Depois de um ano de governo do presidente Álvaro Uribe, uma análise de seus êxitos e perspectivas – fazendo um confronto com a crise inaudita na qual se encontrava o país antes de sua eleição – e a situação das demais nações ibero-americanas.
Durante 20 anos esteve em curso na Colômbia uma política que a tornava subserviente a grupos guerrilheiro-terroristas e narcotraficantes, os quais submeteram sua população a massacres e contínuas tragédias. Situação esta freqüentemente lamentada, mas pouco combatida, pelo Poder Público. Ao mesmo tempo, o país era arruinado por uma corrupção político-administrativa sem precedentes.
Tal panorama produziu profundo abatimento na opinião pública, pois predominava a impressão da ineficácia e mesmo da inexistência de um governo. Isso chegou ao auge quando, em 1998, o presidente Andrés Pastrana, com a ilusão de que por meio de mais concessões obteria a pacificação de grupos guerrilheiros, entregou a estes uma imensa zona do território colombiano — mais extensa que a Suíça — sem fazer qualquer exigência.
Fracasso do capitulacionismo
Tais concessões levaram o povo colombiano a exasperar-se, resultando dessa situação que todos os candidatos presidenciais, apoiados pelos grandes partidos políticos, obtivessem pífios resultados eleitorais em 2002. Enquanto Uribe, claramente oposto a essa forma de proceder, elevava-se nas preferências do eleitorado, tendo alcançado uma vitória fácil e contundente, como há muitas décadas não se via na Colômbia.
Seu programa de governo era simples: acabar com a impunidade a terroristas, narcotraficantes e políticos corruptos. Entretanto, a execução era sumamente difícil, mesmo com o importante — mas não incondicional — apoio dos Estados Unidos. A política autodemolidora, de indulgência sistemática face ao crime, seguida durante décadas, mais a situação de abandono em que estavam partes consideráveis do território colombiano, haviam fortalecido enormemente os guerrilheiros, debilitando as instituições nacionais e a própria economia do país.
Na luta, a única solução
Ao cabo de um ano do governo Uribe, sua enorme popularidade permanece intacta, obrigando muitos de seus adversários a reconhecer-lhe os êxitos, antes impensáveis. A quantidade e a gravidade dos ataques guerrilheiro-terroristas caiu de forma notória; os homicídios e seqüestros — que tinham alcançado na última década índices mais altos do que os de qualquer outro país, incluindo os que estavam em guerra — diminuíram em mais de 30%; a guerrilha não conseguiu tomar sequer uma aldeia neste ano, o que antes sucedia quase semanalmente.
Em conseqüência, muitas regiões rurais, que eram dominadas ou traumatizadas pela guerrilha, foram resgatadas, e outras tantas estão em via de o ser. Mais de 150 prefeitos, que foram obrigados a abandonar suas cidades a fim de escapar das ameaças terroristas, puderam retornar e ocupar seus cargos. As rodovias que unem as principais cidades, antes freqüentemente bloqueadas por guerrilheiros, com vistas a queimar caminhões e ônibus, ou para seqüestrar e assaltar os motoristas, hoje são transitadas quase sem problemas por uma quantidade quatro vezes maior de veículos.
Por esses e outros fatores, aumentou muito a auto-confiança do país, em contraste com o geral abatimento que reinava anteriormente.
País ufano de seu líder
Ainda mais. Começou a surgir, em inícios do presente ano, um fenômeno inédito entre as guerrilhas comunistas: uma paulatina deserção de seus adeptos. Ficou patente que, no fundo, a única força da guerrilha residia na falta de energia (muitos falam em cumplicidade…) dos anteriores governos para combatê-las.
Devido a esse fenômeno, somado às baixas sofridas em combate e às capturas ocorridas, a guerrilha perdeu nos últimos 12 meses, segundo dados oficiais do Exército, cerca de 7.000 membros. Ou seja, aproximadamente um terço do total de seu contingente.
