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Atmosfera do Natal de outrora

Tinha-se a sensação de uma graça que vinha do alto. Era uma graça tal, que enchia a pessoa de duas disposições de espírito, que parecem incompatíveis, mas que convivem maravilhosamente: a noção recolhida, humilde e enlevada do sublime, e a doçura de quem recebe uma misericórdia sem limites.

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O Natal de outrora tinha uma sacralidade que as novas gerações não fazem ideia.

No meu tempo, já nos dias que precediam o Natal, notava-se certo aroma e certa atmosfera natalina que começava a envolver a cidade. Na rua, homens — aqueles que se tinham na conta de importantes — faziam uma fisionomia de quem não percebia tal atmosfera, mas tomavam o cuidado de não contundir o clima característico dessa época.

No centro velho da cidade de São Paulo, algumas casas que vendiam brinquedos expunham na vitrine um presépio e um gramofone que tocava as músicas natalinas.

Quando chegava a noite de Natal, as famílias começavam a se dirigir em grupos para a igreja. Elas caminhavam devagar e em paz, na noite com as ruas vazias. No interior da igreja, uma luz forte iluminava a rua cada vez que se abria a porta. Ouviam-se alguns cânticos de Natal, tocava-se o sino e iniciava a Missa.

Tinha-se a sensação de uma graça que vinha do alto. Era uma graça tal, que enchia a pessoa de duas disposições de espírito, que parecem incompatíveis, mas que convivem maravilhosamente: a noção recolhida, humilde e enlevada do sublime, e a doçura de quem recebe uma misericórdia sem limites.

Talvez de nada da minha infância eu tenha tantas saudades quanto desse aroma e graça de Natal.


Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 5 de janeiro de 1989. Sem revisão do autor.

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