No último Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), o ditador comunista de Cuba,FidelCastro, foi agraciado com o título de “Presidente Honorário” da entidade. A UNE não usa métodos democráticos e se distancia cada vez mais dos estudantes! Manifesto da Frente Universitária Lepanto lançado em agosto de 1999 questionando a representatividade da UNE para falar em nome dos estudantes.
Histórico e Objetivo
O Jornal do Brasil (2-7-99) publicou que a União Nacional dos Estudantes havia concedido o título de “Presidente Honorário” da entidade a Fidel Castro, presidente “vitalício” de Cuba.
No dia 6 de julho, a Folha de S. Paulo noticiou que esta já foi a quinta eleição consecutiva vencida pela chapa ligada ao PC do B. O título da matéria não deixa margem a dúvidas quanto à posição dos atuais dirigentes da entidade, que percebem como suas idéias estão distantes dos demais estudantes: “UNE recusa proposta de eleições diretas”.
Diante desses fatos, a Frente Universitária Lepanto julgou conveniente apresentar algumas reflexões sobre a representatividade de uma organização, que diz falar em nome dos estudantes, mas os “representa” em função de uma ideologia nitidamente socialista, recusando-se a ouvir os anseios dos demais estudantes, seus “representados”.
Fidel Castro: Tirano ou Libertador?
Há várias décadas que nossa geração vem sendo bombardeada por uma campanha tentando esconder os horrores do sistema comunista cubano. A todo momento chegam-nos informações parciais sobre a realidade de Cuba, onde a medicina e a educação são elogiados até o esquecimento das torturas dos presos políticos.
Recentemente, pessoa ligada aos cubanos no exílio escreveu-nos pedindo nosso apoio ao povo de seu país contra a ditadura de Fidel Castro. Em solidariedade a esta pessoa, transcrevemos em nosso boletim Post-modernidade, número 4, o relato de Armando Valladares, que passou 22 anos nas masmorras cubanas. Era o Natal de 1960 quando o ‘regime libertador’ mandou encarcerar o jovem poeta de 23 anos de idade. Seu crime: não concordar com a ideologia comunista!
Em sua entrevista, Armando Valladares narra os horrores pelos quais passou durante esse tempo. Dizia ele: “Meu povo está subjugado na mais negra miséria. Torturam-se pessoas e um quinto da população fugiu por razões políticas. O povo cubano vive esperando o abraço solidário dos mandatários ibero-americanos. Estes, porém, o negam às vítimas e o oferecem ao carrasco.”
Em outro momento, narrando como havia resistido ao “Programa de Reabilitação Política”, ele desabafa: “Em meio a tantos sofrimentos, e quando via serem levados ao “paredón” de fuzilamento tantos de meus companheiros de cárcere, que morriam bradando “Viva Cristo Rei”, compreendi, como numa súbita revelação, que Cristo não era para ser invocado apenas para pedir que não me matassem, mas também para dar à minha vida, e inclusive à minha morte, se isto acontecesse no cárcere, um sentido que as dignificasse.”
Com o objetivo de alertar os estudantes sobre a realidade cubana e de se solidarizar com um povo subjugado por uma tirania aparentemente “simpática”, a Frente Universitária Lepanto imprimiu e distribuiu, na ocasião, a entrevista de Armando Valladares.
Como resposta, recebemos mais de 100 e-mails, provenientes do mundo inteiro, de cubanos agradecidos pela publicação. Não houve um cubano que discordasse do que havíamos escrito.
Entretanto, alguns adeptos do socialismo internacional, muito mais interessados em defender sua ideologia ultrapassada do que em conhecer os fatos, procuraram desvirtuar o nosso Boletim. Recebemos cerca de 11 e-mails defendendo Fidel Castro. Quase todos não se preocuparam em ler o artigo por inteiro e não pouparam “elogios” à nossa posição, nem sempre de maneira educada… Aliás, parece ser costume dos defensores do socialismo a atitude não muito respeitosa para com seus adversários.
“Viva Cristo Rei!”: Estudantes Martirizados em Cuba
A implantação do comunismo em Cuba traz-nos à memória alguns fatos muito significativos e muito silenciados pela imprensa internacional.
Durante décadas, estudantes católicos foram martirizados em Cuba pela sua resistência heróica ao regime socialista de Fidel Castro, que estava sendo imposto sobre a população cubana. Nesses estudantes, resplandecia o verdadeiro brilho da juventude, a qual, como assinalou Paul Claudel, “não foi feita para o prazer, mas sim para o heroísmo”.
