Em novembro último comemorou-se o 25o aniversário da queda do “Muro de Berlim”. Este acontecimento simbolizou o fim da União Soviética, o regime comunista que se apoderou da Rússia em 1917 e escravizou posteriormente, durante décadas a fio, grande parte da Europa.
Ademais do caráter essencialmente antinatural e opressor desse regime, o número de mortos pelo comunismo ultrapassou a cifra de 100 milhões, como demonstrou o Livro Negro do Comunismo, editado por professores e pesquisadores europeus em 1997. Na legião de perseguidos e mortos figura um incontável número de cristãos.
O Muro dividia a Alemanha em dois Estados, como o comunismo dividia também a Europa em dois blocos. O aniversário de sua queda foi comemorado com júbilo em todo o Ocidente, com a adesão de católicos no mundo inteiro.
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Adesão de todos os católicos? Não. Pelo menos houve um que não comemorou. Foi o Cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, do Vaticano.
Em declarações que seriam impensáveis em épocas anteriores ao misterioso processo de autodemolição que, segundo Paulo VI, atingiu a Igreja, o prelado da Cúria vaticana não ficou contente com a queda do “Muro da Vergonha”.
O escândalo causado por essas declarações foi tal, que a manchete “Fim do comunismo não foi totalmente bom para o cristianismo, diz Vaticano”, pôde ser lida na imprensa do mundo todo. Entre nós, ela foi destaque, por exemplo, na Agência Reuters-Brasil e nos portais da UOL-Notícias e doG1-Globo, todos de 17 de novembro de 2014.
É bom recordar aqui a verdadeira posição de um católico face ao comunismo. Os pronunciamentos papais a esse respeito são numerosos. Citamos apenas o de Pio XI, na Encíclica Divini Redemptoris, que por sua vez cita o bem-aventurado Pio IX:
“Pelo que diz respeito aos erros dos comunistas, já em 1846, o Nosso Predecessor de feliz memória, Pio IX, os condenou solenemente, e confirmou depois essa condenação no Sílabo. São estas as palavras que emprega na Encíclica Qui pluribus: ‘Para aqui (tende) essa doutrina nefanda do chamado comunismo, sumamente contrária ao próprio direito natural, a qual, uma vez admitida, levaria à subversão radical dos direitos, das coisas, das propriedades de todos e da própria sociedade humana’” (cfr. site do Vaticano).
E por que não foi totalmente bom ter caído o muro? “Porque trouxe de volta as tensões entre Roma e a Rússia”, disse o Cardeal Koch, segundo as citadas notícias, não desmentidas. Ele falou à rádio Vaticana, uma semana depois do aniversário de 25 anos da queda do “Muro de Berlim”.
Ficamos então sabendo que no tempo do comunismo perseguidor dos católicos, não havia tensões entre a Rússia e Roma; e que essas tensões só reapareceram depois da queda do Muro! É terrível a revelação. Quanta razão tinha Plinio Corrêa de Oliveira ao lançar, 40 anos atrás, o manifesto de “Resistência” à Ostpolitik do Vaticano, o qual pode ser lido no site www.pliniocorreadeoliveira.info.
Prossegue a notícia: “O cardeal Kurt Koch, principal autoridade da Igreja Católica Apostólica Romana para as relações entre Igrejas, disse que o ressurgimento das Igrejas Católicas do Oriente na Ucrânia e na Romênia, após décadas de repressão, criaram tensões maiores com a Igreja Ortodoxa Russa”.
É espantoso! O ressurgimento da Igreja Católica, antes perseguida e opressa pelo comunismo, não foi um bem, mas um mal, pois trouxe tensões no relacionamento do Cardeal Koch com a igreja cismática da Rússia. Para ele, teria sido melhor então que os católicos continuassem a ser perseguidos, quiçá mortos, para que o ecumenismo prosperasse sem tensões?
Afinal, que tipo ecumenismo é esse, que se desenvolve distendido só quando os católicos são oprimidos!?
E prossegue: “As mudanças em 1989 não foram vantajosas para as relações ecumênicas”, disse Koch. “As igrejas Católicas do Oriente proibidas por Stalin ressurgiram, especialmente na Ucrânia e na Romênia, e dos ortodoxos veio a antiga acusação sobre Uniate e proselitismo.”
O “proselitismo” a que se refere o Cardeal, é o direito e dever inalienável de todo católico de pregar o Evangelho junto às populações. Deveriam os católicos renunciar ao mandado expresso de Nosso Senhor “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15)? Teriam feito mal os Apóstolos que pregaram o Evangelho a todas as gentes? Ou talvez Jesus Cristo tenha errado em ordenar essa pregação! Não disse Nosso Senhor a Pedro, a Mateus, a Filipe, ao moço rico, e ainda a outros: “Segue-me”! E a igreja cismática, não prega ela sua doutrina? O que diz de tudo isso o Cardeal Koch?
Quanto ao termo “uniate”, o próprio despacho da Reuters explica que “se refere às igrejas do Oriente com liturgias ortodoxas que reconhecem o papa como líder espiritual”. Mais uma vez, a pergunta: é um mal reconhecer o Papa como chefe da Igreja? Não foi uma razão de júbilo ver que tantas ovelhas até então perseguidas e opressas retornavam livremente à prática da verdadeira religião sob o mesmo Pastor? O Cardeal Koch dá razão aos cismáticos por perseguirem os católicos unidos ao Papa?
Por fim, a mesma notícia acrescenta: “O papa Francisco se reunirá com o patriarca ecumênico Bartolomeu, em Istambul”.
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Como conclusão, é oportuno citar o Manifesto da Resistência, acima lembrado, no ponto em que se refere a uma viagem realizada à Rússia comunista, em 1971, pelo Cardeal Willebrands, antecessor do Cardeal Koch e então Presidente do Secretariado para a União dos Cristãos. A viagem tinha por fim assistir à posse do bispo Pimen no Patriarcado “ortodoxo” de Moscou.
Na ocasião, explica o Manifesto, Pimen “afirmou a nulidade do ato pelo qual, em 1595, os ucranianos reverteram do cisma para a Igreja Católica. Isto importava em proclamar que os ucranianos não devem estar sob a jurisdição do Papa, mas dele Pimen e de seus congêneres.
“Em lugar de tomar atitude diante dessa clamorosa agressão aos direitos da Igreja Católica, e da consciência dos católicos ucranianos, o Cardeal Willebrands e a delegação que o acompanhava se mantiveram mudos. Quem cala, consente, ensina o direito romano. Distensão…
“Como é natural, essa capitulação traumatizou profundamente aqueles dentre os católicos, que acompanham com seguida atenção a política da Santa Sé. Outra foi ainda maior entre os milhões de católicos ucranianos esparsos pelo Canadá, pelos Estados Unidos e outros países”.