velas e da caixa de fósforos. Quando um palito era aceso fazia aquele barulho inconfundível do atrito da pólvora com a caixa e surgia um clarão forte, refletindo uma enorme e temível sombra de minha mãe na parede, para, em seguida, perder rapidamente a intensidade da luz que logo tornava a aumentar e a se estabilizar assim que o palito comunicava sua chama ao pavio da vela.
A luz que saia da vela não era tão estável e forte como a da lâmpada elétrica. Mas ela dançava com a leve corrente de ar que passava pelas frestas da casa fazendo um jogo misterioso de luzes e sombras.
Bom, vela acesa e luz restabelecida, mas, e agora? O que fazer?
Sem saber ao certo quando a luz elétrica voltaria, saímos para fora de casa e procurávamos ver a extensão da área do bairro comprometida com a falta de luz. Ficávamos no portão, à luz da lua, vendo as estrelas e conversando um pouco sobre o ocorrido. Aos poucos as famílias vizinhas também começavam a sair de suas casas.
Não demorava muito para que as crianças da rua – eu era uma delas – escapassem da atenção de seus pais e se reunissem para conversar – conversa de criança, é claro! – e, como sempre, a confabulação acaba em um rápido acordo de fazer alguma brincadeira, como por exemplo pique esconde. Por duas vezes ocorreu isso em minha vida e até hoje me lembro. Depois de meia hora, a luz voltava e as crianças ouviam com desgosto seus nomes sendo pronunciados em alta voz pelos seus respectivos pais. A brincadeira tinha terminado. Entrávamos novamente em nossas casas. A TV era religada e a novela, com atores e cenários visivelmente artificiais, continuava com seu blá blá blá. Sentávamos no sofá e não tinha mais nada para fazer do que se contentar com aquilo até que o sono chegasse.
Hoje em dia, nesta época dos popularizados jogos de vídeo games e da fácil aquisição de jogos piratas, parece que muitas crianças nem sabem o que é pique esconde. Desde a infância a sociabilidade mais inocente e natural é coibida pelas ofertas de felicidade oferecidas pelo mundo da seita cibernética -sim, isso mesmo, seita, mas seria longo demais explicar isso aqui.
Este post já está gigantesco e meu tempo de usar a internet já está também acabando. Apenas concluo que minha intenção é tentar iniciar um debate sobre os malefícios do uso descontrolado da internet, do computador, do celular e de toda parafernália eletrônica que inunda atualmente nossos lares. Já passamos da hora de controlar o uso dessas ferramentas e de colocar elas ao nosso serviço sem nos deixar escravizar pelas mesmas.
Desculpe pela improvisação deste post, mas, acredite, existe vida offline, e se você não consegue viver uma semana sem estar plugado saiba que patologicamente você já está dependente, não importa o pretexto que utilize!
Fonte: Sou Conservador Sim, e daí?
Muito bom este post. Me fez ir no fundo do baú porque também vivi exatamente essa sua narrativa. E me lembro das brincadeiras: Garrafão, finca, bolinha de gude, pipa, pula carniça, pique pega, pique esconde, bandeirinha, pião, pula corda, estrelinha, pega lugar, ler gibi, adedonha, salada de frutas (já grandinho), marimba, carrinho de rolimã, patinete, carrinho de lata, brincar de espada nossa e tantas brincadeiras que eu curti quando criança! Hoje vejo as crianças quando não grudadas numa TV com desenho violento, está na frente do computador com algum jogo as vezes violento também. Logo esperar o que do futuro??? Não tenho filho ainda mas com certeza quando o tiver, saberei como conduzí-lo diante da tecnologia.