O mito das massas famintas e revoltadas vai sumindo em diversos setores da opinião pública. Quando o janguismo levantou entre nós o estandarte de sua reforma agrária e a TFP lhe opôs o livro Reforma Agrária – Questão de Consciência, muitos dos arditi do agro-reformismo acenaram com a ameaça de uma revolta geral dos trabalhadores rurais, caso a partilha de terras não viesse logo.
Ouvi, em gravação, as conferências feitas no Chile por um agro-reformista insigne e abrasado, D. Helder Câmara. Ele não fala mais da revolta das massas como um perigo iminente. Pelo contrário, diz que as massas são átonas em relação às reformas, porque são famintas… Assim, a fome, que outrora servia para dar certa verossimilhança ao espantalho da revolução social, hoje serve para explicar a notória atonia do povo!
É necessário voltar sempre a essa tese básica da impopularidade do credo vermelho, se se quiser compreender algo sobre os reais problemas da propaganda comunista.
Se, pregando-o às escâncaras, o comunismo causa horror, como fazê-lo vencer? Evidentemente, é ensinando-o sorrateiramente. Como se faz isto? Lançando movimentos com rótulo não comunista, que se infiltrem em meios anticomunistas e ali transformem furtivamente as mentalidades.
Conforme a psicologia do ambiente a ser infiltrado, varia o rótulo. Assim, para uma infiltração em meios católicos, o rótulo há de ser necessariamente religioso. O objetivo do movimento infiltrante será, então, uma metamorfose ideológica dos pacientes, que os deixe a dois dedos do comunismo, quando não os faça propriamente comunistas.
O que acabamos de enunciar caracteriza os organismos altamente suspeitos — é o menos que se pode dizer — de serem instrumentos a serviço da obra diabólica de “comunistizar” os milhões de católicos.
(*) Trechos do artigo publicado na “Folha de S. Paulo”, 21 de maio de 1969.