Filhos das trevas e filhos da luz

Já há algum tempo, alguns analistas têm comparado os conflitos ao redor do mundo como equivalentes a uma Terceira Guerra Mundial, que ocorreria aos poucos por meios de crimes, massacre e destruição. Mas essa guerra não é uma guerra qualquer. Trata-se de uma guerra de religião. A guerra contra a civilização cristã e o que dela ainda resta. Tal guerra, promovida pelo Estado Islâmico, vem produzindo vítimas quase todos os dias na Europa, especialmente na França e na Alemanha. Tivemos nessa semana o assassinato brutal de um sacerdote na França.

Há 69 anos, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira já alertava sobre o perigo da expansão do “Sacro” Império de Maomé, o contrário do que foi o Sacro Império Romano Alemão. Por isso, o artigo que reproduzimos abaixo continua atual. Em 1947, ele escreveu nas páginas do Legionário: “as potências maometanas passam por um renascimento nacionalista e religioso verdadeiramente assombroso.” Mas a causa disso é o sono do mundo ocidental que não quer ver, e continua a negar que os atentados recentes tenham ligação com o Estado Islâmico.

O Prof. Plínio conclui o seu apelo dizendo: “Mas os católicos continuam a dormir. No Horto das Oliveiras, eles dormiram também…”

Passamos a transcrever o mencionado artigo:

Há poucas semanas, os maometanos alcançaram um triunfo indiscutível na Índia, com o reconhecimento oficial do Estado do Paquistão. As comunidades islamitas daquela região, que viviam sob direção inglesa, coarctadas a todo momento em sua liberdade de movimentos pelo incomodo convívio com os braamistas, se viram finalmente independentes daqueles, e dissociados destes. Uma nova unidade política maometana surgiu no concerto das nações, representando um povo rejuvenescido, pujante, rico e colocado em situação geográfica e política de indiscutível importância.

download (1)Enquanto este fato se dá no extremo oriente da Ásia, o mundo maometano se mobiliza inteiro na orla do Mediterrâneo para nova empresa, em favor da qual vibram todos os adeptos do Profeta, desde o Ganges até o Marrocos. É a “guerra santa” – sim, uma verdadeira guerra santa – pela posse dos Lugares Sagrados.

Já temos tratado por vezes do problema da Terra Santa. Voltaremos a ele hoje, porque, se bem que o Ocidente e especialmente o mundo católico pareça dormir, há dois motivos de ordem religiosa, ambos transcendentais, que nos forçam a não perder de vista esta questão. Em primeiro lugar não nos podemos esquecer de que a Terra Santa, na qual se passou toda a História Sagrada, na qual sobretudo nasceu, viveu, ensinou, padeceu e morreu  Nosso Senhor Jesus Cristo, é para nós, depois da Eucaristia e da Sé Romana, o que há de mais sagrado no mundo. Tanto isto é verdade, que nossos maiores empenharam os esforços mais extremos e ousados para que a Terra Santa não ficasse em poder dos infiéis. Somos do sangue dos cruzados, e não nos podemos esquecer de que o ideal da libertação do Santo Sepulcro empolgou e levou até o sacrifício do sangue e da vida várias gerações de mártires cristãos. Em segundo lugar, a propósito da posse da Terra Santa, os maometanos estão revelando uma solidariedade, uma energia, um brio que mostra claramente que tudo caminha para a formação de um formidável super-Estado maometano afro-asiático. No próprio momento em que URSS, com suas nações satélites ou escravas, ameaça o Ocidente, o aparecimento de mais este inimigo só pode ser indiferente aos políticos imediatistas, e de vistas curtas. Por tudo isto, a questão maometana, que, se não é ainda inteiramente uma questão de hoje, já é indiscutivelmente uma grave questão de amanhã, nos interessa e nos preocupa. Vejamos, pois, de que forma ela está evoluindo.

Não o faremos, porém, sem afirmar previamente que, na luta entre judeus e maometanos, absolutamente não temos preferências nem simpatias. Somos do tipo de católicos que se recusam obstinadamente a escolher entre [uns e outros]; e que, postos nesta alternativa, só têm uma resposta que dar: viva Cristo-Rei! 

