Assassinatos coletivos: a herança do “proibido proibir” hippie

O assassino serial Charles Manson – psicopata e líder de um culto de homicidas entregues a ele por uma espécie de consagração – foi, para muitos de seus seguidores, uma encarnação do demônio que procuravam.

Manson faleceu em novembro de 2017 num hospital de Bakersfield, Califórnia, de um infarte de coração com 83 anos, escreveu “El Mundo”, de Madri.

Ele passou 46 anos na cadeia estadual de Corcoran. Nunca foram acolhidas as 12 impetrações de habeas corpus ou liberdade condicional em seu favor.

Manson apelidou de “A família” o clã de adeptos responsável por nove homicídios em quatro pontos diversos da Califórnia, no verão de 1969.

A comunidade que ele criou praticava um estilo de vida “alternativo” e consumia religiosamente alucinógenos como o LSD.

Inspirava-se no espírito violento de ‘Helter Skelter’, um termo tirado de um tema dos Beatles sobre uma guerra racial apocalíptica que, na visão de Manson, se avizinharia.

O clã foi responsável pela morte, entre outras, de Sharon Tate, a mulher do diretor de cinema Roman Polanski.

Quatro membros da “família Manson” entraram na casa de Polanski em Cielo Drive, Los Angeles, e apunhalaram 16 vezes sua mulher, grávida de oito meses e meio.

Ela morreu ensanguentada, enquanto a “família” contemplava o “sacrifício” e a vítima implorava por sua vida e pela de seu bebê.

Nessa noite de 9 de agosto de 1969 foram também mortas mais três pessoas que estavam com Tate. Tudo isso aconteceu na mesma casa em que Polanski filmou “Rosemary’s Baby”.

Para o clã, a residência representava o símbolo odiado do mundo capitalista que havia recusado a Manson, que dizia ser uma espécie de Jesus Cristo.

Na noite seguinte, ele liderou o grupo que entrou na casa do empresário Leno LaBianca e de sua mulher Rosemary.

Ordenou então a dois prosélitos que os matassem a punhaladas, instruindo-os sobre como praticar o rito corretamente.

Os “devotos” escreveram mensagens nas paredes com o sangue das vítimas “sacrificadas”, antes de fugirem da cena do crime.

Vários cúmplices de Manson ainda estão em outras cadeias dos EUA.

Linnette Fromme obteve liberdade condicional. Adepta ideológica de Manson e de sua filosofia de vida, ela tentou assassinar o presidente americano Gerald Ford em 1975. Após 34 anos de prisão no Texas, obteve a liberdade em agosto de 2009.

Manson foi condenado à morte em 1971, trocada por prisão perpétua após a extinção da pena de morte na Califórnia em 1972.

Na cadeia, tatuou a suástica nazista na testa e obrigou os membros de seu clã a fazerem o mesmo.

A “família” continuou a existir e o culto de sua personalidade se expandiu para fora dos muros da cadeia, nos ambientes do rock, da droga, da perversidade sexual e do “proibido proibir”.

Aliás, anteriormente a seu crime famoso, Manson passara a metade de sua vida entrando e saindo de prisões corretivas por delitos menores.

Em 1967, após sair de uma delas, sua “família” tinha crescido. Ele levou cerca 100 adeptos a San Francisco, e depois a um lugar no vale de San Fernando, para ali planejar seus crimes.

Manson, cujo nome é Charles Milles Maddox, nasceu em 1934 e tornou-se o arauto obscuro e macabro contra a “injustiça social” da sociedade americana.

Apóstolo do ecologismo radical e justiceiro da cultura hippie, ele se levantou contra a “repressão” do establishment racional e formal.

Manson não adotou o modelo do hippie “branco” ou “das flores”, mas também se caracterizava pelas modas e costumes coloridos extravagantes do rock, do pacifismo, da maconha e do LSD.

 

Foi assim que virou figura crucial na mola propulsora do “hippismo branco” ou “flower power”, da cultura da maconha e do LSD, logo continuadas pela heroína, pela cocaína e pelas drogas sintéticas, escreve ainda “EL Mundo”.

Dennis Wilson, baterista dos Beach Boys, acolheu a “família” em sua residência de Los Angeles. Ali montaram a comuna mais procurada pelos “famosos” da Califórnia. Wilson chegou a gravar duas canções de Manson.

 

Nessa época, o líder da comuna hippie entrou em contato com Terry Melcher, filho de Doris Day e um dos produtores mais ricos e influentes para editar suas criações musicais.

Mas Manson foi incapaz de concluir qualquer acordo. Despeitado, montou a delirante teoria do Helter Skelter, sobre guerras raciais, onde ele seria o elemento catalizador.

Após os sinistramente famosos crimes, a atração da mídia pela sua figura promoveu a edição de canções da lavra do assassino. Lie: The Love and Terror Cult – “Mentira: O culto ao amor e ao terror” virou um álbum religioso dos adeptos.

 

Músicos como Guns N’ Roses e Marilyn Manson (que tomou o nome dele para ser seu nome artístico ) construíram uma devoção especial à sua figura.

Axl Rose, cantor dos Guns N’ Roses, incluiu Look at Your Game, Girl, de Lie, num disco do grupo e atuou com camisetas com a esfinge de Manson.

Foram muitos mais os que se aproximaram do prisioneiro Manson e de seus delírios.

Ramones, GG Allin, Slipknot, Ozzy Osbourne, Neil Young ou Kasabian beberam da taça da loucura do “proibido proibir” hippie, difundida por um misterioso spray em toda a sociedade.

Produziram-se óperas e espetáculos musicais inspirados naquela onda de terror “pacífico”.

