Em companhia de seus parentes e dos principais barões, acabava de jantar. Os senhores de posição inferior, que haviam servido a mesa, começavam a comer. Entre eles se encontrava Ricardo, o segundo filho do Marechal.
O Rei teve a gentileza de esperá-lo terminar a refeição. E depois, perante a assembléia atenta, voltou-se para Guilherme de Barres, seu amigo:
“‒ Ouviste o que me disseram?
‒ O que disseram a Vossa Alteza?
‒ Por minha Fé, vieram-me dizer que o Marechal, que foi tão leal, está enterrado.
‒ Que Marechal?
– O da Inglaterra, Guilherme, valoroso que foi, e sábio. Em nosso tempo não houve em lugar algum melhor cavaleiro e que melhor soubesse manejar as armas.
– O que dizes?
– “Afirmo, e Deus me seja testemunha, que jamais conheci melhor cavaleiro que ele em toda a minha vida”.
Guilherme de Barres sabia do que estava falando: ninguém se lhe igualava em valor na Corte da França, ou seja, no mundo inteiro.
Na sua idade madura, havia rivalizado em valentia com o Conde Marechal; às portas de São João d’Acre batera-se com o próprio Ricardo Coração de Leão. Cabia-lhe conferir ao falecido o primeiro lugar da honra militar.
O Rei Felipe que, por seu oficio, presidia o conselho e sabia quanto valia a amizade varonil, cimento do Estado feudal, coroou-o por outro critério, o da lealdade:
Finalmente, João de Rouvray, um dos que mais perto estiveram do Rei em Bouvines, e que com Guilherme de Barres e os amigos de juventude guardava o corpo real, comemorou a prudência:
‒ “Alteza, julgo que foi ele o mais sábio cavaleiro que se viu, por toda a parte, em nosso tempo”.
Escorada nas proezas, sustentada de um lado pela lealdade, de outro pela prudência, aqui temos a Cavalaria, a mais exaltada Ordem que Deus criou. Nesse tribunal de valor e valentia reunido em torno do Rei Capeto, primeiro lugar-tenente de Deus na terra, Guilherme Marechal, mais valoroso, mais leal e mais sábio, assim foi proclamado o melhor cavaleiro do mundo.