* * *

A Terra Santa é Terra Santa para a Santa Igreja, e para todas as seitas e igrejolas na Europa, da Ásia Ocidental e da África Setentrional, a títulos aliás bem diversos. Lá se passaram os fatos relevantes do Antigo Testamento, de onde o interesse dos judeus. Lá se passaram também os fatos do Novo Testamento: motivo a mais para o interesse dos católicos, dos protestantes, dos cismáticos. Lá se passaram, ainda, muitos dos fatos da história religiosa dos maometanos: de onde o interesse do seguidores do  “Profeta”. Estes motivos religiosos, que dão tanta importância à Terra Santa, são conhecidos, antigos, e fundamentais. Ele interessa os cristãos, judeus e muçulmanos do mundo inteiro, ou seja a maior parte dos habitantes do globo. Ao lado deles, há uma questão étnica e política muito menor, mas irritante. Os judeus se julgam no direito de voltar à Palestina. Sobretudo agora, devido à possibilidade de novo conflito mundial, eles se precipitam para lá, um pouco de todos os pontos do universo. Ora, o super povoamento judaico da Palestina colocará em inferioridade numérica e política (sem falar da inferioridade econômica, já se vê), os muçulmanos, religiosa e racialmente inimigos dos judeus. De onde uma reação árabe contra  este fato. No meio disto, tratados como bagaço, estão os cristãos da Palestina e Síria. Os católicos do resto do mundo pouco se interessam por eles. Eles mesmos parecem ter uma visão muito confusa dos riscos que correm, quer com o predomínio dos árabes, quer com o dos judeus. Sãoquantité  négligeable neste jogo confuso e temível.

Diga-se, para completar este quadro, que a imigração judaica na Palestina deu maior atualidade ao problema, mas que ele já é velho. De há muito, os judeus estão afluindo para a Terra Santa, onde já construíram uma cidade monumental e moderníssima, Tel-Aviv. O protesto árabe contra este fato também é velho.  O que no problema não é velho é que, até há algum tempo atrás, os árabes da África ou mesmo da Ásia meridional se mostravam totalmente desinteressados do problema. Vivendo sob a ação de um torpor secular, não se preocupavam com o aspecto religioso do caso. Politicamente falando, seus problemas eram inteiramente independentes dos da Palestina. Assim, assistiam indiferentes ao desenrolar dos fatos, limitando-se quando muito a alguma atitude puramente platônica, de solidariedade para com os árabes da Palestina. Politicamente, o problema palestiniano continua igualmente desinteressante para as potências maometanas. Mas todas elas passam  por um renascimento nacionalista e religioso verdadeiramente assombroso. O sopro desse renascimento percorre toda a imensa faixa que vai do litoral atlântico do Marrocos até o Paquistão. E, em virtude do renascimento religioso do que poderíamos chamar a “islamidade”, o problema palestino passou a interessar todo o mundo maometano. Por isto, o “caso” judaico-árabe da Terra Santa se  transformou no ponto álgido da política norte-africana e asiática. Tivemos uma amostra disto na violência das manifestações anti-brasileiras ocorridas no Egito pelo simples motivo de que  nosso representante na ONU votou contra os elementos árabes da Palestina.  A luta está concorrendo por sua vez para estimular ainda mais o renascimento pan-árabe e pan-maometano. E, assim, os acontecimentos vão dando aos muçulmanos do mundo inteiro uma consciência cada vez mais nítida, mais vigorosa, de sua unidade, de seu poder, de seus interesses religiosos e políticos comuns.

De há muito, tudo caminha neste sentido. Alguns fatos do noticiário político desta semana, que motivaram mais proximamente este artigo,  mostram que o movimento para a formação de um mundo pan-islâmico se está acelerando cada vez mais.

Com efeito, de há muito os estados Árabes constituíram uma Liga que é uma pequena ONU maometana. Ou antes – quanta é nossa dor ao dize-lo – um Sacro Império, não Romano Alemão, mas maometano anticristão. Já não se pode falar mais de uma Cristandade em nossos dias, e aí está diante de nós, pujante e agressiva, a Islamidade. A isto chegamos. Choramos aos pés da Cristandade quase arrasada, como os judeus junto ao muro das lamentações…

Esta Islamidade, funcionando como outrora funcionava a Cristandade, reuniu-se em Beirute, em sessão plenária da Liga Árabe, e decretou uma espécie de cruzada: pela unanimidade dos presentes, foi resolvido que todos os Estados maometanos mobilizassem seus recursos militares em defesa dos árabes da Terra Santa. As tropas do Egito e da Síria já estão aptas a marchar a qualquer momento.

