Quase todos nós aprendemos na escola que a Idade Média foi uma época de mil anos de trevas e de fanatismo religioso, sem nada digno de ser mencionado nos séculos seguintes. E não nos damos ao trabalho de estudar as obras, as instituições, a arquitetura, a vida de família e, sobretudo, a profunda religiosidade, que a tornaram insuperável.
Para o jornal, alguns exemplos disso são o frequente aparecimento e as ilustrações de cruzados revestidos de capacete e que bradam o grito de guerra Deus vult! Diz ainda: “Os jornais e sites contrários ao islamismo se nomeiam segundo o rei franco Charles Martel, [quadro abaixo], que lutou contra exércitos muçulmanos no século VIII, ou a derrota otomana (levemente pós-medieval) em Viena”, enquanto “milhões de outros […] são atraídos pela era medieval, de que são testemunhos a popularidade de reconstituições renascentistas ou as fantasias medievais de inspiração, como Game of Thrones”.
A esse respeito, o também muito conceituado site do “National Catholic Register”[ii] publica uma entrevista com o especialista da Idade Média, Andrew Willard Jones, professor de história da Igreja, teologia e doutrina social na Universidade Franciscana de Steubenville, Ohio, sobre seu novo livro Diante da Igreja e do Estado: um estudo da ordem social no reino sacramental de São Luís IX [ao lado, foto da capa], no qual esse acadêmico traz considerações acerca de verdades esquecidas e frequentemente negadas sobre a Idade Média, a qual foi chamada de “A doce primavera da Fé” por Montalembert.
Por isso, Jones afirma: “A Idade Média tem um papel na história do mundo moderno. Nós tendemos a vê-la como um mundo obscuro, de dogma e opressão, pelo que só agora entendemos o que significa liberdade.” O escritor faz então esta afirmação tantas vezes já repetida: “A visão da Idade Média como um período sombrio vem de um ceticismo moderno muito anticatólico.”
Hoje em dia se fala muito em igualdade. É um dogma do mundo moderno. Jones explica: “A modernidade tem uma noção específica de igualdade. Ela vê a desigualdade [entre as pessoas] como fonte inerente de conflito e competição. No cristianismo, as desigualdades levam à paz. Nós vemos diferenças na família: elas se manifestam na busca do bem comum”. E ainda: “Eu usei o exemplo de um pai e um filho, dizendo que eles alcançam o bem comum através de diferentes papéis.” Quer dizer, as diferenças entre ambos os fazem se complementar e completar-se, o que é muito diferente do jargão esquerdista.
O autor trata também em seu livro do tão difamado tema da Inquisição, abordando o tema da Inquisição Francesa do século XIII. Jones afirma: “Há uma visão polêmica e anticatólica da Inquisição. Naquela época havia muito pouco interesse em saber o que as pessoas conservavam em suas mentes. O problema era se [na manifestação das ideias] havia rejeição da ordem social e se a heresia se tornava pública. Uma investigação poderia começar, não havia interesse em pegar ou enganar as pessoas. Na maioria das vezes, a penalidade era a correção. Temos nossa própria versão da Inquisição e da heresia com os mobs do Twitter”.
E conclui: “Precisamos ampliar nossa imaginação. A tentativa moderna de um mundo sem Deus vai falhar. Haverá uma concepção cristã de ordem social, mas não o mesmo que a Idade Média […]. Meu livro visa afastar os leitores do mundo ao seu redor, e a procurar vê-lo a partir de um ponto de vista mais elevado [como foi o mundo medieval]. Isso nos salva do desespero. As coisas mudam. A esperança é uma virtude. O bom e o verdadeiro vencerão”.
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[i] http://www.economist.com/blogs/democracyinamerica/2017/01/medieval-memes
[ii] http://www.ncregister.com/blog/annaabbott/steubenville-prof-sets-the-record-straight-on-the-middle-ages