John Moran criou em 1990 The Manson Family: An Opera, e o compositor de bandas sonoras Stephen Sondheim, premiado com um Oscar e vários prêmios Grammy e Pulitzer, estreou em 1990, em Broadway, Assassins, um musical sobre alguns membros da “família”.

O próprio Charles Manson, com sua suástica tatuada na testa, prosseguiu gravando canções na sua cela, pregando um ódio cada vez mais carregado de ecologismo e reclamando a extinção da humanidade.

Em 14 de fevereiro (2018), Nikolas Cruz matou 14 alunos e três professores da escola Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, sul da Flórida.

Ele recebeu centenas de cartas de solidariedade e fotos de admiradoras professando-lhe amor e apoio, informou o jornal local “Sun Sentinel”.

As cartas foram reenviadas ao Defensor público de Broward, Howard Finkelstein, que o representa no processo.

O adolescente Nikolas Cruz agiu como admirador e imitador de Charles Manson.

O advogado Finkelstein garante que em 40 anos de exercício público da função nunca viu tantas cartas dirigidas a um réu, algumas delas transluzindo admiração por Cruz, algo que Finkelstein qualificou de “perverso”.

Cruz atrai a mesma admiração doentia que se voltara para Charles Manson. Sua noiva era a criadora do site “Libertem Charles Manson agora”, registrou “La Vanguardia” de Barcelona.

Para Howard Cohen, jornalista de “El Nuevo Herald”, de Miami, as cartas revelam um “sinal dos tempos”.

O mesmo jornal destaca que durante muitos anos, até a morte de Manson, a “família” não deixou de crescer com novos seguidores, como se pode, aliás, verificar na mídia e nas redes sociais.

Ted Bundy, assassino de pelo menos 40 pessoas, executado num presídio da Florida em 1989, também atraiu análoga onda de simpatia, além da rotineira ofensiva midiática contra a sua pena.

Como entender este doentio culto que se intensifica em chacinas coletivas irracionais?

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira anteviu nos anos 1960 a tendência inaugurada pelos crimes de Manson e de sua “família”

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, ao comentar nos anos 1960 os crimes de Manson e de sua “família”, tinha anunciado a tendência que cresceria:

“Por que o enlouquecido Manson ‘pegou’ tanto?

Ele personificou o hippie que vem sendo continuado em outras modas de hoje.

Eles recusam a sociedade organizada e moralizada e querem viver ao léu.

Erigiram como princípio supremo da vida a procura do gostoso, de fazer o que lhes dá na cabeça.

Então, desmazelo completo, roupas ao léu, as mais cômodas e estreitas possíveis.

Maneiras, nenhumas! Andar pela rua como quem não tem itinerário definido, come como um bicho onde encontra comida; onde tem sombra deita, quando tem vontade de andar, anda e faz tudo quanto lhe dá na cabeça.

Nos anos de Manson a negação de todos os valores foi proclamada por um hippismo ‘branco’, que se adutodenominava ‘flower power’.

Escolheu a vagabundagem, o amor livre, o unissex, o gay power, e se apresentou sorridente, distendido, drogado, mas rompido com a sociedade racional e organizada.

Ele estava grávido de outra tendência de que Manson funcionou como um ímã irradiador: o hipismo ‘negro’, porque aspira pela vinda de satanás à terra.

A ‘família’ de Manson escreveu nas paredes com o sangue das vítimas: ‘Pigs’, quer dizer: ‘Porcos!’

Porque os tinham em conta de burgueses que se cevam nos prazeres da civilização burguesa. E fizeram isso num culto satânico para liquidar tudo quanto existe.

Desde então, grupos rock escolheram capas pretas como símbolo do culto a satanás e hoje fundaram uma Igreja que reclama reconhecimento legal e tenta o ecumenismo com o ‘comuno-progressismo católico’.

Congressos de bruxas na Inglaterra, por exemplo, indicam um desenvolvimento extraordinário do satanismo no mundo.

Manson mandou escrever nas paredes e objetos “Pigs!” com o sangue das vítimas como parte de um rito anticonsumista, miserabilista e ecologista.

O primeiro que disse não querer leis, autoridades, ordem, mas agir segundo sua fantasia, proclamou: ‘Não servirei!’, e foi precipitado no inferno.

O hippismo branco e o hippismo negro satanista têm uma conaturalidade extraordinária, e aos poucos o branco vai sendo assimilado pelo preto.

O hippismo branco vai ficando como um antiquado precursor do preto.

Nesse processo, despontou o hippismo vermelho, o terror. Um líder terrorista de um grupo japonês que no aeroporto de Tel-Aviv matou a esmo 26 pessoas e feriu outras 80 em 30.5.1972, declarou que eles queriam liquidar tudo quanto existe.

Disse que até as casas populares têm que ser eliminadas, para construir um mundo novo que seria um paraíso terrestre sem pecado original.

Era o espírito de Charles Manson então preso que despontava na sociedade, que fazia sua fantasia.

Era a verdadeira negação do dogma dos efeitos do pecado original e a afirmação de que o homem pode viver na mais completa anarquia.

A proporção dos não hippies foi diminuindo e o estilo hippie branco preparou o dia em que gerações, por um capricho, por um mau-humor, pegam na metralhadora ou na bomba e saem matando a quem encontrar pelo caminho”.

 

O triunfo do espírito luciferino encarnado em Charles Manson infestou a sociedade que recusou a ordem e a Igreja hierárquica, anti-igualitária e antiliberal.

A chacina coletiva feita por Nikolas Cruz na Flórida é apenas uma de suas faíscas.

Mais quantos outros Nikolas Cruz há em potência neste mundo que dá de ombros para Jesus Cristo e só quer fazer o que lhes apetecem?

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