O eco desta mobilização geral já chegou até Tanger, no outro extremo da África. O delegado do Partido Nacionalista Reformista da zona espanhola do Marrocos já declarou que todos os partidos muçulmanos da África do Norte atenderão à ordem de mobilização da Liga Árabe, por meio de um ou alguns corpos expedicionários, que participarão de todas as operações de “libertação”.

Não se tenha a ilusão de que os motivos religiosos são secundários em tudo isto. Um telegrama de Damasco já vem declarando que naquela cidade “se anuncia que a Guerra Santa será proclamada entre os dias 24 e 28 do corrente, durante as comemorações árabes da festa do sacrifício no Iraque. Essa resolução talvez seja tomada durante a reunião de chefes árabes na Síria”. Acrescenta o telegrama que “as capitais dos Estados árabes estão em constante comunicação discutindo-se as últimas medidas e fixando-se a ordem do dia para a próxima reunião dos chefes. Anuncia-se também que os líderes árabes discutem a questão do comando do exército árabe, que talvez seja confiado ao general reformado Tahan Hachimi, do Iraque, que é pessoa de confiança daqueles chefes”. É possível que estes rumores não se realizem inteiramente. Em todo o caso, o simples fato de que eles tenham tomado tal corpo que as agências telegráficas o tenham difundido pelo mundo inteiro, prova bem em que direção se orientam os espíritos, e qual lhes parece a natureza profunda do problema, e o rumo que normalmente ele deverá tomar.

Discursando em Argel na semana passada, o general De Gaulle aludiu de certa forma a todos estes fatos, quando mostrou que a África Setentrional Francesa está imergindo no caos, na agitação, na anarquia, e censurou por isto a debilidade manifesta do atual gabinete. O problema entrou, pois, de cheio, na esfera da grande política.

Mas os católicos continuam a dormir. No Horto das Oliveiras, eles dormiram também…

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1 COMENTÁRIO

  1. Há uma miopia dos religiosos sobre questões políticas dos governos. Desde Adão e Eva (ou o Homem Agrícola), a forma de governo tem sido de Cacique e seus Pajés. Estes eram sempre religiosos até final do século XIX (Ocidente), onde surgiram os pajés capitalistas, os banqueiros, no lugar dos religiosos. Mas muitos países continuaram ainda “fundamentalistas” (pajés religiosos), considerando que o socialismo é uma religião (sem moral e ética) cujas igrejas são as diversas formas de comunismo.
    Considerando, contudo, somente os pajés religioso fora do comunismo, e localizando no O. Médio (os países islâmico são também comunistas na forma), nos deparamos com estados continuamente beligerantes, tendo Israel (e seus parceiros) como inimigos. Por que? Por causa do Petróleo, se não existisse, os povos do O. Médio podiam se matar, sem que os EUA (e aliados) se preocupassem um mm.
    Hoje a fotografia política do mundo se resume no domínio do Petróleo. Aliás, dos derivados do Petróleo, ele bruto não tem valor prático algum. Israel poderia ter todos os poços do O. Médio (militarmente), não tem um poço sequer, mas quem controla o refino do mesmo no Mundo são praticamente os judeus.
    O O. Médio é onde está aceso o estopim de uma III Grande Guerra, que não acontece ainda por um motivo. Quem controla militarmente o petróleo lá, SÃO OS EUA. O estado constate de guerra é de fato continuação da Guerra Fria entre países comunistas e EUA. Hoje uma III G. Guerra praticamente morreria sem começar, algo como a derrubada de Saddan, que não teve sequer como tirar seus migs da garagem. Seria algo análogo à Rússia e China (grande paises comunistas), sem combustíveis não teriam como disparar seus mísseis e seus caça e bombardeiros, muitos menos seus navios de guerra. E claro que esses países comunistas sabem disso.
    O outro produtos de Petróleo é Venezuela (cujo comprador maior são os próprios EUA), e tendo seus poços na divisa com a Colômbia, estão sob a “proteção” militar dos EUA. Outros países da África produtores, são facilmente neutralizados militarmente.
    Então, uma III G. Guerra ainda seria entre países comunistas e capitalistas (EUA) e é evidente que quem controla militarmente o Petróleo são os EUA, por isso o constante estado de guerra entre no O. Médio, a luta por quem domina o petróleo.
    A luta religiosa é secundária, apenas como pano de fundo!
    Ariovaldo Batista – arioba06@hotmail.com

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