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Boletim Lepanto – Número 2

Boletim da Frente Universitária Lepanto – O Jogo e a Máfia, Cadaverbrás, É Proibido Proibir, A Tomada da Bastilha, Sobre o Vôo dos Gansos, etc.

Junho/Agosto de 1998

Editorial

Os céticos poderão sorrir, mas o sorriso dos céticos jamais
conseguiu deter a marcha vitoriosa dos que têm Fé!

Pós-modernidade lança seu segundo número. Após décadas de falsa militância estudantil em nossas universidades, marcada a fundo por uma negação sistemática de todo o passado – de toda a moral – surgem em nossas universidades movimentos nitidamente opostos ao caos contemporâneo. Movimentos que vêem na tradição católica de nosso país um farol a indicar o futuro não só das universidades, mas de toda a nação.

Um futuro aguardado por uma geração que assistiu passivamente à decadência generalizada da civilização que nos deu origem e identidade, da civilização cristã. Nesse final de século XX – um século de grandes transformações tecnológicas, mas de uma profunda crise de valores – o que atrai já não é o moderno, já não são as meias-verdades da historiografia atual, já não é o anarquismo imperante em maio de 1968 com a “Revolução da Sorbonne”, já não é o tribalismo auto-gestionário que avança sobre os escombros de uma sociedade sem rumo e sem idéias, que fez uma ciência sem Deus e uma Fé sem religião.

Mas, ao contrário, das ruínas desse passado recente nasce uma reação que indica rumos grandiosos para uma sociedade verdadeiramente grandiosa.

O século do progresso foi também o século da desilusão! No limiar de um novo milênio, os olhos se voltam para o futuro. Mas, que futuro? Perguntam incontáveis jovens.

Qual será o futuro de homens mergulhados em apatia e desinteresse por tudo que é grande, elevado e nobre? Que fizeram de suas vidas apenas uma fruição? Derrubaram altar e trono, proclamaram a igualdade contra a autoridade, a liberdade contra a moral. Fizeram da terra uma imagem de utópicos sonhos anarquistas!

É esse o futuro que queremos?

Diante do caos generalizado, da corrupção institucionalizada, da crescente onda de violência e das drogas, cabe a cada um de nós perguntar: Qual o futuro que desejamos? Afinal, para onde estamos caminhando?

Não nos deixemos iludir pelos modismos de uma minoria organizada, seguidora de empoeiradas doutrinas até há pouco vigentes no Leste-europeu, mas façamos nós o porvir glorioso de um povo que soube aliar a tradição com o progresso, a luz que brota da Fé com as descobertas da ciência. Pois, assim como dizia o grande líder contra-revolucionário católico, Plinio Corrêa de Oliveira, assim também podemos dizer nós da Frente Universitária Lepanto, seguindo seus exemplos: “Estou certo de que os princípios a que consagrei minha vida são hoje mais atuais do que nunca e apontam o caminho que o mundo seguirá nos próximos séculos. Os céticos poderão sorrir. Mas o sorriso dos céticos jamais conseguiu deter a marcha vitoriosa dos que têm Fé”.

 

Cadaverbrás

Vigorando desde o início deste ano, a lei de Doação Presumida (lei 9.434) torna doador compulsório de órgãos todo o indivíduo que não tenha manifestado em vida disposição em sentido contrário. Com a lei, o Estado coloca-se acima do direito natural da família sobre os membros falecidos.

Segundo a lei, havendo possibilidade de transplante, não caberá à família e nem aos médicos interferir na doação, ficando estes sujeitos às penalidades civis, penais e administrativas pela sua não efetivação.

Por outro lado, o conceito de morte encefálica, base para autorizar a retirada de órgãos, não é incontroverso entre os médicos. Autoridades científicas do mundo inteiro contestam o conceito de morte cerebral para atestar o momento do óbito.

É constatado que na Inglaterra, país de indiscutível tradição científica, não se leva em consideração, para efeito de extração de órgãos, os dados do eletroencefalograma, e sim o estado clínico do tronco cerebral. Também o Japão não aceita o conceito de morte encefálica.

Portanto, tal lei mostra-se imprudente e precipitada na proporção em que subtrai o direito natural da família aos seus membros falecidos e aceita, como condição para realizar o transplante, um conceito científico controverso sobre o momento da morte. Tornando, deste modo, o excelso ato da doação num confisco velado aos órgãos dos cidadãos, que se tornaram doadores presumidos sem que lhes fosse consultada a opinião.

Mauro Corrêa

É Proibido Proibir?

