Somente no Brasil? Somente no fim do século passado?
Seja como for, essa proximidade do fundo do poço conosco faz pensar. E o tema que vem à cabeça, imediatamente, imperiosamente, é a necessidade da coragem nessa situação extrema.
Com efeito, a crise que assola o Brasil e o mundo, com seus efeitos de confusão e destruição, toma proporções tão incríveis, inéditas, impensáveis, que não dá para imaginar que, sem culpa, alguém não a perceba.
Disse um publicista: no momento atual, só não está confuso quem está mal informado. E é verdade.
Diante dessa situação, o que fazer para ver por inteiro e sem comodismo este “panorama” desagradável? Como não cair no desânimo? E como, na medida das possibilidades de cada um, fazer alguma coisa?
Antes de tudo, é preciso ter coragem. A situação pede coragem.
Mas, o que é a coragem, vista neste contexto? Pois, para alguns de seus críticos, ela seria apenas um misto de teimosia, de vaidade, de amor próprio, de descontrole, de raiva… Assim, a antipatia que deveria ser canalizada contra o crime e o mal, o é por vezes para a coragem.
Que aconteceria com um país em que a antipatia para com a classe médica estivesse em ascensão, e onde as doenças fossem vistas com indiferença cada vez maior? Pois algo de análogo acontece quando se vê a coragem com maus olhos.
Bem outra é a verdadeira coragem: destemor nobre, viril, desinteressado, que é capaz de dar tudo em honra de um princípio.
Plinio Corrêa de Oliveira afirma magistralmente:
“A coragem é por definição a disposição de alma, a virtude pela qual o homem enfrenta grandes provas, ou seja, grandes dores, grandes dissabores, grandes desgostos, grandes perseguições, por um ideal que ele coloca acima de tudo.”(1)
E ele complementa assim seu pensamento:
“Acho isto muito melhor do que ser um indivíduo qualquer que procede como os outros, que pensa como os outros, que julga como os outros, que é levado pelos outros a pontapé”.
A coragem é a virilidade cristã: uma virtude que se insere no universo da virtude cardeal da Fortaleza. Também, oportuno é lembrar que esta [a Fortaleza] tem dois aspectos: o empreender (ágredi) e o resistir (sustínere).
Como diz ainda o Dr. Plinio:
“O mau só vem à tona quando o bom é fraco: se a força no esmagar diminuir, a serpente levanta a cabeça e morde o calcanhar”.(2)
E em outra ocasião esse grande brasileiro ilustra, em termos inspirados, as características da verdadeira intrepidez:
No idealismo ardor;
No trato cortesia;
Na ação, devotamento sem limites;
Na presença do adversário, circunspecção;
Na luta, altaneria e coragem;
E pela coragem, a vitória!(3)
Chegou a hora da coragem. Não fujamos deste encontro.
____________________
Notas:
1 – Conferência para sócios e cooperadores da TFP, em 4-9-1989.
2 – Conferência em 22-7-79.
3 – Plinio Corrêa de Oliveira, A Cavalaria não Morre (Ed. Brasil de Amanhã, São Paulo, 1998) p. 159;