Eles foram heróis de sua pátria, levados ao ‘paredón’ por defender sua fé na Igreja e a liberdade de seu povo. Caminhavam para a morte com o passo do guerreiro que aceita a imolação de sua vida por um ideal mais nobre e mais elevado. Morreram bradando “Viva Cristo Rei”, demonstrando a incompatibilidade total entre a doutrina católica e o comunismo ateu e materialista.
Agora, como pode uma entidade que se diz defensora dos estudantes, ser indiferente ao clamor de um povo por sua liberdade e ao sangue de tantas pessoas, muitas das quais estudantes como eles, mortas no ‘paredón’?!
A UNE está procurando legitimar e exaltar o regime totalitário de Fidel Castro, negando apoio aos estudantes martirizados e às centenas de milhares de cubanos exilados.
UNE: união dos estudantes ou ala jovem do PC do B?
Qual é a finalidade de uma união nacional de estudantes? Defender o regime cubano ou discutir assuntos pertinentes ao universo acadêmico e estudantil? Eis um dos problemas centrais neste debate.
Não queremos, com isso, afirmar um distanciamento dos problemas nacionais, que dizem respeito aos estudantes. Nos referimos à postura ideológico-partidária da UNE, que tem sido um instrumento nas mãos de certos movimentos políticos, comprometidos com um partido específico e não com o conjunto dos estudantes.
Nesse meio século de atuação política, a UNE notabilizou-se por seu “engajamento social e político” em questões alheias ao universo dos estudantes, raramente consultados sobre suas deliberações.
A falta de legitimidade dos estudantes profissionais da política
Mas, objetaria um simpatizante da UNE: “Eles foram eleitos pelos delegados de cada universidade. Quem não está satisfeito com o rumo da organização, que concorra às eleições”.
Ora, será que é tão simples? Quantos alunos conhecem os procedimentos eleitorais para fazer parte do “órgão máximo” dos estudantes? Na grande maioria das entidades de ensino, ninguém sabe como são realizadas as eleições… Basta perguntar para qualquer estudante quantas vezes ele escolheu o presidente da UNE – ou mesmo um delegado, representante, participante a qualquer título, simples observador – que estivesse presente nos Congressos da UNE.
Apenas uma pequena minoria, que faz do estudo uma profissão e da política seu objetivo, é que conhece os trâmites burocráticos dessas ‘eleições’ indiretas.
Esse pequeno núcleo de estudantes “politicamente corretos” e “socialmente engajados” é que realiza as eleições, transferindo o poder entre eles e mantendo a hegemonia de um partido político sobre o conjunto dos estudantes. Na grande maioria dos casos, quase nenhum estudante toma conhecimento das atividades de seus “representantes”.
Em nenhum país do mundo o socialismo se implantou por meios democráticos. No Brasil, não é exceção. Se há uma acusação que não podemos fazer em relação ao PC do B é de desconhecer a história do socialismo…
Por que essa minoria de dirigentes da UNE (ligada ao PC do B) tem tanto interesse em manter as eleições indiretas na entidade máxima dos estudantes? Será por simplificação, para facilitar ou processo “democrático”?
Ou será que temem perder o controle da entidade?
A pergunta está feita, que responda a UNE!
UNE: aparência, realidade e representatividade
No apoio a Fidel Castro transparece a verdadeira face de um movimento que diz representar os estudantes, mas que se afasta cada vez mais de sua finalidade. Sua vinculação com o PC do B, suas atitudes ante a política nacional e internacional, sua afinidade ideológica com regimes ultrapassados, seu apoio ostensivo aos partidos de esquerda acabam por comprometer a representatividade de um movimento dito estudantil, mas que utiliza-se dos estudantes para alcançar seus objetivos partidários.
Quantos de nós se sentem representados, verdadeiramente, pela UNE?
Quantos de nós apoiamos as torturas perpetradas por Fidel Castro?
Quantos estudantes são partidários da ideologia socialista vigente em Cuba?
Quem os autorizou a utilizar o nosso nome em apoio ao regime socialista de Fidel Castro?
Nós não fomos consultados!
Dizia Nosso Senhor Jesus Cristo: “A lâmpada do corpo é o olho. Portanto, se o teu olho estiver são, todo o teu corpo ficará iluminado; mas, se o teu olho estiver doente, todo o teu corpo ficará escuro. Pois se a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão as trevas!” (Mt 6, 22-23).