Em 1968 ocorreu o ápice da ousadia de um  processo revolucionário secular de degradação humana. Assim, em maio daquele ano, estudantes da Sorbonne e da Naterre deram andamento a uma revolução doentia que não tinha qualquer programa, ou seja, contestava-se tudo sem nada propor explicitamente. Deste modo, observou-se que tais manifestações estudantis não incidiam apenas sobre questões restritas, mas atingiam de modo direto ou indireto todos os resquícios sobreviventes de uma tradição cultural e até religiosa já enfraquecida. Munidos com slogans como: “é proibido proibir”, “gozar sem freios” e “nem Deus, nem mestre”; os sorbonianos pregavam o igualitarismo, o liberalismo e a sensualidade, ou seja, aludiam a um “modus vivendi” regido pelas paixões desenfreadas.

Como na Revolução Francesa, na revolução sorboniana há de se observar, cautelosamente, o termo liberdade, que para os incautos sempre pressupõe algo bom, belo e dignificante.  Porém, o benéfico sentido de tal palavra foi desvirtuado. Apesar da acepção que aparentemente ostenta, a liberdade apregoada pela Revolução Sorboniana constitui-se numa verdadeira receita de degradação do homem. Isso se dá pelo fato de que Deus em sua onipotência imprimiu na alma humana uma hierarquia, onde a inteligência deve guiar a vontade, e esta deve governar a sensibilidade.

O lema “faça o que tu queres” denota justamente a inversão de uma ordem natural, é o agir do homem pautado pelas suas paixões e não mais pela sua razão. Logo, entende-se que o fulcro do liberalismo sorboniano é “o direito de pensar, sentir e fazer tudo quanto as paixões desenfreadas exigem”.

Com a mesma prudência deve ser observado o igualitarismo, pois dele irá emanar todo o desprezo e ódio contra estruturas hierárquicas e contra a ordem social. Por isso, a massificação do povo, o nivelamento geral, a busca alucinada pela quebra das desigualdades foram algumas das metas mais buscadas pelos revolucionários. A ruptura das desigualdades (lato sensu), atingiu, inclusive, a seara metafísica e religiosa, revelando-nos o ódio da revolução contra a infinita superioridade divina. Santo Tomás ensina que a diversidade das criaturas e seu escalonamento hierárquico são um bem em  si, pois melhor resplandecem, na criação, as perfeições do Criador.

Finalmente, após uma rápida análise dos alvos visados pelos revolucionários, podemos certamente afirmar que aquele movimento serviu  como um catalisador das tendências desordenadas e anti-naturais. Vivemos, hoje, os frutos de um movimento que teve na “Revolução da Sorbonne” a sua explicitação máxima.

Luiz Carlos Júnior

A Tomada da Bastilha:

Apenas a primeira mentira
Revolução Francesa – 14 de julho de 1789

Bastilha era uma bela fortaleza medieval. Hoje faria o encanto dos milhares de visitantes que, na Europa, fazem fila para conhecer castelos de outrora.

É por volta de 1380 que ela começa a proteger Paris. Desde o inicio de sua existência até 14 de julho de 1789, seu ultimo dia – talvez o mais glorioso de todos – ela inspirou confiança aos parisienses.

Ha muito era ela a mais pacifica das prisões. Limpa, bem decorada: os condenados que quisessem podiam mudar-se para lá com seus criados e móveis. O governador, geralmente nobre de boa educação, tinha o hábito de convidar os presos à sua mesa. Aqueles que tinham cozinheiro próprio retribuíam a amabilidade pelo gosto da boa companhia e da conversa: falava-se sobretudo de filosofia e de negócios de Estado.

Tão pacifica era ela que os carcereiros eram geralmente inválidos de guerra: alguns sem braço, outros com perna de pau. Ninguém pensava em fugir. Quando no fatídico 14 de julho de 1789 foi traiçoeiramente invadida, ela encarcerava apenas sete prisioneiros. Era de fazer inveja à nossas prisões super lotadas nas quais os motins e as condições de vida desumanas ceifam tantas vidas.

Quem eram esses sete prisioneiros? Quatro falsários, notórios na praça; um jovem tarado sexual cuja família pedira ao Rei sua detenção; e dois loucos.

Como se deu sua tomada? À aproximação dos invasores o governador Launay desarmou a guarnição e os convidou a parlamentar. Durante as tratativas,  Launay e seus homens foram trucidados. Sua cabeça posta na ponta de um varapau e conduzida pelas ruas de Paris. Dois soldados inválidos são enforcados e um terceiro tem as mãos decepadas. Era a primeira vez que a Bastilha via tanta atrocidade.

Este era apenas o primeiro ato de uma Revolução cujas conseqüências se estendem dramaticamente até nossos dias.

