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Ateus, mas adoram o demônio

Georges Charles Huysmans (1848-1907)
Georges Charles Huysmans (1848-1907)

Na transição do século XIX para XX, um conhecido escritor francês estava curioso para ver uma cerimônia satânica de missa negra, e conseguiu que um amigo o levasse ocultamente para presenciar o que se passava em um desses antros secretos. Durante a cerimônia sacrílega, chamou-lhe a atenção o empenho, a fúria, a obstinação dos participantes competindo entre si para ofender e espezinhar a hóstia consagrada. O raciocínio dele foi simples e perfeito:

— Não é racionalmente possível tanto ódio contra um pedacinho de pão. Se eles fazem isso, é porque sabem e acreditam que ali está muito mais do que pão. Eles o ofendem, desafiam, pois sabem que não reagirá. Demonstram assim um poder ilusório, prometido por quem eles julgam detentor de poder maior.

Em viagem pouco depois disso, a graça divina conduziu o escritor a encontrar Mugnier, sacerdote à moda antiga, zeloso pela salvação das almas. Ele esclareceu pacientemente todas as dúvidas e lhe deu atenção diligente durante o processo de conversão. Em 1907, pôde apresentar a Deus a alma de Georges Charles Huysmans [foto], que falecera com 59 anos como oblato de um mosteiro. Todo o seu processo de conversão está relatado por ele mesmo em suas últimas obras: Là-bas; En route; La cathédrale; L’oblat; Les foules de Lourdes.

Outro fato semelhante se deu com uma dama da corte, que não só assistiu mas também participou ativamente de uma missa negra. Madame Montespan desejava tornar-se a concubina favorita de Luís XIV, e para isso expôs o próprio corpo no altar de uma missa negra. Conseguiu o que queria, mas depois se arrependeu e passou os últimos anos de vida como penitente em um convento.

Se lhe interessam exemplos de quem escolhe essa via para obter fama, dinheiro, leia sobre a vida de ídolos do rock, onde missas negras e outros cultos satânicos comparecem aos montes. Também não faltam entre as sumidades do Vale do Silício, entre os magnatas endinheirados, entre políticos famosos ou famigerados. A propósito destes, foi anunciado o lançamento de um livro de Rosane Malta, ex-mulher de Collor, relatando rituais de magia negra na casa da Dinda. Pesquise um pouco na vida dos engalanados colegas e parceiros desses, e não lhe faltarão surpresas espantosas. Em nível mundial, está em pleno curso uma propaganda de cultos satânicos como a missa negra, e gente “esclarecida” dentro de universidades dedica-se a isso.

Para quem, como eu, nasceu em família católica e passou toda a vida em meios católicos, é difícil compreender que pessoas mentalmente sadias não acreditem na existência de Deus. Mais ainda, que muitos desses disponham-se a praticar cultos satânicos onde explicitamente se adora o demônio. São ateus porque não querem prestar culto a Deus, mas aderem às piores abominações para cultuar esse outro “deus”. É possível imaginar posição mais contraditória?

Qual motivo os leva a isso? Melhor seria perguntar quais motivos. São muitos e de características as mais diversas, movendo as pessoas por meio de inúmeras atrações ou repulsas. Uns podem ter como objetivo tornar-se ricos ou famosos, por exemplo; outros podem julgar dura demais a sentença deganhar o pão com o suor do próprio rosto. E assim por diante, quase ao infinito.

Variam os motivos, mas os caminhos confluem para dois objetivos situados nos pontos extremos de uma estrada: de um lado Deus, do outro o demônio; no ponto mais alto o bem, no mais baixo o mal; o convite suave de Deus na extremidade sadia, na outra a insistência agressiva do demônio. Nenhum dos dois se manifesta diretamente, e sim por meio de pessoas, coisas, sensações, atrações, punições e prazeres diversos.

O processo de descida ao abismo satânico pode começar pelo consentimento a um desejo veemente proibido por um Mandamento, portanto vedado aos amigos de Deus. A tentação pode ser vencida, devolvendo a tranquilidade à alma, e sucessivas vitórias consolidam a fidelidade a Deus e a felicidade de situação. Uma transgressão ao Mandamento pode ser seguida de arrependimento e retorno ao caminho do bem. Mas o mais provável é essa transgressão tornar-se o primeiro passo para outras, reforçando a adesão aos inimigos de Deus e tornando cada vez mais difícil o retorno. O demônio exige cada vez mais, oferecendo cada vez menos.

De degrau em degrau até o extremo do processo, qualquer tipo de culto satânico se torna possível e até provável. Chega-se ao fundo do abismo, e là-bas (lá longe, bem no fundo) completa-se o “caminho fácil” de adoração ao demônio. Este nem se dá a conhecer, mas poucos resistem às suas ofertas. Não voltam ao caminho de Deus na condição de penitentes, ao contrário de Huysmans e Montespan. A grande maioria aceita parcial ou totalmente as exigências do demônio, podendo incluir ou não os cultos satânicos. Ele conhece o caminho mais adequado a cada vítima.

As primeiras derrapadas geralmente conduzem a pessoa a ficar descrente, porque Deus não ajuda, só proíbe. Em seguida começa a procurar facilidades, com a ajuda de quem parece amigo de outro “todo-poderoso”. Daí a fazer pacto com ele e ceder em tudo o que ele quer, inclusive a adoração explícita, é só questão de tempo. Muitos percorrem o caminho de volta, mas infelizmente a maioria não retorna.

De pecador a inimigo de Deus, depois amigo e adorador do demônio, o caminho do ateu pode ser curto ou longo, rápido ou demorado, mas está aberto a qualquer um que nele entre e aí permaneça voluntariamente.

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