Em outros países ibero-americanos, as decepções da população em relação a seus governos surgem antes dos seis primeiros meses. Na Colômbia de hoje, entretanto, sucede o contrário. Segundo uma importante revista local — insuspeita, pois não simpatiza com Uribe —, as demais nações desejariam, por causa dessas decepções, livrar-se de seus respectivos governantes, e a Colômbia encontrou em Uribe exatamente o que seu povo desejava: um governo combativo, austero, esforçado e sério, que verdadeiramente exerce a autoridade e enfrenta a crise.
Recuperação do país
Obviamente, não estão resolvidos árduos problemas que afetam a nação colombiana. Esta ainda tem que enfrentar incontáveis e difíceis batalhas. Os grupos terroristas, apesar de debilitados, não renunciaram à sua atuação criminosa, aguardando circunstâncias mais favoráveis para agir.
O esforço bélico para derrotar a guerrilha implica um enorme gasto, dificilmente suportável para a economia crítica na qual se encontra a Colômbia, depois de 20 anos de sangria devida aos contínuos ataques e atentados. As primeiras medidas tomadas por Uribe, há um ano, incluíram novos impostos a fim de enfrentar a guerrilha. A sociedade colombiana, contudo, aceitou este custo, pois era óbvia a necessidade de grande sacrifício para fazer frente a tais problemas.
Agora será necessário novo aumento da carga tributária, que poderá até ter efeitos recessivos, além da possibilidade de a crise financeira mundial atingir a Colômbia. Entretanto, diversos sintomas de vitalidade se fazem sentir na opinião pública, como por exemplo o número considerável de colombianos que estão retornando de outras nações, onde se haviam refugiado devido à situação crítica anterior. Repatriação significa capital que volta ao país, agora confiável. Significa também aumento da superfície rural cultivada, pois muitos fazendeiros, aproveitando as garantias do governo, retornaram às suas propriedades, antes abandonadas devido às invasões e às ameaças da guerrilha.
Repressão da corrupção
Além de enfrentar a narco-guerrilla, Uribe tenciona reprimir a intensa corrupção político-administrativa. A batalha legal tem sido árdua, devendo incluir um referendum e, talvez, uma reforma constitucional, para desmontar um grande emaranhado legislativo formado nas últimas décadas. E ao mesmo tempo eliminar incontáveis vícios nas redes partidárias encasteladas nos três Poderes de Estado, na administração pública e nas empresas estatais fracassadas e corruptas.
Tais problemas são complexos, pois foram gerados ao longo de cinco décadas de tolerância e vícios crônicos. Para o presidente Uribe, eles constituem um grande desafio. Se não os resolver, todos os êxitos serão precários, uma vez que, após seu governo, provavelmente tais questões renascerão.
O problema presente é que muitos dos mecanismos da corrupção são pouco conhecidos pelo eleitorado, o qual não chega a perceber a importância de corrigir cada um deles. Ademais, a Corte Constitucional determinou que as 15 perguntas propostas para o referendum devem ser votadas uma por uma. Assim, será difícil que a popularidade de Uribe influa na aprovação de todas elas. De outro lado, a reação normal dos eleitores, quando não entendem determinado problema, é abster-se de votar, e, geralmente, na Colômbia a abstenção é muito alta.
Sem embargo, dada a eficácia da resposta que os guerrilheiros receberam durante este ano, é legítimo esperar que, combatendo com análoga tenacidade a corrupção, esta — que saturou a paciência da opinião pública colombiana — sofra também um duro golpe. Desse modo, a Colômbia, depois de uma das maiores tragédias ocorridas na América, poderá prosperar em ordem, guiada pelos princípios cristãos, rejeitando a contemporização com o marxismo e a iniqüidade, como ocorria em governos anteriores.
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E-mail do autor: AlfredoMacHale@hotmail.com
Artigo oferecido pela Revista Catolicismo.