Alguns de nossos leitores, simpatizantes de Fidel Castro, da UNE ou do igualitarismo socialista, certamente não aceitarão a nossa posição. Provavelmente, grande parte desses leitores contrários não se dará ao trabalho de ler este manifesto, tentando colocá-lo no ridículo ou retirar-lhe a importância.
Não foi para esses que escrevemos, mas para aqueles que, silenciados diante de tanta confusão, ainda têm olhos para discernir os rumos da História. Foi para esses que constituímos a Frente Universitária Lepanto e é para eles que dirigimos o convite de refletir conosco sobre o presente tema.
A omissão de Pilatos, o “politicamente correto”
“O juiz que cometeu o crime profissional mais monstruoso de toda a história, não foi a ele compelido pelo tumultuar de nenhuma paixão ardente. Não o cegou o ódio ideológico, nem a ambição de novas riquezas, nem o desejo de comprazer a alguma Salomé. Moveu-o a condenar o Justo, o receio de perder o cargo, parecendo pouco zeloso das prerrogativas de César; o medo de criar parasi complicações políticas, desagradando ao populacho judeu; o medo instintivo de dizer “não”, de fazer o contrário do que se pede, de enfrentar o ambiente com atitudes e opiniões diferentes das que nele imperam” (Via Sacra, Plinio Corrêa de Oliveira, Catolicismo, No 3, março de 1951).
A Frente Universitária Lepanto roga à Santíssima Virgem, Medianeira universal de todas as graças, que interceda para que os “olhos” de muitos “cegos” se abram diante da evidência dos fatos e para que a omissão de Pilatos não se repita em relação ao povo cubano e à tirania de Fidel Castro.
Que os estudantes se unam, sim, mas para a defesa dos valores mais altos e mais nobres. As falsas ideologias mudam com os ventos da História. E, diante da História, só há uma alternativa: fazê-la ou passar à sua sombra.
Brasília, agosto de 1999
Frente Universitária Lepanto
E-mail da Sra. Sylvia Iriondo sobre Cuba: antes e depois de Fidel Castro
Este e-mail foi enviado em resposta a uma simpatizante do regime cubano, que havia escrito para a Frente Universitária Lepanto. A resposta foi escrita, de forma espontânea, pela Sra. Sylvia Iriondo, cubana, no dia 22/6/99.
Estimado Sr. V:… estimo que é importante que conteste à Sra. S. com a realidade cubana. Ela ouviu todos os mitos da “revolução” e do “homem novo”, propagados pelo regime castrista e apoiados por muitos interesses no nível internacional. A história é como segue:
Antes de Fidel Castro, havia prostituição em Cuba… em bairros específicos, e haviam leis para essas casas de prostituição. Normalmente, era um ofício que não motivava muitas mulheres. Depois do triunfo da “revolução”, Fidel Castro converteu Cuba, desde “pinar del rio” até o oriente, de ponta a ponta, em um prostíbulo para turistas e como meio de atrair moeda forte à decrépita e inoperante economia da “revolução”.
Em Cuba, antes de Fidel Castro, havia educação pública. A educação é outro dos mitos de Fidel Castro e seu regime. Saiba a Sra. S. que desde que as crianças nascem, o regime de Castro faz um ‘carnet’ onde marcam a vida da criança, se está integrada aos ideais do regime, se é um ‘pionerito’, e que obrigam às crianças, em troca desta educação ‘gratuita’ a cortar cana no campo… e que o estado comunista tem o pátrio poder sobre a criança, e não seus pais? Incrível custo a educação ‘gratuita’ de Fidel Castro e seu regime.
Em Cuba, quase todos os hospitais que existem atualmente foram construídos antes do ano 1959, data em que Fidel Castro e seu regime se apoderaram do país. Os turistas têm acesso à saúde, médicos e hospitais. Sem embargo, o povo de Cuba não tem o mesmo acesso. … porque esta (a saúde cubana) está reservada para aqueles estrangeiros que deixam os preciosos dólares para fortalecer o regime castrista em sua permanência no poder.
