Como a tecnologia tirou nosso senso de lugar

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A conectividade pode ajudar em nossas relações pessoais, mas pode também torná-las mais distantes porque se escondem por detrás de uma tela ou em formato de pequenas e banais mensagens de textos.

senso-lugarUma mudança silenciosa…

…através da urbanização

A mania moderna por movimento e mudança contribui para um estado de espírito abalado que se manifesta numa perda generalizada do senso de espaço. Facilitados pela tecnologia, os americanos têm se tornado um povo agitado em constante movimento dentro deste apressado ritmo de vida. Nos tornamos uma nação de estrangeiros sem ancoragem num lugar e desconectados da sociedade. Nas expressivas palavras do professor Plinio Corrêa de Oliveira, nós construímos uma vasta rede de viadutos e pontes numerados, sem nomes, que funcionam como “passagens anônimas para pessoas anônimas irem para lugares desconhecidos.” (1)

Como resultado, essa mobilidade tende a fazer todos os lugares parecerem os mesmos. Como Richard Weaver aponta, nossa habilidade para viajar a qualquer lugar, em qualquer tempo, nessas “passagens anônimas”, diminui “a separação dos lugares” que uma vez foram protegidos e diferentes na aparência por causa do seu “isolamento, privacidade e… identidade.”(2)

Harry-Pregerson-viadutos-Los-Angeles

… e da tecnologia

De fato, nossas redes sociais têm agora contribuído para essa destruição de lugar. Não importa mais onde estamos inseridos. Vivemos em uma tão apropriadamente chamada “solitária – ou virtual – multidão”. (3)

Em nossa rede social podemos trabalhar, viver e comunicar em qualquer lugar com qualquer um.

Um lugar público, como um aeroporto ou parque da cidade, “já não são um lugar público, mas um lugar de interação social: as pessoas estão publicamente juntas, mas não se falam umas com as outras. Cada um está preso a um dispositivo móvel e às pessoas e aos lugares para os quais esse dispositivo serve como um portal.”(4)

Redução do tempo e espaço banaliza nossas relações sociais

Concedo, nossas tecnologias facilitam nosso contato com outros mesmo através de grandes distâncias. No entanto, nossas mensagens são cada vez mais superficiais, breves e rápidas. A conectividade pode ajudar em nossas relações pessoais, mas pode também torná-las mais distantes porque se esconde por detrás de uma tela ou em formato de pequenas mensagens de textos.

O perigo é permitir que essas tecnologias substituam o contato cara-a-cara e o senso de comunidade que é tão importante em nossas vidas.

Quando permitimos que toda nossa forma de comunicação perca suas âncoras físicas, perdemos mais do que o local físico. Jogamos fora o tempo necessário nos formarmos em nossas relações sociais, dentro de nossa comunidade (física, não virtual), que é o lugar onde nossas vidas ganham contextos e significados.

Um sociedade de anônimos

O resultado é um mundo que, usando as duras palavras de Charles Reich, “tem aniquilado o lugar, localidade e vizinhança, e nos deu a separação anônima de nossa existência”. (5)

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Excerto do livro, Return to Order.

1) Ver Plinio Corrêa de Oliveira, conferência proferida em 21 de agosto de 1986, “Documentos de Plinio Corrêa de Oliveira”, Pesquisa em Biblioteca, Spring Grove, Pa., (Esta coleção é composta de gravações de áudio transcritos).

Urbanistas do século XX, como Le Corbusier, conceberam uma nova rua que se tornaria uma “máquina para o tráfego”, onde o pedestre não pode obstruir o fluxo dos automóveis. Ao tornar mais fácil para sair da cidade, os planejadores construíram estradas que inadvertidamente ajudaram a transformar as cidades em conchas vazias nas quais as pessoas são enviadas para os subúrbios.

(2) Richard Weaver, “Visões da Ordem: A Crise Cultural de Nosso Tempo”, Wilmington, Del: Instituto de Estudos Intercolegiados, 1995, p. 37.

(3) Cfr. David Riesman, Nathan Glazer e Reuel Denney, “A Multidão Solitária: Um estudante da Mudança do Caráter Americano”, New Haven.: Yale University Press, 1989.

(4) Sherry Turkle, “Sozinhos juntos: Por que esperamos mais da tecnologia e menos de cada um”, Nova York, Livros Básicos, 2011, p. 155.

(5) Charles A. Reich, “O Esverdeamento da América”, Nova York: Crown Trade Paperback, 1970, p. 7.

 

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