Nelson Fragelli

O jogo e a Máfia

No pais dos “reformecos e reformalhos, reformengos e reformeiros, reformilhos e reformocas” (expressões de Ramalho Ortigão), continua-se à procura de soluções mágicas.

Na “Feira das Vaidades”, de Thackeray, um grupo de pessoas excogita os mais variados meios para escapar da penúria. A única saída que não ocorre a ninguém é trabalhar.

Com a projetada liberação dos cassinos, não se procura combater a pobreza pela produção, mas pelo jogo! Que não cria no país um parafuso!

O jogo de azar não produz. Mata o tempo. Desvia do trabalho.

Estimula o desgaste, em atividade socialmente inútil, de uma parte de nossa capacidade laborativa! E ainda: a esterilização de capitais num investimento não-produtivo!

Certo é que se atrairiam capitais estrangeiros para que explorassem o vício também aqui.

O cassino é o lugar ideal para a lavagem do dinheiro – para disfarçar a origem inconfessável da riqueza não produzida pelo fazer, mas pelo tomar.

Por isso é que o cassino se torna o sustentáculo do crime organizado.

Que, num país sem organização, encontraria o caldo de cultura ideal.

Há trinta ou quarenta anos, cassinos de nossas estâncias hidro-minerais eram explorados por malandros do lugar. Hoje, em que o mundo se tornou aldeia global e as comunicações são fáceis e rápidas, a Máfia está, certamente, à espera da abertura aqui dos cassinos, para neles instalar filiais.

Como transferiu sua sede principal da Sicília para os Estados Unidos, seu destino natural é algum país onde prevaleça a impunidade. Falta apenas um ponto de apoio. Um habeas corpus preventivo. A legalização de alguma de suas atividades, que encubra as outras.

Impedir o funcionamento dos cassinos, que subornam policiais de muito poder e pouco salário, é difícil! Regular o seu funcionamento, isto é, impedir que funcione desta ou daquela maneira, é impossível! Se o cassino está aberto e recebe o povo, só não vê quem não quer. Se funciona com algumas restrições legais, como verificar se esses limites são respeitados? É mais fácil descobrir a entrada do público do que aquilo que se faz lá dentro.

A propalada regulamentação do jogo não eliminaria “a batota clandestina, escreveu Nelson Hungria, do mesmo  modo que a regulamentação oficial das loterias não conjurou a praga das loterias furtivas.”

Estas consomem o dinheiro mas não o tempo do povo. Não afastam do trabalho.

No cassino, quem perde ou ganha grandes quantias, à noite, se desanima de trabalhar, o dia inteiro, para ganhar muito menos.

Os jogos de cassino dissolvem o estímulo para o trabalho. E “a ociosidade é a mãe de todos os vícios”.

Várias vezes se tentou, no Brasil, com o dinheiro do povo, atrair jogadores estrangeiros. Parece que a volúpia, que as roletas nossas produziam, não era diferente da que produziam as deles, mais acessíveis. O certo é que não vieram de tão longe.

Os viciados vão ser daqui mesmo.

E mais numerosos se o vício, ao invés de ser ilegal, arriscado, infamante, for autorizado por lei e praticado às escâncaras.

Não é possível impedir os jogos de azar, como não é possível impedir os assassinatos. Mas é preciso puní-los, para que sejam menos praticados.

Há tempos um deputado federal, que depois teve seu mandato cassado, por seus colegas, por falta de decoro parlamentar, conseguiu fosse inserida, numa lei a favor do esporte, a permissão do bingo. Que é jogo de azar, definido como aquele em que o resultado decorre exclusiva ou principalmente da sorte.

Quando o povo clama contra a onda crescente de crimes, pretende-se, com a liberação total dos cassinos, incentivar um fator notório de criminalidade.

Lembremo-nos da advertência de Rui Barbosa, em página imortal, cujo ritmo tem a grandeza das ondas do mar:

Permanente como as grandes endemias que devastam a humanidade, universal como o vício, furtivo como o crime, solapado no seu contágio como as invasões purulentas, corruptor de todos os estímulos morais como o álcool, ele zomba da decência, das leis e da polícia, abarca no domínio das suas emanações a sociedade inteira… inutiliza gênios; emudece oradores, atira… à concorrência do trabalho diurno os náufragos das noites tempestuosas do azar…

… sacudidos continuamente pelas emoções do inesperado, se alimentam das suas surpresas, se estiolam com as suas decepções, e, vendo a felicidade repartir-se às cegas pela superfície do tabuleiro verde, acabam por supor que a sorte de todos, neste mundo, se distribui com a mesma casualidade, com a mesma desproporção, com a mesma injustiça, acabam por ver no merecimento, no esforço, na economia, na perseverança, coisas fictícias, estranhas, ou hostis…

… reina sob a sua manifestação completa em esconderijos… onde o menos que se gasta é o equilíbrio da alma, o menos que se arruína é o ideal, o menos que se dissipa é o tempo, estofo precioso de todas as obras-primas, de todas as utilidades sólidas, de todas as ações grandes.