O outro mito do regime é que o embargo é a causa do sofrimento do povo cubano. Este é o maior dos mitos. Castro pode comprar e comercializar com todos os países do mundo livremente, menos com os Estados Unidos, os quais têm sanções econômicas contra o regime. O que passa é que os recursos do regime, em vez de serem empregados para o bem do país e seus cidadãos, são usados para manter no poder o comandante e sua ‘elite’, exportar a guerrilha (sobre tudo na América Latina, como foi provado uma e outra vez e cujas horríveis conseqüências estamos vendo diariamente), comercializar com o narcotráfico, produzir meios para guerras bacteriológicas (como foi amplamente informado na imprensa), reprimir o povo e propagar internacionalmente toda essa ‘sarta’ de mentiras a ouvidos surdos ao clamor de um povo pela sua liberdade e seus direitos, a indivíduos que preferem – ou lhes convém – crer nessas mentiras.
Saiba a Sra. S que a maior quantidade de divisas que entram em Cuba (calculadas em $800,000 milhões) são enviadas por exilados cubanos e que a maior quantidade de ajuda humanitária provém dos Estados Unidos a Cuba? O que passa em Cuba, sim é culpa de Fidel Castro e de seu regime.
É certo que em quarenta anos de ditadura e tirania, Fidel Castro e seu regime fuzilaram, encarceraram, reprimiram, torturaram, submetendo homens e mulheres cubanos, cometendo crimes contra a humanidade e violando todos os direitos humanos de um povo.
Atualmente, de ponta a ponta da ilha, se está fazendo uma greve de fome de quarenta dias, por opositores pacíficos, pedindo a liberdade dos prisioneiros políticos e o respeito aos direitos humanos.
No dia 13 de julho de 1994, lanchas patrulheiras do regime castrista, sob as ordens do comandante Castro, investiram contra um rebocador carregado de homens, mulheres e crianças que tentavam escapar de Cuba em busca de liberdade. Diante dos gritos de–sesperados de mães com bebês nos braços, os “novos homens” da revolução empunharam mangueiras de água de alta pressão, arrancando, literalmente, os filhos dos braços de suas mães. Enquanto caiam na água e gritavam, as mesmas patrulhas, na escuridão da noite, faziam círculos em redor deles, criando um redemoinho de água que tragou a vida de 41 homens, mulheres e crianças, que jazem no fundo do mar. Milhares e milhares de cubanos deixaram a ilha cruzando o mar no estreito da Flórida em qualquer coisa que flutue em uma busca desesperada de liberdade.
Em 24 de fevereiro de 1996, três pequenos aviões civis de ‘hermanos al rescate’, em uma missão humanitária de salvamento de vidas, no estreito da Flórida, em águas internacionais, em busca de balseiros que perdem suas vidas no mar, dois ‘migs’ de castro, sob as ordens do comandante também, pulverizaram no ar dois desses aviões, assassinando, com premeditação e em plena luz do dia, a quatro jovens americanos e cubanos. Só um desses pequenos aviões pode regressar à base nesse dia. Eu o sei bem, pois meu esposo e eu fomos uns dos sobreviventes…
Sabemos da natureza criminal de um tirano e de seu regime. Lila (presidente da organização), por exemplo, pode te contar muito disto. Seu marido morreu nas areias da praia de ‘giron’ em 1961, lutando por liberdade, direito inalienável de qualquer povo. Ao mesmo tempo, fuzilaram maridos de outras diretoras de nossa organização e encarceraram a homens com penas de 16 e 22 anos.
Saiba a Sra. S. que existem, em Cuba, centenas de prisioneiros políticos e de consciência, e que prestigiosas instituições internacionais, como aComissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, Anistia Internacional, Pax Christi e muitas outras, condenaram a Fidel Castro e seu regime por violações dos Direitos Humanos de todo um povo, e informaram que em Cuba, a repressão, ao invés de diminuir, aumenta? Sabe ela que existem quatro opositores e dissidentes pacíficos – Marta Beatriz Roque Cabello, Félix Bonne Carcasses, Vladimiro Roca e Rene Gomez Manzano – encarcerados pelo mero fato de escrever um documento alternativo ao documento do partido comunista, intitulado “A pátria é de todos”?
É hora já de negar o “aperto de mãos” ao ditador Fidel Castro, e de estreitar um abraço solidário ao povo cubano.
Sim, há muita dor, e há muita indiferença à dor do povo cubano. Também desinformação. Sinto não poder seguir escrevendo. Tinha tantas outras coisas verídicas que contar. Porém, quando escrever à Sra. S., diga-lhe que veja a realidade cubana, que é muito diferente da exposta por ela, por desinformação ou por decisão. Um abraço e obrigado por defender os direitos de nosso povo.
Sylvia Iriondo.