… presas da vasa, que nunca mais os larga, rolam e imergem nela de decadência em decadência… até que a piedade infinita do termo de todas as coisas lhes recolha ao seio do eterno esquecimento os restos inúteis de um destino sem epitáfio…

Eis o jogo, o grande putrefator. … É a lepra do vivo e o verme do cadáver.”

 Dario Abranches Viotti

 foi Promotor de Justiça de Lambari (MG) e é Juiz Federal aposentado

Sobre o Vôo dos Gansos em “V”

Eis algumas descobertas feitas pelos cientistas:

À medida que cada ave bate suas asas, ela cria uma sustentação para a ave seguinte. Voando em formação “V”, o grupo inteiro consegue voar pelo menos 71% mais do que se cada ave voasse isoladamente. Sempre que um ganso sai fora da formação, ele repentinamente sente a resistência e o arrasto de tentar voar só, e rapidamente retorna à formação, para tirar vantagem do poder de sustentação da ave imediatamente à frente. Quando o ganso líder se cansa, ele reveza, indo para a traseira do “V”, enquanto um outro ganso assume a ponta da farpa. Os gansos de trás grasnam para encorajar os da frente a manterem o ritmo e a velocidade. Quando um ganso adoece ou se fere e deixa o grupo, dois outros gansos saem da formação e o seguem, para ajudá-lo e protegê-lo. Eles o acompanham até a solução definitiva do problema e, então, reiniciam a jornada os três, ou juntam-se a outra formação, até encontrar o seu grupo original.

 

Numa antiga Catedral de Lübeck, Alemanha, encontra-se gravada a seguinte inscrição:

Chamais-me Mestre, e não me obedeceis;
Chamais-me Luz, e não me vedes;
Chamais-me Caminho, e não me percorreis;
Chamais-me Vida, e não palpitas com Meu Coração;
Chamais-me Sábio, e não me escutais;
Chamais-me Adorável, e não me adorais;
Chamais-me Providência, e não me pedis;
Chamais-me Eterno, e não me procurais;
Chamais-me Misericordioso, e não confias em Mim;
Chamais-me Senhor, e não me servis;
Chamais-me Todo-Poderoso, e não me receais;
Chamais-me Justo, e não vos justificais;
Se Eu vos condenar, não me culpeis, só a vós culpai!

 

Crepúsculo de um Século, Aurora de um Milênio…

China: preços baixos e trabalho escravo

O mercado nacional tem sido inundado de produtos chineses de baixa qualidade e de preços irrisórios. Poucos entretanto lembram da origem de tais produtos.

Vejamos o que disse Harry Wu, dissidente chinês que vive em Londres: “Quem der brinquedos fabricados na China, de presente, dará alegria a crianças às custas do sofrimento de milhões de chineses internados em campos de trabalhos forçados”

Wu diz ainda que o regime chinês mantém “seis a oito milhões de pessoas detidas em 1.100 campos de trabalhos forçados” e é nesses locais que “são produzidos hoje um terço do chá e dos brinquedos exportados pela China, além de sapatos e inúmeros outros produtos”.

Por fim, ele denuncia que o dinheiro que os capitalistas do Ocidente estão pondo na China comunista – e o seu conseqüente desenvolvimento econômico – está sendo responsável “pela sobrevivência do regime”.

É estranho, mas parece que os “direitos humanos”, tão alardeados pelos socialistas, não existem nos países que implantaram o socialismo…

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Onde está a fome do Nordeste?

A empresária Rosângela Nardo, proprietária da Transnardo, uma empresa de Santa Cruz do Rio Pardo, interior de S. Paulo, frustou-se ao retornar de uma viagem de três dias a Afogados da Ingazeira (PE), para onde levou 26 toneladas de alimentos à flagelados da seca.

Segundo ela, a cidade não enfrenta nenhuma situação de calamidade e fome extrema, ao contrário do que vem aparecendo nos noticiários. “Eu imaginava que entregaria os alimentos às próprias famílias famintas, mas deparei com uns dez vereadores”, conta a empresária, indignada.

Segundo ela, são os políticos que tentam de todas as formas explorar a situação do Nordeste.

(Correio Braziliense, 15/VI/98)

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